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Autores lamentam a censura da mídia e da literatura no Irã

13:34 | 21/05/2013
A lista dos temas e conceitos que são tabus na República Islâmica é longa. Isso força muitos autores à autocensura. Mas mesmo essa medida não satisfaz, muitas vezes, as lideranças do iranianas. Em janeiro de 2013, forças de segurança iranianas investigaram os escritórios de quatro jornais e um semanário em Teerã, detendo pelo menos 15 jornalistas. A acusação: eles tinham, supostamente, ligações com a mídia estrangeira. Nos dias seguintes, diversos organismos oficiais, como também o Ministério de Inteligência e Segurança, divulgaram notas à imprensa falando de uma conspiração internacional. Supostamente, essa conspiração assumia proporções cada vez maiores. Tais acusações fazem agora parte do cotidiano de jornalistas e escritores. Nos últimos anos, dezenas de jornais e revistas pró-reformas foram fechadas. Os oposicionistas acreditam que as prisões devam funcionar como forma de intimidação da mídia, com vista às eleições presidenciais de 14 de junho próximo. Ligações com o serviço secreto britânico O ministro iraniano de Inteligência, Heydar Moslehi, anunciou em março que teria sido desbaratado um grupo de 600 jornalistas que estariam em contato com o exterior. Desses, 150 agiriam dentro do Irã. Pouco tempo depois, o Ministério de Inteligência declarou que identificara instituições de mídia que teriam ligações com o serviço secreto britânico. Entre as emissoras, estavam a Deutsche Welle (DW) e a Radio France Internationale (RFI). Em declaração, o Ministério afirmou, além disso, que a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e também os relatores de direitos humanos das Nações Unidas para o Irã teriam ligações com essa rede. Juntos, eles estariam conspirando contra o Islã e o "sistema sagrado da República Islâmica", afirmou o Ministério. As respostas a tais alegações não se fizeram esperar. O responsável pelo Irã no secretariado internacional de Repórteres Sem Fronteira em Paris, Reza Moini, disse em entrevista à Deutsche Welle que a RSF não é uma gangue, mas uma organização internacional que não se deixa guiar por ninguém. "Um Estado não pode acusar o resto do mundo de ser comparsa de um serviço de inteligência", afirmou Moini. Livros também são controlados Para justificar o controle sobre a mídia e as instituições culturais, as lideranças iranianas tornam públicas, repetidamente, teorias de conspiração. Mesmo as editoras estão agora na mira das autoridades iranianas. Qualquer livro que for publicado no Irã precisa de uma licença do Ministério da Cultura e Orientação Islâmica, também conhecido por Ershad. No entanto, acontece frequentemente que um escritor tenha de esperar vários anos por uma licença ou que os livros aprovados sejam repentinamente recolhidos após a publicação. Ebrahim Yazdi foi ministro do Exterior no primeiro governo iraniano após a revolução islâmica. No ano passado, em protesto contra o Ministério Ershad, que não aprovou suas obras, ele publicou seus últimos dois livros na internet. Numa das obras, ele escreve sobre Mehdi Bazargan, o primeiro premiê iraniano após a revolução de 1979. O segundo livro aborda o movimento estudantil nas décadas de 1940 e 1950, no Irã. Livros infantis são censurados Mas não somente os livros políticos são rigorosamente controlados, isso se aplica até mesmo a livros infantis. Farideh Khalatbari, que dirige a editora de livros infantis Shabaviz e que já recebeu vários prêmios internacionais, explica que dois de quatro volumes de um livro infantil sobre anjos foram censurados porque os especialistas do Ministério eram da opinião de que os anjos não estariam sendo representados "corretamente". Em entrevista à agência de notícias iraniana ILNA, ela declarou que os dois primeiros volumes teriam sido aprovados com a mesma representação dos anjos. Agora resta a pergunta se alguém, alguma vez, já viu de fato um anjo para poder avaliar como seria realmente uma "representação correta" dos querubins, questionou. Ahmad Bigdeli, ganhador do prêmio estatal do livro iraniano em 2006, também disse em entrevista à ILNA que esperou quase quatro anos por uma licença para publicar um romance policial. Finalmente, o Ministério Ershad o confrontou com o fato de que a representação de um policial com um cassetete na mão não o teria agradado. Ninguém pode fazer nada contra tais práticas, lamenta Bigdeli. Mantendo viva a cultura da leitura Segundo Bigdeli, nos últimos anos, o Ministério Ershad acirrou o controle de tal forma que mesmo autores que já praticavam a autocensura estão desesperados com a situação. Em todo caso, a autocensura parece não ser suficiente para os órgãos controladores. Shahla Lahiji, diretora da renomada editora Roshangaran, que publica principalmente literatura feminina, lamenta os efeitos devastadores da censura na sociedade. "A produção de bens culturais é uma prova de que o cérebro de uma sociedade está funcionando. A suspensão da produção significa que esse cérebro não está mais em atividade e a sociedade caminha em direção à morte". Segundo ela, não é preciso temer uma sociedade letrada, mas uma sociedade sem a cultura da leitura.

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