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Ocidente ainda desconfia do engajamento do Paquistão contra o terrorismo

09:04 | 03/05/2013
Há dois anos, a morte de Osama bin Laden no Paquistão fortaleceu as suspeitas de que o governo do país pouco faz para combater a Al Qaeda e o Talibã. Especialistas dizem que pouco mudou desde então. Há tempos os países ocidentais desconfiam do verdadeiro comprometimento do Paquistão na luta contra o movimento fundamentalista islâmico Talibã e a rede terrorista internacional Al Qaeda. O serviço secreto militar do país o Diretório de Inteligência Inter-Serviços (ISI) é constantemente acusado de apoiar militantes islâmicos. A desconfiança ficou ainda maior depois que Osama bin Laden, líder e fundador da Al Qaeda, foi localizado na cidade paquistanesa militar de Abbottabad e morto, no dia 2 de maio de 2011, pelo comando militar especial americano. Após a operação, especialistas e políticos de vários países passaram a questionar como o terrorista mais procurado do mundo conseguiu viver cinco anos no local sem ser descoberto mesmo sob a constante presença na região de autoridades militares e do serviço secreto paquistanês. Base para o Talibã afegão Especialistas avaliam que, mesmo após a morte de Bin Laden, a ideologia do terror pregada por ele ainda está muito viva no Paquistão. Matt Waldman, pesquisador da Universidade de Harvard sobre o conflito no Afeganistão, afirma que há evidências de que o ISI não mudou sua política de apoio ao Talibã e a outras organizações radicais islâmicas mesmo após a morte do antigo líder da Al Qaeda. "De certa maneira, o Talibã afegão ficou ainda mais forte do que era antes do reforço das tropas americanas, em 2009. O número de ataques a tropas do Afeganistão e da Otan foi duas vezes maior em 2012 do que o registrado em 2008", afirmou Waldmann à DW. Os extremistas alcançam êxito por conseguirem recorrer a uma extensa rede de apoio no Paquistão, explica o especialista. "Essas bases oferecem preparação para ataques, formação e recrutamento de iniciantes, além de dar apoio logístico". O especialista para o sul asiático Emry Shoemaker, da Escola de Economia de Londres, avalia que todos os indícios sugerem que parte do Exército paquistanês continua apoiando o Talibã. O Ocidente, diz ele, tem boas razões para sua desconfiança. Contudo, Shoemaker afirma que o regime paquistanês não tem uma posição homogênea com relação ao Talibã e ressalta que há interesses divergentes na região. Sendo assim, há também aqueles que não querem apoiar os talibãs. Apreensão diante da influência indiana Waldmann afirma que a postura do Paquistão é determinada pelas relações de poder na região enquanto não houver mudanças neste ponto, segundo ele, nada deve mudar no apoio dado ao Talibã. Waldmann avalia que os paquistaneses estejam se sentindo ameaçados diante da crescente influência indiana no Afeganistão. "Parte do Exército paquistanês considera o Talibã um meio estratégico para rechaçar a presença indiana no Afeganistão", concorda o cientista político Siegfried O. Wolf, da Universidade de Heidelberg. Mas ele avalia que, se por um lado há sinais de uma aproximação entre afegãos e paquistaneses, por outro, recentes declarações do chefe militar paquistanês, o general Ashfaq Pervez Kayani, sobre a importância do Islã nas políticas do país podem ser vistas como uma indicação de que o Paquistão continuará seguindo as mesmas políticas de sempre. Isolamento fatal Especialistas destacam que a disposição dos Estados Unidos e do Afeganistão em negociar com o Talibã sem a participação paquistanesa não vem sendo bem recebida pelo governo em Islamabad. Os EUA estão finalizando as operações no Afeganistão após uma década de guerra contra os militantes islâmicos. Tropas da Otan estão sendo escaladas para deixar o país em 2014. Por mais de um ano, os governos americano e afegão têm tentado travar "diálogos pacíficos" com o Talibã a fim de garantir uma transição pacífica de poder no Afeganistão conversas que até agora têm se mostrado fracassadas. Para alguns analistas, o Paquistão não está colaborando. "Washington e Cabul querem dar voz ao Talibã, e há relatos na imprensa de que eles já estão conduzindo conversas secretas com algumas de suas facções, mas querem excluir o Paquistão dessas negociações. Isso, na minha opinião, é o maior obstáculo nas relações entre EUA e Paquistão, e o principal motivo pelo qual o Paquistão mantém sua política com relação ao Afeganistão", avalia Naeem Ahmed, professor de relações internacionais da Universidade paquistanesa de Karachi. Entre observadores da situação no Paquistão, prevalece a análise de que nenhum governo em Cabul pode funcionar sem o apoio de Islamabad. O jornalista paquistanês Nasir Tufail sintetiza: "Como vimos no passado, o Paquistão poderá apoiar insurgentes no Afeganistão caso seus interesses não sejam atendidos. E isso não é nada bom para o Afeganistão".

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