UE decide retomar negociações sobre adesão da Turquia
Ministros do Exterior da União Europeia decidem abrir novo capítulo nas negociações de adesão, mas somente em outubro. Questão síria segue dividindo os países-membros.
Até há pouco tempo, a Turquia esperava iniciar um novo capítulo nas negociações de adesão à União Europeia (UE) ainda nesta quarta-feira (26/06), o que seria o primeiro avanço desde 2010.
Mas a violenta reação do governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan às manifestações em seu país arrefeceu as relações turco-europeias. Alemanha, Áustria e Holanda defendiam que, diante das atuais circunstâncias, as negociações de adesão não deveriam ser retomadas. O contrário poderia ser interpretado como uma aceitação tácita das políticas de Erdogan.
O assunto foi debatido no encontro dos ministros do Exterior da União Europeia, que começou nesta segunda-feira em Luxemburgo. O secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Anders Fogh Rasmussen, também esteva presente. Ele exigiu da Turquia parceiro na aliança que respeite os princípios democráticos básicos e permita manifestações pacíficas e o direito de as pessoas expressarem livremente opiniões políticas.
Apesar de todas as ressalvas, os países do bloco europeu chegaram a um acordo nesta terça-feira e decidiram que as negociações serão retomadas, mas somente daqui a alguns meses. Segundo o Ministério alemão do Exterior, essa sugestão teria vindo da Alemanha.
Pela decisão, um novo capítulo das negociações para a adesão da Turquia será aberto em outubro, depois da divulgação de um novo relatório da Comissão Europeia sobre a situação no país. Trata-se do capítulo 22, referente às políticas regionais. Esse é o 14º capítulo aberto, de um total de 35. Apenas um foi concluído.
O ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, avaliou o resultado, de acordo com um porta-voz, como "uma boa decisão numa situação difícil".
Jean Asselborn, colega de pasta luxemburguês de Westerwelle, já havia afirmado que, com a solução de adiar a conferência de adesão para um período posterior ao relatório da Comissão Europeia sobre o desenvolvimento da situação na Turquia, o que deve acontecer em outubro, a UE mostraria, por um lado, que continua interessada nas negociações com Ancara, mas ao mesmo tempo reagiria aos recentes acontecimentos.
Capítulo aberto
Segundo diplomatas alemães, Westerwelle, que lançou a sugestão, teria conversado com o ministro do Exterior da Turquia, Ahmet Davutoglu, sobre o assunto na noite de segunda-feira. Em Ancara, Davutoglu afirmou que seu país não via nenhum obstáculo para a abertura de um novo capítulo de negociações e que esperava uma solução positiva.
A duras críticas da Alemanha ao governo da Turquia, após a repressão aos protestos no país, irritou o governo em Ancara e provocou uma tensão diplomática entre os dois países. Apesar da posição dura do governo em Berlim, Westerwelle já havia sinalizado uma disposição de acordo. O ministro alemão afirmou ser evidente que "não devemos cortar nem encurtar os laços de conversações com a Turquia".
Davutoglu demonstrou satisfação com a decisão dos países-membros da União Europeia: "O capítulo 22 foi aberto, essa questão foi resolvida". Também o comissário de ampliação da UE, Stefan Füle, saudou através do Twitter a notícia do acordo em torno da adesão da Turquia
A Turquia empreende conversações de adesão com a União Europeia desde outubro de 2005. De um total de 35 capítulos de negociações, até agora só o capítulo Ciência e Pesquisa foi provisoriamente encerrado.
O principal ponto de conflito é a questão do Chipre. O governo em Ancara se recusa a abrir portos e aeroportos ao país, que faz parte da UE.
Síria é ponto de discórdia
Já o tema Síria ainda é motivo de discórdia entre os países da UE. O consenso que reinava entre os europeus foi quebrado há poucas semanas. Desde então, em princípio, qualquer país-membro da UE pode fornecer armas aos rebeldes sírios caso queira. O Reino Unido e a França pressionaram pelo fim do embargo. Mas agora justamente esses dois países se mostram calados, enquanto os críticos se sentem legitimados.
O ministro do Exterior da Áustria, Michael Spindelegger, afirmou que o fornecimento de armas seriam "uma reviravolta na nossa própria política." Para ele, a UE é uma união pacífica e não deveria posicionar-se a favor de um dos lados do conflito por meio do fornecimento de armas.
Asselborn argumentou de maneira semelhante. "Se todos respeitassem realmente o que havíamos decidido na UE, ou seja, um embargo de armas, essas atrocidades não estariam mais acontecendo na Síria", disse.
Westerwelle também questiona a eficácia de um fornecimento de armas: "Não vamos levar para a Síria uma paz duradoura e uma democracia por meio de uma solução militar. Ou teremos uma solução política ou nenhuma solução."
No momento, a impotência e a perplexidade reinam na União Europeia quanto à questão da Síria. Os governos apostam na planejada conferência de paz em Genebra. Mas ainda não está certo se ela realmente vai acontecer.