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Violência em protestos contra Erdogan preocupa turcos na Alemanha

16:37 | 05/06/2013
Acompanhando à distância, comunidade turca e seus descendentes se mostram apreensivos com turbulência no país. Uns se informam através de parentes, outros optam por viajar para ver de perto as manifestações. Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas novamente em várias cidades turcas na noite desta quarta-feira (05/06), pela sexta vez consecutiva. E, novamente, policiais usaram canhões de água e bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes. Apesar disso, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou, durante visita ao Norte da África, que tem a impressão de que a situação na Turquia está se acalmando gradualmente e que os "problemas" estarão resolvidos quando retornar, nesta quinta-feira. Erdogan está enfrentando os mais graves protestos de seu mandato. No entanto, ele está fora do país, observando o desenrolar dos protestos de longe, do mesmo jeito que a grande população turca na Alemanha a maior fora da Turquia. A berlinense descendente de turcos Berrin Alpeck gostaria de ver os protestos mais de perto. Ela diz que muitos conhecidos e parentes vêm participando das manifestações. "Durante o dia, eles vão trabalhar normalmente. E à noite vão para as passeatas", conta Berrin, que diz compreender a raiva do povo. "Eles vão à rua lutar por sua liberdade, por seus direitos democráticos. As pessoas na Turquia se sentem monitoradas e restringidas." Autocensura na mídia Ufuk Yaltirakli diz que também entende esses sentimentos. O melhor exemplo são os meios de comunicação turcos. Yaltirakli vê muita televisão turca, mas inicialmente não conseguia acompanhar muita coisa sobre os protestos. Muitos meios de comunicação aparentemente se autocensuram, por medo de interferência do governo. "Enquanto a americana CNN informava sobre os protestos, a CNN turca passava um documentário sobre animais!", lembra, indignado. Já o presidente nacional da Comunidade Turca na Alemanha, Kenan Kolat, pôde acompanhar os protestos dos últimos dias no local diretamente e sem censura. "Eu vi muitas coisas. Primeiro, uma manifestação pacífica de dezenas de milhares de pessoas, que participaram pela primeira vez em sua vida de uma manifestação", afirma, ressaltando que pela primeira vez as pessoas estavam indo às ruas em grandes multidões e não em grupos isolados. Ele diz que os protestos lembravam as manifestações alemãs contra o projeto Stuttgart 21, obras milionárias de construção de uma estação de trem na cidade. E os protestos turcos também começaram com um projeto urbano. Na área do parque Gezi, no centro de Istambul, deve ser reconstruído um quartel histórico que estava no lugar originariamente, incluindo cafés, museus e, possivelmente, um centro comercial. Ambientalistas consideram a iniciativa uma ameaça a um dos últimos espaços verdes da cidade e foram às ruas por causa disso. A polícia respondeu com dureza. E, como resultado, os protestos se espalharam e se ampliaram. Os manifestantes agora tornam pública sua aversão ao que consideram um estilo excessivamente autocrático do governo Erdogan, o acusando de querer impor seus valores religiosos conservadores em toda a Turquia. Um exemplo seria a tentativa de limitar ainda mais a venda de bebidas alcoólicas no país. Apelos ao governo alemão Kenan Kolat se mostrou visivelmente comovido com as impressões que ele teve na Turquia dos últimos dias e critica duramente a dureza com que a polícia agiu durante protestos, lançando mão de canhões de água e gás lacrimogêneo. "Eu experimentei isso na própria carne, não conseguia respirar, por causa do gás lacrimogêneo", lembra. Seu vice, Hilmi Kaya Turan, que estava com ele na Turquia, foi até ferido na panturrilha por um projétil de uma arma de gás lacrimogêneo. Kolat deseja palavras mais claras em direção a Erdogan por parte da União Europeia e do governo alemão. Ele considera insuficiente o pedido de desculpas feito pelo vice-primeiro-ministro turco na terça-feira às vítimas de violência policial. Ele pede, ainda, que primeiro os responsáveis da polícia sejam punidos para, só então, ser criada uma base para as discussões entre as partes conflitantes na Turquia. Bekir Yilmaz, presidente da Comunidade Turca em Berlim, também se diz preocupado com a violência. No entanto, ele acredita que os protestos são incitados por grupos oposicionistas de esquerda para derrubar o governo. "Um governo que foi eleito com mais de 50% dos votos", diz ele. "De uma forma democrática, eles não conseguem superar o governo e tentam agora de uma maneira diferente. Esse movimento, que começou de forma pacífica, está sendo usado por esses grupos", avalia Yilmaz, acrescentando ser necessário reconhecer que o governo de Erdogan promoveu o progresso do país nos últimos dez anos e é apoiado pela maioria da população. Mas Yilmaz também não acha correto o modo com que o primeiro-ministro Erdogan respondeu ao movimento de protesto. O chefe de governo rejeitou de forma brusca todas as demandas dos manifestantes e disse que forças estrangeiras estavam por trás dos protestos. Ele acredita que mesmo um governo com 50% dos votos tem que ouvir todos os grupos e contribuir para que sociedade conviva de forma pacífica.

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