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Russos e cipriotas realizam negociações complicadas

"Espero que no fim das contas a solução adotada seja a mais pensada possível e que permita ajudar o Chipre e ao mesmo tempo não deteriorar nossas relações com a UE"

16:36 | 20/03/2013

MOSCOU, 20 Mar 2013 (AFP) - O ministro cipriota das Finanças, Michalis Sarris, iniciou nesta quarta-feira difíceis negociações com Moscou, determinado a conseguir o máximo em troca de ajuda financeira.

No início desta noite, o primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev considerou que "todos os erros possíveis" foram cometidos com a aproximação da crise financeira no Chipre.

No momento em que Moscou recebe na quinta-feira o presidente da Comissão Europeia José Manuel Barroso, Medvedev advertiu a UE e o governo cipriota de que suas decisões podem prejudicar as relações entra a Rússia e a UE.

"Espero que no fim das contas a solução adotada seja a mais pensada possível e que permita ajudar o Chipre e ao mesmo tempo não deteriorar nossas relações com a UE", acrescentou.

Sarris, que chegou na terça-feira à noite ao país, se reuniu nesta quarta com o ministro das Finanças russo Anton Siluanov e depois com o primeiro-ministro Igor Chuvalov, sem o anúncio de nenhum acordo.

A delegação cipriota cancelou uma coletiva de imprensa prevista para esta tarde.

Nicósia pede a Moscou uma extensão do crédito de 2,5 bilhões de euros concedido pela Rússia a Nicósia em 2011, e que deve ser pago pelo Chipre até 2016, a fim de conseguir certo alívio em suas finanças.

"Os russos são negociadores difíceis, mas não é de seu interesse que o Chipre declare falência. Se os bancos entrarem em colapso, a Rússia não perderá 10% e sim 100% de seus depósitos", revelou Ivan Tchakarov, economista da Renaissance Capital.

"O problema é o que poderá conseguir em troca", considerou.

O Ministério cipriota das Finanças indicou que está pronto para negociar com Moscou novos

investimentos. A imprensa russa citou na terça-feira o interesse do banco russo Gazprombank, controlado em grande parte pela gigante estatal Gazprom, por licenças de produção de gás natural ao longo da costa mediterrânea da ilha em troca de apoio financeiro.

De acordo com as agências russas, as negociações devem prosseguir até quinta-feira, coincidindo com a visita de Barroso, que se reunirá com o presidente Vladimir Putin.

O governo russo indicou em diversas ocasiões nos últimos meses que está disposto a flexibilizar as condições de empréstimo.

Mas após o anúncio do plano de resgate europeu, Anton Siluanov, criticando um projeto concluído sem consultar a Rússia, ameaçou rever novamente esta proposta.

Moscou acabou aventando a possibilidade da taxação sobre os depósitos bancários, em 9,9% para as contas que ultrapassam os 100.000 euros, o que afetaria as fortunas russas depositadas na ilha, que possui um sistema fiscal muito favorável.

Putin, que se reuniu terça-feira à noite com o chefe de Estado cipriota Nicos Anastasiades, lembrou sua "preocupação" em relação a qualquer medida que possa constituir "um prejuízo aos interesses russos" na ilha.

Hoje, Dmitri Medvedev também criticou a UE por ter deixado a Rússia de fora das negociações com o Chipre.

"Tais negociações e decisões devem ser discutidas com as diferentes partes envolvidas", ressaltou o primeiro-ministro russo.

"Temos nossas razões e interesses de Estado: nosso bancos detêm seus ativos, assim como muitos empresários russos", acrescentou.

"Nenhum de nós procura se esconder atrás da jurisdição especial do Chipre", declarou.

O valor dos bens russos no Chipre tem variado muito segundo estimativas, mas a agência Moody's faz um balanço de 31 bilhões de dólares. Isso representa mais de dois terços de todos os depósitos bancários na ilha, que contesta a sua imagem de máquina de lavar dinheiro sujo.

Os economistas do banco Sberbank consideram que as perdas sofridas pelos russos chegam a 40% dos 5,8 bilhões de euros em crédito fiscal, além de uma ajuda internacional de 10 bilhões de euros.

Para Alexe¯ Mukhine, diretor do Centro de informação política, Nicósia, depois de mostrar não ser leal para com a Rússia, irá propor "reforçar sua presença nos setores bancários e energéticos".

Mas "mesmo se a Rússia ajudar o Chipre, o capital russo partirá de qualquer maneira", prevê o analista.

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