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Novo presidente terá papel fundamental na recuperação do Chipre

15:46 | 17/02/2013
Antes da crise da dívida do euro, a Ilha de Afrodite era um destino turístico e um centro financeiro em expansão. Agora, o Chipre está à beira da falência. O novo presidente terá um mandato difícil pela frente. As eleições presidenciais realizadas neste domingo (17/02) no Chipre não conseguiram definir o novo presidente do país. Apesar de vencer claramente o primeiro turno, o candidato conservador, Nicos Anastasiades, não conseguiu a maioria absoluta necessária de votos. Dessa forma, haverá o segundo turno no próximo dia 24 de fevereiro. As primeiras projeções apontavam para uma vitória com maioria de 51% a 52,6% a favor de Anastasiades. Segundo o canal privado de TV Sigma, Anastasiades deveria receber entre 49% e 52% dos votos. Dados oficiais preliminares indicam que ele teria recebido 45% dos votos. Anastasiades disputará o segundo turno contra o candidato apoiado pelos comunistas, o esquerdista Stavros Malas, cujos prognósticos apontam ter recebido 27,3% dos votos. Malas é seguido pelo político de centro, George Lilikas, que deverá receber em torno de 19% dos votos cipriotas, segundo os prognósticos. Milagre passageiro Mas outros números, todavia, não dizem nada de bom sobre a ilha ensolarada na ponta sudeste da Europa: 15% de taxa de desemprego, o nível mais alto desde a divisão do Chipre, em 1974. Uma quota de endividamento de 85% do Produto Interno Bruto (PIB). Cinco anos atrás, essa cifra era inferior a 50%. Andreas Theophanous preside o Centro de Estudos Europeus e Desenvolvimento Internacional da Universidade de Nicósia. Ele considera a integração do setor financeiro cipriota com a economia grega como fator importante para o rápido declínio: "Quando a crise chegou à Grécia, nós também fomos afetados. E com o corte da dívida, perdemos, numa só noite, 25% de nosso PIB." Porque bancos cipriotas detinham títulos da dívida grega e, com o corte da dívida que beneficiou Atenas, eles tiveram de renunciar a 4,5 bilhões de euros. O segundo motivo para as dificuldades financeiras do país seriam os altos gastos públicos, disse Theophanous: "As despesas do Estado somam, atualmente, quase metade do PIB e isso é perigoso." Segundo o acadêmico, Chipre teria muitos funcionários públicos, os salários seriam muito altos e o sistema de bem-estar social seria generoso demais e, dessa forma, muito caro. Os cipriotas se ativeram a estruturas tradicionais e ao pensamento de que o "milagre econômico" no Chipre iria continuar para sempre, explicou o economista Theophanous. Boom apesar da divisão Já na década de 1960, a economia do Chipre vivenciava um boom. Mesmo a invasão do norte da ilha por tropas turcas, em 1974, não provocou grandes estragos, disse o historiador Heinz Richter, que observa o desenvolvimento do país há mais de três décadas. Mas nesse contexto, para a população, a divisão do país teve consequências de longo alcance: "De repente, um terço dos cipriotas era refugiado. A situação pode ser comparada somente com a Alemanha em 1945", acresceu Richter. Quando veio para o Chipre, pela primeira vez em 1979, ele chegou a ver as últimas cidades-acampamento. "E nessa época, eles conseguiram eliminar os efeitos da invasão e crescer economicamente", disse Richter Com otimismo, Andreas Theophanous, da Universidade de Nicósia, disse que os cipriotas endossariam, agora, as reformas necessárias. Mas em vez de um rigoroso programa de austeridade econômica, como foi o caso na Grécia, o economista sugere um ritmo moderado nas reformas necessárias no setor público: "Quando um país está numa crise econômica, e vem-se com tal pacto de austeridade, a crise vai ficar ainda pior." Lavagem de dinheiro russo Segundo o economista, esse seria o momento exato para reaquecer a economia cipriota. O setor de serviços perfaz 80% do rendimento econômico. De um lado, está o turismo, que precisa ser modernizado. Do outro, está o setor financeiro. Anteriormente, fechavam-se negócios com o mundo árabe. Nas últimas duas décadas, os juros baixos atraíram, sobretudo, russos. O Chipre e a Rússia cultivam relações políticas, culturais e religiosas de longa data. Os russos lavam dinheiro na pequena ilha do Mediterrâneo. "Já se sabe há pelo menos 20 anos que dinheiro é lavado no Chipre, especialmente o dinheiro russo", disse Heinz Richter, levando a pergunta de por que, somente agora, a União Europeia (UE) se deu conta dessa prática. Mas críticas também vêm de Bruxelas: estabilizar monetariamente os bancos cipriotas seria o mesmo que salvar institutos financeiros que lavam dinheiro sonegado russo, afirmou a UE. Andreas Theophanous considera exagerada a discussão sobre a lavagem de dinheiro: Em outros lugares, haveria problemas ainda maiores, como também não existe uma intenção de que dinheiro seja lavado no Chipre. "Ninguém quer lavar dinheiro. Faz-se todo o possível para que tudo seja realizado legalmente", disse o economista da Universidade de Nicósia. Recomeço positivo Tudo indica que o conservador Nicos Anastasiades exercerá um papel fundamental na recuperação econômica do país. O antigo presidente, Dimitris Christofias, considerava-se um comunista. Isso não ajudou o Chipre no cenário internacional, acreditam observadores. Com o novo presidente, a situação pode mudar: "Anastasiades faz o tipo executivo da Europa Ocidental, é mais aberto para a economia e não foge de problemas", opinou o historiador Richter. Na opinião do economista Theophanous, no entanto, o próximo presidente não poderá resolver sozinho todos os problemas: "A sociedade cipriota quer um recomeço positivo. Mas precisamos da solidariedade de nossos parceiros." Ou seja, dos 17,5 bilhões que o Chipre pediu, já em meados do ano passado, como ajuda econômica de emergência à União Europeia. Autora: Daphne Grathwohl / Carlos Albuquerque Revisão: Fernando Caulyt

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