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Maduro assume Presidência da Venezuela após grave crise política

Junto a um enorme retrato do falecido presidente, Maduro, de terno escuro e gravata vermelha, prestou juramento diante da Assembleia Nacional

17:50 | 19/04/2013
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Nicolás Maduro assumiu nesta sexta-feira, 19, a Presidência da Venezuela em nome do falecido líder Hugo Chávez, depois que a grave crise política desencadeada pela oposição após sua apertada vitória eleitoral foi apaziguada.

Junto a um enorme retrato do falecido presidente, Maduro, de terno escuro e gravata vermelha, prestou juramento diante da Assembleia Nacional para governar por seis anos e recebeu a faixa presidencial das mãos de uma das filhas de Chávez, María Gabriela.

"Juro pelo povo da Venezuela, juro pela memória eterna do comandante supremo que cumprirei e farei esta Constituição ser cumprida", disse Maduro, com a Carta Magna na mão esquerda.

Durante seu discurso, um homem vestido de vermelho burlou a segurança e pegou o microfone de Maduro, gritando "Nicolás, meu nome é...", antes que a transmissão fosse cortada.

O incidente provocou por alguns segundos a suspensão da transmissão televisiva do ato e, após alguns momentos de confusão, o presidente voltou a falar ao microfone, criticando a segurança e repreendendo o desconhecido por sua quebra de protocolo.

"A segurança falhou absolutamente, poderiam ter me dado um tiro aqui", disse o novo líder.

"Qualquer cidadão tem que entender que este é um evento que tem suas regras", completou.

Maduro, um ex-motorista de ônibus e ex-sindicalista de 50 anos que chegou a ser chanceler e vice-presidente, venceu por apenas 1,8% as eleições de domingo, o que fez o opositor Henrique Capriles não reconhecer o resultado, provocando uma tempestade política.

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O sucessor de Chávez tomou posse enquanto opositores realizavam um panelaço em algumas áreas de Caracas, apesar do clima mais tranquilo depois que o órgão eleitoral aceitou na noite de quinta-feira ampliar para 100% a auditoria das urnas, o que deixou, por ora, a oposição satisfeita.

Muitos governantes compareceram à cerimônia de posse, entre eles a presidente Dilma Rousseff, o cubano Raúl Castro, a argentina Cristina Kirchner e o iraniano Mahmud Ahmadinejad.

Milhares de seguidores do governo, vestidos de vermelho - cor emblemática do chavismo - festejavam fora da Assembleia. "Chávez vive, a luta continua!", gritava a multidão.

"É o legado do presidente, apoiá-lo é apoiar o 'Comandante Supremo'. Maduro é a continuidade do processo revolucionário da Venezuela", declarou à AFP José Rendó, um eletricista de 38 anos vindo do estado de Anzoátegui (leste).

O herdeiro de Chávez foi empossado depois de chegar a Caracas de madrugada, proveniente de Lima, onde recebeu o apoio dos presidentes membros da União das Nações Sul-Americanas (Unasul).

Apesar dos questionamentos da oposição, toda a América Latina, à exceção do Paraguai, endossou sua vitória, enquanto os Estados Unidos, que não reconhecem o resultado da eleição, apoiam uma recontagem de votos, embora tenham defendido que as portas entre os dois países não sejam fechadas.

Tensão diminui

Após uma semana de alta tensão, com episódios de violência que deixaram oito mortos, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que por lei verificou 54% das urnas no dia da eleição, decidiu que realizará uma auditoria sobre os 46% restantes, mas com base em uma amostra, o que significará uma abertura de dois terços das urnas que contêm os papéis.

Embora a recontagem total voto a voto, exigência da oposição, não seja realizada, Capriles, governador do estado de Miranda (norte) de 40 anos, celebrou a decisão do CNE e convocou seus seguidores a tocarem salsa, em vez de realizar panelaços e protestos, como nos últimos quatro dias. "Tempos bons estão vindo, em breve", escreveu em sua conta no Twitter nesta sexta-feira.

"Vamos Venezuela, a luta segue pela verdade!", declarou o líder opositor, que perdeu por 11 pontos para Chávez nas eleições de outubro e contra Maduro conseguiu captar o voto de centenas de milhares de chavistas.

Capriles nunca falou de fraude, mas de irregularidades em 3.200 casos. Se forem encontradas anomalias de peso na auditoria, que levará 30 dias, ele pode optar por impugnar a eleição perante o Supremo Tribunal de Justiça.

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A auditoria, que não é incompatível com a tomada de posse, foi apoiada pela Organização dos Estados Americanos (OEA), que a considerou um meio de propiciar "harmonia e tranquilidade".

Maduro, que acusou a oposição de orquestrar um golpe de Estado ao não reconhecer sua vitória, venceu as eleições com 50,8% dos votos contra 49% de Capriles, uma margem tão estreita quanto imprevisível, após uma campanha veloz e agressiva de dez dias.

Um dia após as eleições, quando Maduro foi proclamado presidente eleito, os ânimos se acirraram entre protestos de opositores e confrontos com chavistas, que deixaram oito mortos, cerca de 60 feridos e mais de uma centena de detidos.

Primeiro presidente chavista

Autoproclamado filho e apóstolo do homem forte que governou a Venezuela por 14 anos, Maduro enfrenta o desafio de preencher o vácuo deixado pelo líder, cuja revolução socialista partiu politicamente em dois o país, já dividido entre ricos e pobres.

"Serei o primeiro presidente chavista da história", afirma Maduro, casado com Cilia Flores, um peso pesado do governante Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), criado por Chávez.

Sem o carisma de Chávez e diante de uma oposição fortalecida - em seu melhor momento dos últimos 14 anos - Maduro tem como tarefa urgente organizar a economia, dependente da renda petroleira e das importações, afetada pela inflação, pela escassez e pela falta de divisas, assim como também atacar a criminalidade, que fez da Venezuela o país sul-americano com recorde de homicídios - 54 por cada 100.000 habitantes.

Maduro foi apresentado por Chávez como seu herdeiro político meses antes da morte do líder, em consequência de um câncer, no dia 5 de março. Ele promete manter os programas sociais de seu mentor a favor dos pobres - quase 30% dos 29 milhões de venezuelanos - custeados com as receitas do petróleo deste país com as maiores reservas do mundo.

Mas, além disso, enfrentará o desafio de garantir a lealdade das Forças Armadas, essenciais para a estabilidade do poder, e divididas política e ideologicamente, segundo os analistas.

AFP

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