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Apesar de atritos, premiê chinês dá impulso à relação com Alemanha

10:32 | 27/05/2013
Recebido por Merkel, Li Keqiang não esconde desconforto com disputa comercial com a União Europeia e a Alemanha, que tem na China seu maior parceiro fora do bloco e promete não deixar que caso atrapalhe negócios. Uma chuva intermitente caía sobre a o distrito governamental de Berlim. Em várias esquinas da cidade, viaturas policiais estavam de prontidão, enquanto cancelas isolavam a área em torno do gabinete de Angela Merkel, obrigando pedestres a fazer desvios em seu caminho. A algumas centenas de metros, em frente à sede do Parlamento alemão, ativistas dos direitos humanos protestavam. A visita do novo primeiro-ministro da China, Li Keqiang, mexeu com a rotina da capital alemã. Ele foi recebido por Merkel com honras militares e, na agenda de ambos, foi reservada uma hora e meia para conversas sobre temas políticos. A China é o maior parceiro comercial da Alemanha fora da União Europeia. Por isso, antes do aguardado encontro de Merkel e Li com os jornalistas, ministros chineses e alemães e executivos de algumas das maiores corporações da Alemanha participaram da assinatura de 17 cartas de intenção e acordos para o reforço da cooperação entre os dois países nas áreas de ciência, política e cultura. A China deseja tirar proveito do conhecimento alemão nos setores energético e ambiental, sobretudo após ter tido que lidar com uma série de escândalos na indústria alimentícia. Ao mesmo tempo, empresas alemãs almejam melhores possibilidades de negócios no enorme mercado chinês. A Volkswagen e seu parceiro na China, a Saic Motor, acertaram a abertura de uma fábrica na cidade de Changsha. A Basf planeja dois empreendimentos conjuntos em Xinjiang. A Siemens encontrou novos clientes para suas turbinas de gás e processamento de petróleo bruto, e a construçao de quatro navios de contêineres também deverá ser incluída no acordo. A chanceler federal alemã declarou, com o aval de seu colega chinês, que as relações entre os dois países se tornaram mais próximas e mais intensas. Painéis solares: obstáculo Mas a situação não é tão simples como parece ser. A Comissão Europeia iniciou medidas antidumping e ameaça arrecadar bilhões de euros em novos impostos sobre os painéis solares chineses de baixo custo que eventualmente entrarem no bloco. Com a nova taxação, os produtos podem ficar até 50% mais caros. "Não concordamos e rejeitamos com veemência essa decisão", disse Li, alegando que a atitude da Comissão Europeia custará empregos na China e pode afetar o desenvolvimento industrial do país. "Isso também colocará em perigo o desenvolvimento do setor na Europa, assim como os interesses dos consumidores e da indústria europeia." Nas entrelinhas, o primeiro-ministro sugeriu que a China vai vender seus produtos de geração de energia solar para outros países. Não resta muito tempo para que uma solução seja encontrada o prazo é até o dia 5 de junho. Em Berlim, Merkel chegou a afirmar que a "situação é complicada". A Comissão Europeia, disse a chanceler, tem razão em alguns pontos, mas protecionismo não é a resposta para a manutenção de relações mútuas em um mundo aberto e globalizado. "A Alemanha fará o possível para lidar com os conflitos na área do comércio, como por exemplo na questão dos painéis solares, ou atuar através de conversações na resolução de problemas na área das telecomunicações", afirmou a chanceler federal, adicionando que não se deve entrar em confrontos que poderão ser prejudiciais às partes envolvidas. Merkel prometeu que a Alemanha fará todo o possível para trazer "progresso real" às conversas. O premiê Li Keqiang afirmou apreciar essa atitude do governo alemão, mas não deixou dúvidas quanto à intenção de seu país de rebater às punições da Comissão Europeia. A China abriu recentemente uma investigação antidumping sobre a importação de tubulações de ferro provenientes da Europa o que pode ser interpretado como uma ameaça. No entanto, em sua visita a Berlim, Li Keqiang deixou claro que seu país tem grande interesse em manter boas relações com a União Europeia. "Espero que a China e a UE possam avançar em direção a um acordo de livre comércio", afirmou. Li também destacou que as relações entre China e Alemanha podem servir de exemplo, uma vez que caminha a passos rápidos, o que, na sua visão, é importante para o desenvolvimento da Europa e do mundo. Apoio ao euro A crise do euro também foi assunto no encontro dos líderes em Berlim. O premiê chinês afirmou que seu país vai continuar fazendo a sua parte para manter o euro estável, o que, segundo ele, é bom não apenas para a Europa, mas acaba sendo também um fator muito positivo para o desenvolvimento da China. Os chineses detém uma parcela significativa de suas reservas de câmbio em moeda europeia, e sempre foi favorável a moedas alternativas ao dólar americano, postura exaltada por Angela Merkel: "Estamos muito satisfeitos que a China tenha continuado a aceitar o euro como uma das principais moedas correntes, mesmo durante toda a crise europeia." A Alemanha é o único país da UE visitado por Li Keqiang em sua primeira viagem oficial. Seu giro inclui também Índia, Paquistão e Suíça. O premiê chinês chegou a Berlim na noite de sábado, proveniente de Berna, e assistiu do seu hotel à vitória do Bayern de Munique na final da Liga dos Campeões. Na manhã de domingo, visitou a cidade de Potsdam, e em Berlim se encontrou também com o presidente Joachim Gauck. Sua programação, bastante corrida, contou ainda com um jantar na noite de domingo com Angela Merkel, membros do gabinete e representantes da indústria alemã no palácio de Meseberg, nos arredores de Berlim. Nesta segunda-feira, o premiê teve na agenda encontros com o líder do Partido Social Democrata (SPD), Sigmar Gabriel; com o candidato da legenda a chanceler, Peer Steinbrück; e com o ex-chanceler Helmut Schmidt.

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