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EUA entre prudência e inércia no conflito sírio

10:55 | 23/03/2013
Apesar das denúncias de uso de armas químicas por Assad e das mais de 70 mil mortes, Obama opta pelo comedimento e ainda parece distante de autorizar ação militar. Armar rebeldes também segue fora de questão. O presidente norte-americano, Barack Obama, resumiu sumariamente a situação atual na Síria: "Não está fácil". Dois anos de guerra civil no país já deixaram, até agora, um saldo de mais de 70 mil mortos. Apesar de todos os apelos e embargos internacionais, além de iniciativas diplomáticas, o presidente sírio Bashar al-Assad se apega ao poder. Até o momento, os EUA se opuseram a uma intervenção militar na Síria. Mas, segundo consta, na última terça-feira (19/03) ocorreu no país um ataque com gás tóxico, e se especula se isso não acarretará uma virada na posição norte-americana. Numa coletiva de imprensa em Jerusalém, ao lado do premiê israelense Benjamin Netanyahu, Obama repetiu: "Deixei claro que o emprego de armas químicas muda fundamentalmente a situação". Até agora não está esclarecido, contudo, é se realmente foram usadas substâncias químicas no ataque com mísseis a Aleppo, e por quem. Rebeldes e governo acusam-se mutuamente, e as Nações Unidas investigam o caso a pedido do presidente sírio. Obama, por sua vez, quer fatos, antes de tomar decisões: "Planejamos examinar detalhadamente o que realmente aconteceu", disse na quinta-feira. Na véspera, o embaixador dos EUA na Síria, Robert Ford, havia declarado numa audiência no Congresso norte-americano: "Até agora não temos nenhuma prova que confirme os relatos de que foram usadas armas químicas". Lembrança viva da guerra no Iraque A relutância em invadir a Síria tem suas razões na história recente. "O presidente Obama é bastante comedido no que tange a uma nova invasão militar no Oriente Médio. É uma consequência da guerra no Iraque, uma espécie de alergia à mobilização de tropas norte-americanas na região", explica Peter Feaver, professor de Ciências Políticas da Universidade Duke, nos EUA. A postura de Washington é compreensível, salientou em entrevista à Deutsche Welle, "entretanto, a não intervenção na Síria tem consequências políticas semelhantes à intervenção no Iraque". O presidente Obama rechaça a acusação de que os EUA estariam inertes, até agora. "Ajudamos a isolar o regime Assad em nível internacional. Apoiamos e reconhecemos a oposição. Concedemos centenas de milhões de dólares em ajuda humanitária e cooperamos incessantemente com outros países na região para lograr uma transição política na Síria." Armamento ou zona de exclusão aérea? Para a França e o Reino Unido, isso não é suficiente. Ambos querem armar os rebeldes e exigem a suspensão do embargo de armas da UE contra a Síria. Porém os EUA hesitam, por temer que o equipamento possa cair em mãos erradas. James Philips, especialista em Oriente Médio da conservadora HeritageFoundation, sugere que sejam fornecidas armas somente a comandantes previamente avaliados e não islâmicos. Em entrevista à DW, ele ressalva, porém: "Está certo não invadir a Síria com tropas em terra. Neste ponto, concordo com o governo [norte-americano]". O consenso é que a situação atual não é mais sustentável. Mas o que fazer? Num evento do Center for American Progress, Martin Indyk, ex-vice-secretário de Estado para o Oriente Médio do governo Bill Clinton, defendeu em a imposição de uma zona de exclusão aérea. "Precisamos voltar a alterar as relações de força, para que Assad pare de pensar que pode resistir, já que não vai haver uma intervenção militar", aponta Indyk. Segundo ele, se o presidente sírio não tivesse como usar seus aviões para bombardear a população civil, a situação seria muito diferente. Apoio às forças moderadas Sandy Berger, ex-consultor de segurança nacional dos EUA, também defendeu na rodada de debate um aumento da pressão sobre o regime de Assad, com o apoio dos aliados, mas sem o fornecimento de mais armas para a zona de conflito. Segundo ele, "é preciso apoiar a oposição, mas cooperando com as forças moderadas, para que não se crie uma Síria totalmente dividida, ou controlada pelos adeptos da Jihad, o que seria uma ameaça para a região". Em declaração durante a audiência no Congresso, o embaixador Ford explicou as diretrizes oficiais do momento: "No fim das contas acreditamos que uma transição política através de negociações seja a melhor solução para a crise na Síria, a longo prazo". Mas, e se todas as negociações de nada adiantarem e armas químicas forem utilizadas, o que será das ameaças de medidas contra a Síria? "Não quero levantar hipóteses numa audiência como esta", retrucou Ford. Em outras palavras: os EUA continuam não considerando, nem de longe, o envio de tropas de terra à Síria.

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