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AIE defende medidas urgentes para limitar aquecimento a 2ºC

"Se continuarmos na trajetória atual, o aumento da temperatura não será de dois graus, mas de 5,3 graus o que terá consequências desastrosas"

17:39 | 10/06/2013

PARIS, 10 Jun 2013 (AFP) - As temperaturais globais tendem a mais que dobrar a meta de aquecimento de dois graus Celsius, estabelecida pelas Nações Unidas, a menos que sejam adotadas medidas urgentes, alertou esta segunda-feira a Agência Internacional de Energia (AIE).

No relatório 'Redesenhando o Mapa Energia-clima', a AIE alertou que as emissões de dióxido de carbono (CO2) a partir do uso de combustíveis fósseis aumentou 1,4% no ano passado, alcançando o recorde de 31,6 bilhões de toneladas.

"Se continuarmos na trajetória atual, o aumento da temperatura não será de dois graus, mas de 5,3 graus (com relação à época pré-industrial), o que terá consequências desastrosas em termos de eventos climáticos extremos, de elevação do nível do mar, e acarretaria enormes custos econômicos e sociais", advertiu a diretora-geral da AIE, Maria van der Hoeven, durante apresentação do relatório em Londres.

A agência, com sede em Paris, exigiu ação dos governos, afirmando que a meta de 2ºC ainda pode ser alcançada com poucas perdas econômicas.

As Nações Unidas querem limitar o aquecimento global a dois graus em comparação aos níveis pré-industriais, em um cenário que os cientistas acreditam representar uma mudança climática manejável, evitando as intensificações de secas, tempestades, inundações e elevação do nível do mar previstos nos piores cenários.

"Muito mais pode ser feito para controlar as emissões do setor de energia sem pôr em risco o crescimento econômico, uma preocupação importante para muitos governos", afirmou.

O relatório da AIE foi divulgado no momento em que os países estão reunidos em Bonn, Alemanha, para a segunda semana de negociações sobre a elaboração de um pacto global para limitar as emissões de carbono, que seria assinado no final de 2015 com entrada em vigor em 2020.

"Mais uma vez somos lembrados de que há um abismo entre os esforços atuais e o engajamento necessário para manter o mundo abaixo da elevação da temperatura de 2ºC", afirmou de Bonn a encarregada de clima na ONU, Christiana Figueres, em um comentário sobre o relatório da AIE.

"Mais uma vez somos lembrados que o abismo pode ser fechado esta semana, com o uso de tecnologias comprovadas e políticas conhecidas, e sem afetar o crescimento econômico em nenhuma região do mundo", emendou.

Para alcançar a meta dos dois graus, a AIE, braço energético da OCDE, propôs medidas que permitirão reduzir em 3,1 gigatoneladas as emissões de gases de efeito estufa antes de 2020, ou seja, 80% da economia almejada com a meta de dois graus.

Estas medidas "não permitem alcançar (totalmente) a meta de dois graus, mas nestes tempos de dificuldades econômicas, farão um bom trabalho", justificou o economista em chefe da AIE, Fatih Birol, durante entrevista coletiva.

Esta perspectiva, batizada "4º para 2º" (graus Celsius), não deverá ter impacto negativo no crescimento econômico e se apoia unicamente nas tecnologias existentes e já aplicadas com êxito em vários países.

O primeiro pacote de medidas, que equivale à metade das reduções de emissões contempladas, consiste em multiplicar os esforços de eficácia energética na construção, no transporte e na indústria. Seu custo seria mais do que

compensado pelas economias de energia alcançadas, segundo as projeções da agência.

A segunda proposta consistiria em limitar a utilização e a construção de centrais elétricas de carvão de baixo rendimento, extremamente poluentes, e aumentar o uso de gás e energias renováveis.

A terceira via consiste em reduzir as emissões de metano (gás liberado na decomposição de matéria orgânica e um dos principais causadores do efeito estufa) da indústria petroleira e gasífera.

Por fim, a AIE pede a supressão gradual dos subsídios ao consumo de combustíveis fósseis vigentes em vários países.

Segundo cálculos da agência, se os países não decidirem agir agora para cumprir a meta de dois graus, economizarão 1,5 trilhão de dólares, mas alcançar a mesma meta custaria aos Estados US$ 5 trilhões em 2020.

"A questão não é se podemos permitir fazer os investimentos necessários. O fato é que não podemos nos permitir esperar", advertiu Maria van der Hoeven.

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