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Aumento da tensão ameaça acirrar problemas econômicos na Turquia

11:12 | 10/06/2013
Com a intensificação dos protestos contra Erdogan, economia turca, que já enfrentava vulnerabilidade estrutural, começa a sentir os efeitos da instabilidade política. Economistas alertam que situação pode piorar. Um número cada vez maior de opositores ao governo Recep Tayyip Erdogan está cancelando cartões de crédito e retirando suas poupanças do GarantiBank, o terceiro maior banco da Turquia. Ele pertence, em grande parte, à empresa Dogus Holding, que, por sua vez, também controla a emissora de televisão NTV, um dos maiores canais de notícias da Turquia. E como em muitas outras emissoras turcas, nela quase não há relatos sobre os protestos no país. Há quase duas semanas, a insistência vem sendo a principal arma dos manifestantes turcos contra o governo nesta segunda-feira (10/06), eles ignoraram o discurso desafiador feito na véspera por Erdogan e continuaram acampados em diversas partes do país. Mas agora eles apostam também no boicote como arma para se fazerem ouvir. "De 35 milhões a 40 milhões de liras turcas [entre 14 milhões a 16 milhões de euros] foram retirados nas últimas semanas, e por volta de 1.500 cartões de crédito foram devolvidos", disse Ergün Özen, gerente-geral do GarantiBank. Na última semana, as pessoas protestaram diante de vários restaurantes pertencentes à Dogus Holding. Elas batiam palmas e clamavam "Kalk!" ("Levantem!"), tentando animar os clientes a deixar o local. Alguns reagiram e abandonaram os restaurantes. Impacto no turismo O clima continua tenso na Turquia. No domingo, a Praça Taksim, em Istambul, viu mais de 30 mil manifestantes se reunirem na maior manifestação já registrada contra o governo. O protesto foi uma resposta ao discurso de Erdogan, que advertiu que paciência tem limite e desafiou os manifestantes a conseguirem uma vitória nas urnas. Só faltam sete meses para as eleições locais. Quero que deem a eles [aos manifestantes] uma primeira lição nas urnas, disse o premiê na cidade de Adana. Enquanto cada vez mais manifestantes vão às ruas, cada vez menos turistas visitam o país. "Existe um impacto direto sobre o turismo", diz o economista Seyfettin Gürsel. "Mas ele é limitado a Istambul." Isso é sentido principalmente por lojas de souvenires, como a do comerciante Rifat Güzel. "Eu tenho que lidar com 85% a 90% de perdas. Os protestos são totalmente negativos para o meu negócio", disse Güzel, enquanto espera por clientes em frente à sua loja em Istambul. A economia como um todo vem sido afetada pela instabilidade na Turquia. O índice da Bolsa de Valores de Istambul atingiu o nível mais baixo desde o início de março, e o câmbio da lira turca frente ao dólar e ao euro caiu para a menor cotação dos últimos 18 meses. Para Seyfettin Gürsel, diretor da Faculdade de Economia da Universidade Bahcesehir em Istambul, os tumultos seriam parcialmente culpados pela situação. "Antes da crise, os investimentos diretos estrangeiros na Turquia eram muito altos. Eles financiaram a maior parte do deficit da balança corrente. Devido à crise, os investimentos diretos estrangeiros diminuíram", opina. Problemas estruturais No geral, porém, Gürsel afirma que se trata de um problema conjuntural. "O deficit da balança corrente é financiado principalmente pela emissão de obrigações, empréstimos de curto prazo e investimentos de curto prazo no mercado de ações. Isso também é uma forma de fraqueza estrutural", diz. Para o economista, a Turquia precisa de mudanças no setor econômico, como, por exemplo, uma abrangente reforma do mercado de trabalho e reformas fiscais. "Infelizmente, após a eleição do atual governo, tais reformas foram postergadas. Eu não tenho certeza se o governo está ciente desses problemas estruturais", afirma. Já o jornalista e economista turco Mustafá Sönmezdiz diz que a evasão de capitais já havia começado antes dos tumultos. "Os protestos só aumentaram a saída de capitais, porque eles têm um impacto sobre as condições de segurança e sobre as relações com a União Europeia e os Estados Unidos. Os investidores se sentiram perturbados pela agitação e se retiraram." O prognóstico de Sönmez é claro: se a violência continuar, e o governo não tomar uma medida para se aproximar dos manifestantes, a situação econômica da Turquia vai piorar ainda mais.

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