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Após explosão de violência, situação continua tensa no Egito

10:53 | 07/07/2013
Após os últimos confrontos entre ativistas pró e contra Morsi, clima volta à normalidade nas ruas, mas não esconde tensão. Novas manifestações de massa já foram anunciadas. Há quem tema o início de uma guerra civil. Após a explosão de violência entre os partidários do presidente deposto Mohammed Morsi e opositores do fundamentalismo islâmico, a normalidade parece ter retornado às ruas do Cairo, embora haja um certo clima de tensão no ar. Em alguns dos principais pontos de transporte há presença reforçada da polícia ou mesmo do Exército, mas a maioria dos cafés e lojas está aberta. Famílias passeiam pelas calçadas e jovens casais espairecem às margens do rio Nilo, como se nada houvesse acontecido. Somente na Praça Tahrir se veem novamente aqueles que, nos últimos dias, estiveram nas linhas de frente das lutas sangrentas contra a Irmandade Muçulmana. São principalmente jovens das classes pobres; a classe média alta se faz quase ausente no foco de protesto, onde nasceu a revolução egípcia. Reações ambivalentes As reações à recente onda de violência são variadas. Alguns a veem como um fenômeno passageiro, que desaparecerá dentro de uma ou duas semanas. Porém, outros temem novos confrontos graves. "Fiquei muito triste com o que aconteceu ontem", comenta Abier, de 33 anos, referindo-se aos choques da sexta-feira e sábado (06/07), que deixaram quase 40 mortos. "Acho que agora os egípcios vão se combater como numa guerra civil. Foi horrível." Muitos têm esperança que policiais e militares consigam conter os fundamentalistas religiosos propensos à violência. Entretanto, sem perspectiva de serem integrados ao futuro sistema político do Egito, a probabilidade maior é de que parte deles se radicalize. Até o momento, foram vãs as tentativas de diálogo do presidente interino, Adli Mansur, com a Irmandade Muçulmana. De qualquer modo, o que mais se ouve, partindo da tribuna instalada na Praça Tahrir, são ataques contra os islamistas. Um dos oradores insta os espectadores que impeçam a vinda ao Cairo de todo e qualquer membro da Irmandade, em seus círculos familiares ou de amigos. Isso, porque as manifestações dos muçulmanos radicais só têm alcançado suas enormes proporções graças ao afluxo de correligionários das províncias. Antiamericanismo e nacionalismo Paralelamente aos ataques aos fundamentalistas islâmicos, o que mais move o público na praça no centro da capital é um nacionalismo ilimitado, em combinação com antiamericanismo. "Não quero que estrangeiros se metam em assuntos do Egito", comenta o manifestante Ahmed. "Principalmente os Estados Unidos: eles têm que tratar os egípcios de forma justa. É melhor se darem conta disso." Sem parar, são tocadas canções exaltando o amado Egito. Os ativistas cantam junto, eufóricos, em geral empunhando a bandeira nacional. Os brados de "Alá é grande" também são constantes. Assim, procura-se deixar claro que a Irmandade não é representativa do Islã. Confiança cega nos militares Atual sucesso de vendas na Praça Tahrir é o retrato do ministro da Defesa em exercício, Abdel Fattah al Sisi. O preço, equivalente a 25 centavos, é acessível a todos. Para boa parte dos manifestantes, as Forças Armadas se transformaram quase numa forma de religião. Aqui não há lugar para dúvidas quanto à integridade dos militares. Por que, na véspera, o Exército não interveio, bloqueando a ponte pela qual os islamistas chegavam até a Praça Tahrir? O técnico de informática Magdy se esquiva da pergunta. "É certo que os militares só chegaram tarde. Mas o Exército está espalhado por todo o Egito, ele não pode estar em todo lugar, no momento em que se precisa dele. Mas as próprias pessoas se defenderam." Apesar de toda a reverência diante das Forças Armadas, o que a maioria dos manifestantes quer agora são eleições democráticas. E a maioria também deseja que os fundamentalistas tomem parte delas. Mas isso só será possível se a violência não retornar. Pois as próximas passeatas de massa já estão anunciadas.

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