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Oposição russa reúne ideologias muito distintas

11:21 | 14/05/2013
Governo da Rússia tenta enfraquecer sociedade civil. Oposição não é coesa e não há alternativa a Putin. Jovens manifestantes são destemidos, mas não têm clareza sobre o que exatamente defendem. Faltam ideais comuns. Trata-se de uma luta pelo poder. Quem manda na Rússia? O aparato do poder, os chamados "siloviki" militares, polícia e serviço secreto? Ou a oposição? Trata-se de uma luta travada com meios desiguais: de um lado, a frente fechada do Estado forte sob Putin; do outro, um movimento fortemente esfacelado de protestos. A fim de acertar melhor os ponteiros e cooperar, a oposição fundou, há cerca de meio ano, um conselho de coordenação, que deveria congregar as diversas frentes. Corajosa e esfacelada São principalmente os mais jovens do país que querem acima de tudo uma coisa: um futuro sem a tutela do Estado, um futuro "sem Putin". Isabelle Magkoeva passou a participar só em dezembro de 2011 dos protestos, tendo se tornado a seguir uma das mentoras do movimento Occupy em Moscou. Professora de japonês, ela está convencida do alcance dos protestos: "Estamos preparando a revolução", diz. Inconformada com a postura apolítica de seus pais, Magkoeva afirma: "Há jovens da minha geração que nada sabem a respeito da antiga União Soviética. Ao contrário da geração dos meus pais, não temos medo. E não somos tão cínicos. Acreditamos que seja possível mudar alguma coisa no nosso país", completa a jovem, que deposita sobretudo esperança nas pessoas de sua idade. Os jovens manifestantes são destemidos, mas também não têm clareza sobre o que exatamente defendem. Faltam ideais comuns. Entre os oposicionistas há desde ambientalistas, passando por defensores de uma economia livre até nacionalistas de direita. O líder nacionalista Dmitri Diomuchkin gaba-se, por exemplo, de manter contato permanente com opositores famosos, como o ex-vice-premiê Boris Nemzov e o esquerdista Serguei Udalzov. Movimento verde alemão é considerado exemplo E até mesmo o conselho de coordenação tem divisões internas. A ambientalista verde Yevgenia Tschirikova critica o líder Alexei Navalny, acusando-o de camaleão, por mudar sempre sua posição. Para Tschirikova, a experiência do movimento verde na Europa e em especial na Alemanha foi decisiva: "Essa experiência me inspirou, pois algo assim nunca aconteceu na Rússia. Na Alemanha, vi que as pessoas realmente lutavam por suas ideias, que iam às ruas, fundavam movimentos. De baixo, da base, não respeitando ordens de cima", afirmou a ativista, que confessa ter, a partir desse exemplo, tido coragem de tentar algo parecido também na Rússia. À grande maioria da população russa, contudo, falta essa coragem. Mesmo que os protestos tenham atingido outras cidades além de São Petersburgo e Moscou, sobretudo a classe média permanece alheia ao movimento. As pessoas com idade entre 35 e 40 anos mantêm-se ocupadas com questões de trabalho e de família. A falta de tempo, bem como o medo da arbitrariedade do Estado e o temor de ser incluído numa "lista negra" afasta essas pessoas dos protestos. A grande maioria da classe média não quer arriscar a segurança conseguida a duras penas. Ideologias pouco importam Esse é o caso, por exemplo, de Anastasia Mescheriakova, mãe solteira de dois filhos e dona de dois restaurantes em Moscou. "Só quero uma coisa: que as leis em nosso país sejam de fato respeitadas. Ideologia? Qual? De esquerda, de direita, liberal ou social-democrata? Honestamente, para mim dá na mesma. A questão da ideologia não é importante para mim", completa. Mescheriakova não sabe ao certo avaliar se a classe média irá continuar se politizando, tendo em vista as limitações dos direitos civis. "Há dez anos, nem falávamos sobre política. Hoje é diferente. Quando nos encontramos com amigos, a política é pelo menos um tema, mesmo que seja um entre vários", diz ela. Fato é que o Estado russo faz de tudo para manter pessoas como Anastasia Mescheriakova longe dos protestos, intimidando-as com detenções e penalidades exageradas aos manifestantes, com cerceamento do direito de reunião, com intermináveis obras nas grandes praças de Moscou, onde antes aconteciam protestos. E também com muitas leis novas, como a dos agentes, segundo a qual os russos que trabalham com organizações estrangeiras podem ser facilmente considerados espiões. Juntos na rejeição Mas pelo menos num ponto todos os agrupamentos de oposição, até mesmo os comunistas, concordam: na rejeição ao modelo paternalista do governo Putin, bem como à tutela, às arbitrariedades e sanções que aumentaram no país desde a reeleição do presidente. Os oposicionistas como um todo lutam por outra Rússia, por mais liberdade dentro do país e uma orientação europeia em termos de política externa, como explica Vladimir Ashurkov, assessor próximo do popular político de oposição Navalny: "Defendemos que a Rússia não precisa procurar um 'caminho especial'. A Rússia é um país europeu, pertencemos à civilização ocidental, tanto por nossa cultura, quanto por nossa história e religião. Não está longe o dia em que a Rússia irá integrar a Europa", conclama Ashurkov. Isso não significa necessariamente o ingresso numa aliança econômica, política ou militar, acrescenta: "Mas sim um Estado de direito mais forte, maior liberdade de imprensa e um Estado eficiente", conclui.

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