O governo venezuelano publicou nesta sexta-feira, 15, as primeiras fotos do presidente Hugo Chávez desde que foi operado em Havana há mais de dois meses, nas quais aparece sorridente junto a suas filhas, e anunciou que o líder está respirando através de um tubo de traqueostomia que dificulta a sua fala.

Nas fotos, apresentadas em uma mensagem televisionada dirigida à nação, aparece no hospital acompanhado por suas duas filhas mais velhas, Rosa Virginia e María Gabriela, com um exemplar do jornal oficial cubano Granma de quinta-feira.

Nas quatro imagens - muito parecidas entre si e fornecidas pelo ministro da Ciência e genro de Chávez, Jorge Arreaza -, o presidente é visto na cama do hospital, com um casaco esportivo fechado até pescoço, sorrindo.

Suas duas filhas posam com ele ao lado da cama em uma atitude carinhosa, enquanto olham com o pai o jornal Granma, cuja capa corresponde ao dia 14 de fevereiro, comprovou a AFP.

"Estas fotos nos dão tranquilidade", explicou Arreaza em uma mensagem transmitida de forma obrigatória por todas as redes de televisão e rádio do país.

Repercussão
"Está vivo! Está vivo! É preciso agradecer a Deus e a todo mundo. É uma prova", comemorou, emocionada, Dora Salcedo, de 67 anos, na Esquina Caliente, no centro de Caracas, um ponto habitual de reunião dos chavistas, onde dezenas de pessoas se concentraram depois de saber da notícia.

No Twitter, os seguidores do presidente retuitaram maciçamente a hastag "Chávez vive e sorri".

"Para quem está morto, você está muito bem, Comandante!", ironizou @moramaldonado, em alusão aos rumores da morte do presidente que circulam continuamente pelas redes sociais.

Cirurgia em Cuba
A última vez em que os venezuelanos viram Chávez foi na manhã de 10 de dezembro no aeroporto de Maiquetía, em Caracas, onde se despediu com um "Hasta la vida siempre!", antes de partir para Cuba para ser submetido pela quarta vez no dia seguinte a uma cirurgia para tratar seu câncer.

As imagens foram transmitidas com atraso pela rede de televisão estatal VTV, horas após a saída do presidente.

Desde a operação, o governo divulgou periodicamente relatórios sobre seu estado de saúde, mas nunca havia mostrado fotos de Chávez, e todos os líderes latino-americanos que passaram por Havana diziam não tê-lo visto.

Junto a Arreaza, o ministro da Comunicação, Ernesto Villegas, explicou que Chávez segue apresentando um certo grau de insuficiência respiratória.

"Diante desta circunstância, que está sendo devidamente tratada, atualmente o comandante Chávez apresenta respiração através de cânula traqueal, que dificulta temporariamente sua fala", disse.

"A equipe médica aplica um tratamento enérgico para a doença de base que não está isento de complicações", acrescentou.

No entanto, Chávez "permanece consciente com integridade das funções intelectuais, em estreita colaboração com sua equipe de governo e à frente das tarefas" do governo, acrescentou Villegas.

"Há alguns dias, os mentirosos diziam que falavam com o Presidente, agora dizem que não pode falar! Zombam de seu próprio povo", reagiu em sua conta do Twitter o líder opositor, Henrique Capriles, que na quinta-feira voltou a acusar o governo de mentir aos venezuelanos sobre o verdadeiro estado de saúde do presidente.

Apesar de advertir que o presidente está se submetendo a tratamentos complexos e duros, o governo sustenta que segue no comando do país, tomando decisões e emitindo decretos que carregam sua assinatura.

Ausência na posse
Chávez, de 58 anos, não conseguiu participar de sua posse no dia 10 de janeiro, como estava previsto, depois de ser reeleito para um terceiro mandato de seis anos no dia 7 de outubro.

No entanto, o Supremo Tribunal autorizou que ela ocorra mais adiante, quando estiver em condições, ao mesmo tempo em que endossou que seu governo do mandato 2007-2012 siga em funções.

O presidente anunciou no dia 8 de dezembro uma recorrência do câncer detectado inicialmente em meados de 2011 e designou pela primeira vez um sucessor, o vice-presidente Nicolás Maduro.

Maduro seria o candidato governista nas eleições que seriam realizadas se Chávez ficasse incapacitado para governar.

Chávez conta com uma autorização indefinida da Assembleia Nacional, de maioria governista, para permanecer em Cuba pelo tempo necessário até que se recupere.

Não se sabe a natureza ou a gravidade de seu câncer, que o levou a se submeter a quatro cirurgias, além de quimioterapia e radioterapia, em tratamentos realizados quase exclusivamente em Cuba, onde goza de uma privacidade absoluta, acompanhado de seu aliado e amigo, o líder cubano Fidel Castro.

AFP