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Cardeal sul-africano Wilfrid Napier, adepto do dogma e das redes sociais

No início de 2000, foi criticado por sua impassibilidade em um caso de abusos sexuais contra menores por parte de sacerdotes

08:00 | 12/03/2013
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O papabile sul-africano Wilfrid Napier, ao mesmo tempo firme defensor do dogma e adepto das redes sociais, encarna algumas das contradições e dos paradoxos da Igreja Católica no século XXI.

Com 71 anos, o arcebispo mestiço de Durban prega a ideologia conservadora que fez sua igreja perder milhares de fiéis em todo o mundo. No início de 2000, foi criticado por sua impassibilidade em um caso de abusos sexuais contra menores por parte de sacerdotes.

Mas também é um dos cardeais que buscam novas maneiras de se dirigir ao mundo. É muito ativo no Twitter e prega uma transparência maior no topo da hierarquia católica.

Quando era jovem, os companheiros de sua equipe de futebol o apelidaram de "Rhino" (rinoceronte) por sua maneira de utilizar seu físico para abrir caminho na defesa adversária. "Chamávamos (Napier) assim por sua envergadura. Quando tinha a bola era muito difícil detê-lo, ia direto para a área e marcava muitos gols", lembra seu irmão mais velho Peter, em uma entrevista ao jornal sul-africano The New Age.

Wilfrid Napier, nascido em uma família de oito filhos da comunidade mestiça sul-africana, foi subindo pouco a pouco na hierarquia católica nos anos 1970 e 1980, ao mesmo tempo em que lutava contra o apartheid, o regime de segregação racial imposto na África do Sul pela minoria branca. Em 2001, foi proclamado cardeal.

Crítico dos líderes sul-africanos
Com a chegada da democracia, em 1994, Napier continuou dizendo o que pensava e recentemente fez críticas ferrenhas ao Congresso Nacional Africano (ANC), o partido no poder que surgiu da luta contra o apartheid.

Mas, em vez do tradicional sermão no púlpito, suas críticas contra o ANC, a quem acusa de pensar mais em seus próprios interesses do que nos de seus eleitores, tomaram a forma de um post em seu blog e de uma mensagem em sua conta no Twitter (@cardinalNapier), rede social que utiliza com muita frequência.

"Escrever este artigo era algo muito distante de seu caráter e foi muito valente", afirmou com entusiasmo Carlene Mettler, sua secretária há vinte anos, em uma entrevista à AFP.

Em 2008, Napier já havia criticado em um meio de comunicação australiano os líderes sul-africanos por distribuírem preservativos no âmbito de uma campanha de luta contra a Aids.

"Se fizerem da distribuição de preservativos a única política de luta contra o HIV, transmitirão a mensagem de que as pessoas não são capazes de controlar suas próprias vidas", disse na época.

Em fevereiro passado, o cardeal e arcebispo de Durban voltou a se opor à distribuição de preservativos em escolas católicas de sua região e classificou de imorais os projetos das autoridades locais de educação.

Seu respeito escrupuloso ao dogma católico também o leva a rejeitar os casamentos ao ar livre. "Para ele, o casamento é um sacramento que precisa ser administrado dentro de uma igreja", explica sua secretária.

Mas a atitude que gerou mais críticas até agora ocorreu em 2002, quando vieram à tona casos de abusos sexuais contra menores na Igreja sul-africana e Napier negou-se a expulsar os responsáveis.

A imprensa sul-africana, que estuda suas chances de se tornar o próximo Papa, destaca como ponto negativo o fato de não dominar tantas línguas europeias quanto seus antecessores. Mas destaca que Napier participou do conclave de 2005 que elegeu Bento XVI e conhece bem o funcionamento interno da Igreja.
AFP

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