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Redes sociais iranianas são palco de confrontos

14:12 | 27/05/2013
Nas eleições de 2009, os adeptos do Movimento Verde descobriram as redes sociais como plataforma de crítica ao regime. Agora, elas também são usadas pelos defensores do governo. As duas frentes se enfrentam. Em fevereiro último, apareceu no site "Dialogue", no Google, uma série de vídeos do YouTube, em que críticos do regime iraniano, como Foad Sojoodi Farimani, de um lado, e defensores do governo, como Tohid Aziz, de outro, travaram um debate online à distância. O assunto: "O que significa uma eleição livre e justa". Os dois interlocutores conclamaram seus respectivos seguidores a fazer perguntas e entrar na discussão. E diversos vídeos mostravam como os rivais criticavam as posições um do outro e tentavam convencer a outra parte. E apelavam até mesmo para que o "adversário" repensasse a própria convicção frente à eleição presidencial de junho. Esse debate na internet foi um dos poucos passos por parte dos adeptos da oposição iraniana rumo a um diálogo do lado do governo não há nenhum movimento comparável neste sentido. Raiva, desconfiança, medo e ódio esses são normalmente os sentimentos que vêm à tona pela internet entre os dois lados, principalmente depois da última eleição, em 2009. "Precisamos parar de nos odiar mutuamente e em vez disso, de preferência, começar a falar uns com os outros. As conversas irão nos ajudar a chegar a uma compreensão mútua", afirma o fundador da página interativa "Dialogue", Sojoodi Farimani, em entrevista à Deutsche Welle. Facebook permitido apenas aos fiéis ao governo Segundo Sojoodi Farimani, há uma clara diferença entre quem é da polícia iraniana de internet FATA e outras pessoas ligadas ao governo. "Os chamados ciber-funcionários perseguem, tiranizam e oprimem os opositores do governo. Mas há também aqueles que apoiam o regime e, exatamente da mesma forma como nós, usam as redes sociais para trocar informações e saber mais sobre o adversário", analisa Farimani. Apesar do afiado sistema de filtros, a internet continua sendo uma das poucas plataformas nas quais os iranianos podem expressar opiniões e é exatamente por isso que as redes sociais também são muito apreciadas pelos críticos do regime. Diversas páginas conhecidas e apreciadas como o Facebook e o Twitter são bloqueadas pelas autoridades, mas mesmo assim aumenta rapidamente nessas redes, segundo observações de blogueiros, o número de usuários fiéis ao governo. "Eles justificam isso ao afirmarem que a presença em tais redes é parte da jihad e que a luta contra o inimigo deve acontecer em todos os lugares", explica Ali Nikoee, especialista iraniano em internet radicado na Holanda. Além disso, completa Nikoee, especialistas muçulmanos em internet usam uma série de blogs para fins de propaganda de suas ideologias. Sob nome falso: propaganda escusa Em fevereiro de 2013, ciberativistas fiéis ao governo criaram dezenas de páginas falsas no Facebook e blogs em nome de jornalistas iranianos que vivem no exterior e trabalham para jornais, rádios ou televisões em farsi, a língua do país. "Em alguns casos, os adeptos do regime se travestiram de críticos no Facebook ou num blog avesso ao regime, a fim de inserir posteriormente suas propagandas ali. Demora certo tempo até saber quem de fato está por trás de um desses blogs", diz o ativista conhecido como Vahid Online, que tem 14 mil seguidores no Twitter. Além disso, as tentativas de prejudicar as atividades dos usuários críticos ao regime nas redes sociais são constantes. Os adeptos do regime "postam centenas de comentários cheios de ódio no Facebook ou em vídeos do YouTube sobre o Movimento Verde. Ou denunciam os vídeos como material difamante, fazendo com que eles sejam bloqueados, por exemplo", diz Nikoee. No contexto das últimas eleições presidenciais no Irã, os manifestantes do Movimento Verde usaram intensamente as redes sociais a fim de mobilizar seguidores e fazer com que os protestos ficassem conhecidos para além das fronteiras do país. Hoje, a situação é bem mais tranquila no que diz respeito ao Movimento Verde. De acordo com Vahid Online, o lado do governo é hoje muito eficaz no que diz respeito a disseminar suas convicções pela internet. "Eles têm o dinheiro, a influência política e as instituições necessárias como retaguarda. À sua frente estão indivíduos que agem por convicção pessoal e que têm medo de perseguições", completa o ativista. A luta pela rede De acordo com notícias não confirmadas do especialista Nikoee, a polícia iraniana de controle da internet recruta voluntários dispostos a espionar os opositores do regime nas redes sociais. Por esse trabalho de detetive, os "espiões da rede" recebem um salário de sete dólares a hora para os padrões iranianos, muito dinheiro. Segundo pesquisas do site ViewsDNS, 25% dos sites iranianos são filtrados. O site ocupa-se especialmente de estatísticas a respeito de usuários, atividades em rede e censura. Antes da eleição marcada para junho, as autoridades fecharam boa parte das redes virtuais privadas (VPN). "Também não acredito que o governo vá mudar qualquer coisa nos próximos tempos nessa estratégia de filtro e censura", analisa Nikoee. "No momento em que eles suspenderem os filtros das redes sociais, a rede iraniana irá ficar cheia de atividades críticas ao governo", acrescenta o especialista. Poucas razões para otimismo De qualquer forma, o diálogo nas redes sociais parece não ser desejado: a página do YouTube com debates entre Sojoodi e Azizi foi, por exemplo, apagada pelo equivalente iraniano ao YouTube, o site Aparat. "As autoridades da República Islâmica tentam sempre colocar os críticos do regime como pessoas amorais, hipócritas e espiões do Ocidente. Eles querem evitar que seus seguidores constatem que do outro lado estão pessoas que amam seu país e querem fazer dele um lugar melhor", conclui Sojoodi Farimani. "Por isso eles não apoiam ofertas como a página 'Dialogue' e, em vez disso, até apagam imediatamente os vídeos da rede", finaliza.

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