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Sociais-democratas da Europa e América Latina seguem rumos diferentes

10:11 | 26/05/2013
Na década de 1970, política social-democrata europeia investiu na expansão pela América Latina, apoiando líderes como Lula. Após anos de cooperação, companheiros dos dois continentes agora seguem caminhos distintos. Foi precisamente um latino-americano que lembrou os sociais-democratas alemães de seus ideais. "O Estado que vocês conquistaram é um patrimônio da humanidade", declarou o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva num fórum da Fundação Friedrich Ebert (FES, sigla em alemão) em Berlim, no final do ano passado. "E isso não pode ser jogado fora por conta de uma crise causada pela irresponsabilidade do sistema financeiro. Os políticos não podem terceirizar a política." O ex-presidente brasileiro pertence a uma lista de diversos políticos proeminentes da América Latina que, nos últimos dois anos, visitaram a fundação ligada ao Partido Social Democrata (SPD) alemão. Também vieram a Berlim o ex-presidente paraguaio Fernando Lugo, o presidente uruguaio, José Mujica, e a presidente social-democrata da Costa Rica, Laura Chinchila. As visitas comprovam a especial relação entre os sociais-democratas alemães e latino-americanos. Na década de 1980, o SPD ajudou muitos países da região na reconstrução de estruturas democráticas. Atualmente, porém, as relações foram invertidas. Cada vez mais, companheiros do partido que completou 150 anos procuram novos estímulos políticos em seus antigos protegidos. Gratidão aos companheiros Ex-líder sindical, Lula incorpora essa mudança, passando de membro da resistência política a tomador de decisões. Por organizar movimentos de greve em massa durante a ditadura militar (1964-1985), ele foi preso em abril de 1980. Sua detenção provocou uma onda de solidariedade, também entre sindicalistas e companheiros da Alemanha. "Desde aquele momento, a FES se tornou indispensável no nosso cotidiano", lembrou Lula, ao sentar-se junto ao chefe da bancada parlamentar social-democrata da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, em dezembro de 2012, num fórum da fundação em Berlim. "Trabalho sindical, movimentos sociais, trabalho partidário, os companheiros sempre estiveram presentes. Sou eternamente grato pelo apoio de vocês", declarou Lula. A política externa social-democrata teve início na década de 1970. Ícone do SPD, Willy Brandt iniciou, a princípio como ministro do Exterior e depois como chefe de governo, o diálogo de cooperação política com a América Latina. Como presidente da Comissão Norte-Sul e da Internacional Socialista, ele apoiou os movimentos de libertação na América Latina. "Sob a presidência de Willy Brandt na Internacional Socialista houve certamente um interesse particular na expansão, que se voltou imediatamente para a América do Sul", afirmou Günther Maihold, vice-diretor do Instituto de Relações Internacionais e de Segurança (SWP, na sigla em alemão), que atualmente leciona na Cidade do México, ocupando a cátedra Alexander e Wilhelm von Humboldt. "Na América Latina, pensava-se em encontrar os pontos de partida para a expansão de um modelo puramente europeu de democracia social." A estratégia deu certo: muitos partidos se tornaram parceiros da social-democracia europeia. "Antigamente, nas décadas de 1980 e 1990 na América Latina, partidos e sindicatos eram relativamente fracos, recém-saídos de uma ditadura e ainda abalados", explicou Achim Wachendorfer, diretor do escritório da Fundação Friedrich Ebert em Buenos Aires. "Na Europa, no entanto, os sociais-democratas estavam no governo em quase todas as partes." Atualmente, a situação se inverteu. Enquanto os partidos social-democratas perdem influência na Europa, a importância da esquerda aumenta na América Latina. Desde 2003, o Partido dos Trabalhadores está no governo no Brasil e, no Uruguai, o antigo guerrilheiro José Mujica ganhou as eleições presidenciais de 2009 pela Frente Ampla. Com a social-democrata Michelle Bachelet, pela primeira vez uma mulher esteve à frente do governo do Chile, entre 2006 e 2010. E desde 2006 o político socialista Evo Morales governa a Bolívia. Vítima do próprio sucesso "Não é que não estejamos orgulhosos que partidos ou coligações, com quem trabalhamos durante anos, tenham agora assumido responsabilidade governamental, como no Brasil, Uruguai ou El Salvador", declarou Wachendorfer: "Isso é naturalmente um sucesso para o nosso trabalho de cooperação política." Porém, para o diretor da FES de Buenos Aires, o êxito da cooperação possui uma conotação amarga. Pois, segundo o ponto de vista latino-americano, é a Europa que agora precisa de ajuda. Maihold analisa de forma semelhante. "Os caminhos dos sociais-democratas europeus e latino-americanos se separaram", diz ele. Segundo Maihold, a social-democracia europeia se concentrou muito mais num projeto de reforma do mercado, enquanto na América Latina, prevaleceu um modelo de desenvolvimento centrado no Estado. Apesar do desenvolvimento político contrário, Marianne Braig, do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Livre de Berlim, faz um balanço positivo da política externa social-democrata. "Quando se vê a perseverança do SPD nessa área, então se trata de um engajamento que levou a uma mudança do cenário político", afirmou a especialista. "Não é possível exportar partidos, mas se pode ajudar a criar espaços livres, e isso foi feito pela Fundação Friedrich Ebert", disse Braig.

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