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Obama pede ação ao lançar plano de combate às mudanças climáticas

17:39 | 25/06/2013

WASHINGTON, 25 Jun 2013 (AFP) - O presidente americano, Barack Obama, apresentou nesta terça-feira, 25, um novo e abrangente plano nacional para combater as mudanças climáticas, usando os poderes do Executivo para contornar os céticos sobre o aquecimento global, que têm bloqueado avanços sobre a questão no Congresso do país.

Obama pediu novas restrições às usinas de energia existentes e a construção de outras menos poluentes para conter as emissões de carbono, comprometendo-se a incentivar uma nova geração de fontes de energia limpa e a liderar um esforço global para conter o aquecimento global.

Autoridades disseram que o plano permitiria aos Estados Unidos alcançar a meta de reduzir em 17% as emissões de gases causadores do efeito estufa até 2020 com base nos níveis de 2005, um compromisso assumido por Obama na conturbada conferência do clima realizada em 2009 na cidade de Copenhague.

O presidente argumentou que os americanos de todo o país já estão pagando o "preço da inação" contra as mudanças climáticas e considerou 2012 o ano mais quente da História da Humanidade, que levou seca às fazendas do coração dos Estados Unidos.

"Americanos de todo o país já estão pagando o preço da inação. Como presidente, como pai e como americano, estou aqui para dizer: nós precisamos agir", afirmou Obama, em um discurso na área externa da Universidade de Georgetown.

Obama disse não ter paciência com os céticos do clima, entre os quais estão muitos membros do Congresso, que rechaçam o argumento científico de que as emissões de dióxido de carbono contribuem para um aquecimento perigoso do planeta.

"Nós não temos tempo para uma reunião da Sociedade da Terra Plana", disse, referindo-se a um grupo de céticos que contesta o senso comum de que a Terra é redonda.

"Enfiar a cabeça na areia pode fazer com que se sinta mais seguro, mas não vai protegê-lo da próxima tempestade", afirmou.

"A questão é saber se nós teremos coragem de agir antes que seja tarde demais, e a forma com que responderemos (a isto) terá um impacto profundo no mundo que nós vamos deixar para os nossos filhos e netos", acrescentou.

O presidente americano também disse que o controverso projeto do oleoduto gigante Keystone XL no Texas, entre o Canadá e os Estados Unidos, só será aprovado se não gerar um aumento das emissões de gases de efeito estufa.

"Quero que fique claro: permitir a construção do oleoduto Keystone requer uma constatação de que fazê-lo seria de interesse da nossa nação", disse Obama.

"Nosso interesse nacional será atendido somente se o projeto não exacerbar de forma significativa o problema da contaminação de carbono", reforçou.

Espera-se que o presidente, a quem cabe tomar a decisão final sobre o oleoduto, aprove o projeto que se arrasta há tempos quando este chegar à sua mesa. O Departamento de Estado deve fazer uma recomendação definitiva sobre o projeto a Obama nos próximos meses. Mas em um relatório preliminar, publicado em março, a instituição concluiu que o oleoduto não causaria impactos importantes ao meio ambiente.

Os defensores do projeto, que levaria petróleo das areias betuminosas do Canadá à costa do Texas (sul dos Estados Unidos), afirmam que a obra terá um impacto mínimo sobre o meio ambiente.

Ambientalistas, no entanto, insistem em que o oleoduto provocaria o aumento da extração de areias betuminosas em Alberta (oeste do Canadá), um processo que, segundo eles, produz o petróleo "mais sujo" do planeta.

Na extração, as areias betuminosas precisam ser misturadas a água fervente para que possam ser retirados produtos derivados utilizáveis. O processo ainda envolve a queima de mais combustível fóssil, o que contribui para gerar mais emissões de gases responsáveis pelas mudanças climáticas.

O plano de combate às mudanças climáticas se baseia em uma abordagem tripla: reduzir as emissões de carbono nos Estados Unidos, mitigar o impacto das mudanças climáticas e buscar ação internacional para a mitigação.

Obama se comprometeu a retirar o apoio a usinas térmicas a carvão no exterior e acenou com a discussão a respeito de novas iniciativas junto aos grandes emissores, como Índia e China.

Ele determinou à Agência de Proteção Ambiental americana (EPA, que tem status de Ministério de Meio Ambiente) que elabore normas para impor novos padrões para as emissões de gases causadores do efeito estufa em usinas novas e existentes no país.

O plano requer US$ 8 bilhões em garantias de empréstimos para apoiar investimentos em tecnologias inovadoras e visa a um aumento de 20% em eficiência energética em edifícios comerciais, industriais e residenciais.

Alguns críticos à abordagem de Obama alertaram que o plano poderia resultar no desligamento de usinas a carvão mais antigas, consequentemente elevando os preços da energia elétrica para os consumidores, o que poderia, desproporcionalmente, afetar os mais pobres.

As autoridades rebatem afirmando que o plano reduzirá a quantidade de eletricidade usada, diminuindo as contas.

Os detalhes de grande parte deste plano não estão claros e muitas das novas regras de Obama poderiam parar na Justiça, o que atrasaria sua implementação.

O presidente estaria usando os poderes executivos de seu mandato, uma vez que o Congresso tem se recusado a agir, devido a um ceticismo generalizado a respeito da ciência sobre as mudanças climáticas e ao temor dos impactos econômicos relacionados aos esforços de mitigação.

Obama também estabeleceu como meta reduzir as emissões de carbono em três bilhões de toneladas até 2030, um número equivalente a mais da metade da poluição anual de carbono produzida pelo setor energético americano.

Os republicanos acusaram Obama de declarar uma "guerra ao carvão" que poderia resultar em regulamentações onerosas e metas ambientais irracionais para usinas de geração de energia.

Mas para o secretário de Estado americano, John Kerry, a proposta "terá impacto internacional" no que diz respeito ao compromisso dos Estados Unidos em combater as mudanças climáticas.

"Uma ação decisiva em casa nos dará poder para avançar mais internacionalmente em um desafio compartilhado", declarou Kerry em um comunicado divulgado durante visita ao Kuwait, grande produtor de petróleo.

Bob Ward, diretor de políticas e comunicações do Instituto de Pesquisas Grantham sobre Mudanças Climáticas e Meio Ambiente na London School of Economics, saudou a "liderança pessoal" de Obama.

Mas advertiu: "Sem o apoio do Congresso para uma nova lei federal, o presidente estará travando esta luta com uma mão amarrada nas costas".

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