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Denúncias de uso de armas químicas elevam pressão do Ocidente sobre Síria

13:11 | 26/04/2013
Israel e EUA apontam violações por parte do regime de Bashar al-Assad, mas especialistas ainda são céticos sobre uso em larga escala de armamento proibido e de que acusações possam levar a intervenção internacional. Desde o início da sangrenta guerra civil, há denúncias de que o ditador Bashar al-Assad usa armas químicas contra o povo sírio. O regime não nega tê-las, mas garante como reforçou recentemente o ministro da Informação, Omran al-Sobhi que só vai usá-las em resposta a uma eventual agressão externa. Mas a comunidade internacional, em especial Israel, hesita em confiar em tais assertivas. Na última terça-feira (23/04), o brigadeiro-general Itai Brun, principal analista de inteligência do Exército israelense, renovou a discussão ao apontar indícios, a partir de fotos de vítimas do conflito, de que Assad estaria usando armas químicas, provavelmente à base de gás de nervos sarin. "As pupilas contraídas, a espuma que sai da boca e outros sinais que vimos apontam para o uso de armas químicas mortais", disse Brun em conferência em Tel Aviv. A denúncia repercutiu em Washington, que reagiu com cautela. Enquanto o secretário de Defesa Chuck Hagel se mostrou hesitante, a Casa Branca enviou uma carta ao Congresso dizendo que, com "diferentes graus de segurança", pode ser dito que "veneno foi usado em pequena medida". O secretário de Estado John Kerry, por sua vez, mencionou dois casos concretos. No entanto, ressalvou, não é absolutamente certo que Assad tenha usado armas químicas. Tampouco está esclarecido sob que condições seu eventual uso possa ter ocorrido. Cautela por parte dos EUA Também Eyal Zisser, especialista em Síria da Universidade Moshe Dayan, em Tel Aviv, parte do princípio que o regime Assad usou armas químicas em situações isoladas, porém ainda não "em massa". Tanto o governo norte-americano quanto o israelense, afirma, sabem as consequências políticas das denúncias que fazem e, por isso, são cautelosos. Zisser diz que ainda faltam evidências mais concretas. Em ocasiões anteriores, o presidente dos EUA, Barack Obama, deixara claro que o uso de armas químicas pela Síria seria a "linha vermelha", cuja ultrapassagem justificaria uma intervenção militar internacional. "A posição básica dos EUA, no entanto, é de não querer uma intervenção militar", diz Zisser: esta só aconteceria caso houvesse provas mais claras e um número grande de vítimas fatais de armas químicas. Para Günter Meyer, do Centro de Pesquisas sobre o Mundo Árabe, da Universidade de Mainz, é pouco provável que o regime sírio se arrisque a cruzar a "linha vermelha" estabelecida por Obama. "Ataques com armas químicas também poderiam ser encenados pelas forças opositoras, de modo a colocar os EUA e a Otan sob pressão para que passem a fornecer oficialmente armas aos rebeldes", diz Meyer. Até o momento, apenas o Qatar e a Árabia Saudita abastecem assumidamente a oposição síria com armas. Dina Esfandiary, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres só considera possível que ocorra o uso de armas químicas em larga escala contra a população síria, se Assad "se sentir encurralado e não vir outra saída". Segundo ela, numa guerra tais armamentos não são eficientes nem direcionados. "Eles servem, antes, para espalhar medo e destruição." A Síria começou a desenvolver armas químicas em meados da década de 1970, com postos de produção perto de Aleppo, Homs, Damasco e Hama. Desde então, desenvolveu esse tipo de armamento com a ajuda de Estados árabes, da União Soviética e, mais tarde, do Irã, com o objetivo de compensar a superioridade militar israelense, explica o especialista Zisser. Temor de armas irem para radicais Entretanto ainda não está claro, nem onde todas as unidades de produção se encontram, exatamente, e qual o seu tamanho. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu ao regime de Damasco que admita no país uma equipe internacional de especialistas, para a fiscalização. A Síria não é signatária da Convenção Internacional sobre Armas Químicas e, por isso, não está obrigada a prestar contas sobre suas instalações. "Desde o início da guerra na Síria, os serviços secretos ocidentais tentam descobrir tudo sobre essas instalações, mas aparentemente eles ainda não conhecem o programa como um todo", diz Esfandiary. Segundo ela, o regime sírio investiu muito para colocar seus arsenais em segurança, e "alojou diferentes componentes em diferentes locais". Como divulgou a rede de TV CNN em fevereiro, o Exército estadunidense estima serem necessários cerca de 70 mil soldados para proteger todas essas instalações. Israel teme que as armas químicas acabem caindo nas mãos de grupos radicais ou do Hisbolá, durante a guerra civil na Síria ou no caos que provavelmente a sucederá. Também nesse caso, Damasco teria cruzado a "linha vermelha" de Obama. Mas Esfandiary não crê que os integrantes do Hisbolá façam uso das armas, caso elas jamais lhes caiam em mãos. "Eles tentam ser uma liderança política legítima no Líbano, e têm repetidamente justificado sua resistência com o fato de Israel investir de forma exagerada contra seu inimigos". Assim, seria comprometedor se o Hisbolá adotasse métodos que ele mesmo critica, argumenta a especialista em estudos estratégicos. Os vizinhos Turquia e Jordânia também demonstram preocupação com os arsenais químicos. Eyal Zisser acredita que ambos já cooperam estritamente para monitorar e impedir possíveis transportes de armas. "Essa guerra não conhece fronteiras", afirma o especialista: se o conflito escalar e se radicalizar, é bem possível que se espalhe pelos países vizinhos.

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