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Ameaças e sanções marcam relação entre Irã e Ocidente

14:21 | 22/05/2013
Quem tem mais fôlego: o Irã e sua dependência das exportações de petróleo ou o Ocidente e sua sede por recursos naturais? O "ouro negro" é o combustível da prosperidade e do desenvolvimento tecnológico na sociedade industrializada. É ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição para a humanidade. Pois é mais um explosivo do um combustível. O petróleo, em torno do qual se travam guerras. Um combustível que muitas vezes é retirado da terra sem levar em consideração o ser humano e a natureza. E,mesmo assim, somos dependentes dele. A cada ano, sete bilhões de pessoas em todo o mundo consomem quatro bilhões de toneladas de petróleo. E apesar do aumento do uso de fontes de energia renováveis, cresce a demanda por petróleo. Em 2011, atingiu-se um novo recorde de consumo. São poucos os países que possuem esse recurso: Arábia Saudita, Canadá e Venezuela têm as maiores reservas de petróleo. Logo em seguida vem o Irã, com 21 bilhões de toneladas. Cada gota é valiosa, pois o petróleo é um recurso finito. Mas o Ocidente se comporta como se pudesse dispensar algumas reservas como, por exemplo, as iranianas. No ano passado, os Estados Unidos, a União Europeia e outros países introduziram paulatinamente um embargo do petróleo e gás natural iranianos. As sanções foram acirradas. As medidas procuram cercear o programa nuclear iraniano. Por trás do programa, o Ocidente suspeita a construção de armas nucleares. Que efeitos essas sanções têm no mercado mundial de petróleo e na economia iraniana? E quanto tempo o Ocidente pode resistir? A psicologia do preço do petróleo O nervosismo dos mercados de commodities não conhece fronteiras. Com a escalada de um conflito, o preço do óleo cru reage sensivelmente. O resultado: a oferta é escassa, os preços sobem ou seja, a lógica do mercado livre. Tais flutuações podem provocar buracos profundos nos cofres de alguns Estados. Isso atinge particularmente os países economicamente fortes. De acordo com um modelo de cálculo do Instituto de Economia Mundial, em Kiel, o desempenho econômico da Alemanha poderia, em curto prazo, cair de 0,2 a 0,3 ponto percentual, se o preço do barril de petróleo subisse 10 dólares. "O mercado global de petróleo é muito limitado, não há muitos produtores. Se alguém faltar, o preço do petróleo ameaça a subir. No momento, o Irã injeta 1,5 milhão de barris diariamente no mercado mundial", disse Mamdouh G. Salameh, especialista no ramo petrolífero e consultor do Banco Mundial. Sem o petróleo iraniano, o preço do produto subiria de 25 a 30 dólares, estima. Desde que os EUA aumentaram a pressão sobre os países que, até o momento, importavam petróleo do Irã, o círculo de compradores tornou-se cada vez menor. Por depender da exportação de petróleo, o Irã parece ser o perdedor neste negócio. Já o lado oposto consegue compensar a lacuna até agora. Quanto o Ocidente depende do petróleo do Irã? Para a Europa, foi um jogo fácil. Os países da União Europeia (UE) conseguiram substituir a perda: "Antes do embargo, a Europa importava 600 mil barris de petróleo iraniano. Espanha e Grécia eram os maiores clientes", disse Salameh. "Quando as sanções contra o Irã passaram a valer, a Líbia entrou em cena." Durante a agitação no país, toda a produção foi paralisada, mas a Líbia se recuperou rapidamente e, num curto espaço de tempo, começou novamente a exportar. A Alemanha quase não foi afetada pelo embargo do petróleo iraniano: "Antes das sanções, importávamos muito pouco do Irã, cerca de 1% das nossas importações", disse Hans-Georg Babies, do Instituto Federal de Geociências e Recursos Naturais da Alemanha. A perda foi compensada por países como Rússia e Noruega, informou Babies. Os EUA procuraram outros fornecedores e apostam, principalmente, na Arábia Saudita. O país é o maior produtor da Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo), com 9,1 milhões de barris diários. Ao mesmo tempo, com 36 bilhões de toneladas, a Arábia Saudita possui as maiores reservas de petróleo do mundo. No entanto, Salameh se diz cético. Para ele, as hipóteses sobre a capacidade de produção dos sauditas são exageradas. "Quando em 2008 o preço do barril de petróleo subiu para 147 dólares, a Arábia Saudita não tinha capacidade para aumentar a produção e empurrar o preço para baixo. Até mesmo o então presidente dos EUA, George W. Bush, visitou Riad e pediu ao sauditas que aumentassem a produção", lembra-se Salameh. Na ocasião, os países da Opep responderam que a oferta satisfazia à demanda do mercado. "Na verdade, a Arábia Saudita e os países da Opep simplesmente não podiam dizer ao mundo que não tinham mais capacidade de produção. Hoje, a situação não é diferente. Os EUA podem sair perdendo, adverte o especialista. Como o Irã é afetado? No Irã, as receitas das exportações de petróleo caíram pela metade em um ano. As vendas do "ouro negro" é o maior e mais importante item no orçamento estatal. Algumas fontes acreditam que 85% do orçamento iraniano sejam financiados pela receita do petróleo. A cotação da moeda local, o rial, não para de cair. Desde 2011, ela já perdeu 80% de seu valor em relação ao dólar. A economia do Irã está enfraquecida. Os preços dos alimentos dispararam. As pessoas no país lutam pela sobrevivência financeira. As sanções contra o Irã atingiram o ponto nevrálgico do país? Não, o Irã desconversa. De acordo com informações oficiais, o país produz e vende até mais do que antes do endurecimento do embargo no ano passado. Fontes independentes, no entanto, revelam algo diferente: a produção caiu quase um terço. "O Irã não conseguiu diversificar suas fontes de receita", disse Salameh. E agora o país sofre com isso. Os fluxos de comércio, ou seja, os negócios bancários, também estão sob sanções o que torna difícil a exportação de petróleo. No entanto, o Irã tem tentado vender o produto de forma indireta, observa Salameh. Por exemplo, através de negócios de troca. Assim, a Índia exportou mercadorias para o Irã em troca de petróleo. Mas essa troca se tornou difícil devido ao aumento da pressão dos EUA, salienta Alexander Poegl, especialista em commodities da empresa de consultoria JBC Energy. O que mais afeta o país são as sanções contra a importação de equipamento técnico e know-how. Isso dificulta que o Irã mantenha estáveis os níveis de produção do petróleo. E algo mais afetou seriamente o Irã: os seguros: "Antes das sanções, até 95% dos seguros sobre os navios mercantes, que transportavam petróleo, eram realizados através de institutos europeus. Eles agora foram abolidos", disse Poegl. Para os portos e compradores do petróleo iraniano, os negócios com o Irã ficaram muito mais arriscados. No caso de uma avaria, faltam seguradoras. Quem tem mais fôlego: o Ocidente ou Irã? Trata-se de um jogo psicológico um jogo que coloca ambos os lados sob pressão e mantém o mundo sob suspense. Os especialistas não estão em consenso sobre o êxito das sanções: para Alexander Poegl, as medidas foram bem sucedidas, porque "desta vez, a comunidade internacional, inclusive países como a China, parecem agir em conjunto. Só isso já é um grande sucesso." Para Salameh, as sanções também têm sido eficazes, mas ele afirma que o Irã não pensa em recuar: "O Irã poderia dizer: 'se vocês continuarem a fazer pressão sobre nós, nós também faremos pressão sobre vocês por meio do fechamento do Estreito de Ormuz, forçando os demais Estados do Golfo Pérsico a parar de exportar.'" Isso desestabilizaria o preço do petróleo. E, no final, os maiores perdedores seriam os EUA. Pelo Estreito de Ormuz passam diariamente 20 milhões de barris de petróleo. A solução do problema está no reconhecimento do Irã como potência nuclear, disse Salameh: "Independentemente da pressão que o Ocidente exercer sobre o Irã, o país dará prosseguimento ao seu programa nuclear. Até agora, o Irã tem dito que tal programa se destina a fins pacíficos, mas eles só estão contando meia verdade", disse Salameh. Todos sabem que nenhum país que domine a tecnologia de enriquecimento do urânio se restringe ao esforço pacífico. "No final, o Irã irá ignorar toda a pressão e se tornará uma potência nuclear." Segundo Salameh, o Ocidente não tem alternativa a não ser aceitar esse fato. "E esse é o intuito do Irã," conclui.

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