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Minoria religiosa dos bahá'ís sofre perseguição há 30 anos

06:21 | 28/05/2013
Com mais de 300 mil membros, os bahá'ís formam a maior minoria religiosa não muçulmana no Irã. Há mais de 30 anos eles vêm sendo sistematicamente perseguidos, discriminados e detidos. E a repressão aumenta a cada dia. Minorias religiosas como a dos cristãos, dos judeus e dos zoroastras são consideradas, segundo o artigo 13 da Constituição iraniana, como "dignas de proteção". Já os bahá'ís são apontados como uma "seita política perversa" ou simplesmente descritos como "impuros". De acordo com o governo islâmico, a crença dos bahá'ís é uma heresia, pois eles não acreditam em Maomé como sendo o último profeta, mas sim num Deus que se revela regularmente frente às pessoas em espaços de tempo distintos. A comunidade religiosa dos bahá'ís tem mais de seis milhões de fiéis em todo o mundo (inclusive no Brasil), sendo que 300 mil deles vivem no Irã. O país é o berço de Bahá'u'lláh, o fundador desta religião que surgiu há aproximadamente 170 anos. A elite religiosa do Irã já via nos bahá'ís um perigo para sua própria legitimação no século 19, tendo incitado o xá de então a enviar os bahá'ís para as proximidades de onde hoje fica a cidade de Haifa. Por isso, os templos sagrados dos bahá'ís encontram-se hoje em dia todos em Israel. E até hoje os mulás veem suas ambições de poder em risco frente à crença dos bahá'ís, diz Ingo Hofmann, porta-voz da comunidade dos bahá'ís na Alemanha. Segundo ele, é por isso que os membros desta comunidade religiosa continuam sendo tão perseguidos no Irã. Perseguição sistemática E as repressões se agravaram com a prisão e execução de muitos bahá'ís no país. Segundo um relatório do Conselho Nacional Religioso dos Bahá'ís na Alemanha, mais de 200 pessoas foram presas e executadas desde a revolução islâmica de 1979. Muitos bahá'ís são proibidos de frequentar a universidade. Seus estabelecimentos comerciais são incendiados e seus cemitérios destruídos. Ou seja, o dia a dia desta minoria religiosa no Irã é marcado desde a infância pelo medo, pela insegurança e pela pressão psicológica, relata Sepehr Atefi, baseado em experiência própria. O jovem de 22 anos, natural de Isfahan, era membro ativo do Comitê dos Repórteres dos Direitos Humanos no Irã, antes de ter que fugir, em fevereiro de 2010, para a Turquia após ter sido ameaçado de prisão. Hoje ele vive na Alemanha. A base para as detenções e discriminação contra os bahá'ís é o documento oficial do Conselho Superior da Revolução Cultural, datado do ano de 1991. O chamado Memorando de Golpayegani instrui todas as autoridades iranianas a bloquear o progresso e o desenvolvimento dos bahá'ís e a destruir suas raízes culturais, inclusive no exterior. Agravamento da situação desde 2004 "Recebemos constantemente notícias de ondas de detenções, ataques e incêndios propositais", relata Ingo Hofmann. A prisão do grêmio informal de sete líderes bahá'ís em 2008 foi motivo de manchetes neste contexto. Oficialmente, os bahá'ís não têm direito de formar grêmios eleitos no Irã. Esses sete líderes passaram um ano na penitenciária de Evin, em Teerã, sem qualquer fundamento legal, antes de serem condenados a 20 anos de prisão. Desde então a situação dos bahá'ís piorou dramaticamente no Irã, conta Sepehr Atefi à DW. Atualmente, a situação é mais grave na província de Semnan, situada a nordeste de Teerã. Há poucas semanas, escolares foram tirados da sala de aula e interrogados pelo Ministério das Informação a respeito de seus pais. Métodos como esse têm um poder enorme de coação, fala Sepehr Atefi ao se lembrar de seu próprio tempo de escola. "Na minha época, vinham sempre professores para as aulas querendo nos 'esclarecer' a respeito das 'práticas imorais' dos bahá'ís", recorda. "Na frente de toda a sala de aula, dizia-se que os bahá'ís faziam orgias sexuais em suas assembleias, que se casavam entre irmãos e outras coisas do gênero", recorda. Mesmo nos últimos anos de escola, ele diz não ter tido coragem de revidar a autoridade dos professores. Por isso, se calava e não confessava sua identidade bahá'í publicamente. Apenas seus amigos mais próximos sabiam. Segundo Atefi, mesmo que a maioria das crianças de hoje não acredite em tais histórias, as tentativas de disseminá-las aumentaram sistematicamente por parte das autoridades. Isso apesar dos protestos internacionais contra tais práticas. Sem educação, nenhum futuro Pelo menos à primeira vista, os protestos internacionais parecem ter surtido algum efeito: sob pressão de fora, foi eliminada em 2004 dos questionários para a prova de admissão nas universidades iranianas a pergunta a respeito da religião do candidato. A partir de então, algumas centenas de bahá'ís foram admitidos nas escolas superiores do país, ao contrário do que ocorria antes. De acordo com pesquisas realizadas por diversas organizações de defesa dos direitos humanos, mais de 65% dos bahá'ís acabaram, entretanto, sendo expulsos das universidades no decorrer de seus estudos tão logo viesse à tona sua crença religiosa. Em 2006, o Ministério da Educação enviou uma carta às 81 universidades do país alertando para a proibição de admissão de bahá'ís, tendo por base o Memorando de Golpayegani. Sepehr Atefi chegou a se candidatar a uma vaga, mas foi rejeitado em função de uma suposta "insuficiência de documentos". Esta foi a justificativa recebida pela maioria dos bahá'ís rejeitados pelas escolas superiores do país. Em 1987, a comunidade bahá'í do Irã fundou o Instituto Bahá'í de Educação Superior uma rede informal de educação criada para combater a falta de perspectivas dos jovens bahá'ís. Trata-se de uma espécie de universidade à distância, com mais de 150 docentes que prestam trabalho voluntário. As aulas são em grupos pequenos, ministradas em casas particulares ou pela internet. Sepehr Atefi estudou três semestres de Sociologia neste esquema antes de ter que deixar o país. Nos últimos anos, as autoridades passaram a combater essa rede educativa, até que ela fosse fechada em maio de 2011 e declarada ilegal. Após buscas em grande estilo levadas a cabo em todo o país, muitos dos responsáveis pela rede foram detidos e condenados a até dez anos de prisão, conta Atefi. Mas o Instituto continua ativo, diz ele, apesar de toda a repressão e de todas as proibições.

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