PUBLICIDADE
Notícias

Aumenta tensão em torno do programa nuclear iraniano

13:35 | 07/02/2013
Autoridades do país persa se contradizem quanto à disposição em negociar com potências ocidentais. Para céticos, Irã manobra para ganhar tempo e seguir com enriquecimento de urânio. A alternativa a uma solução diplomática do conflito em torno do programa nuclear iraniano poderia significar uma guerra. Algo que, afinal de contas, ninguém quer, observa Michael Brzoska, diretor do Instituto de Pesquisa da Paz e Política de Segurança, sediado em Hamburgo. "Na verdade, o Irã sempre disse que estaria disposto a negociar." O país voltou a sinalizar essa disposição no último fim de semana, durante a Conferência sobre Segurança de Munique, quando o ministro iraniano do Exterior, Ali-Akbar Salehi, atendeu ao convite do vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para o diálogo. Passada a conferência, o negociador-chefe do Irã para assuntos nucleares, Said Jalili, confirmou que seu país participará de um encontro no Cazaquistão, no dia 26 de fevereiro, com a finalidade de mais uma vez discutir sobre o seu programa nuclear. Entretanto, nesta quinta-feira (07/02), o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, rejeitou absolutamente as propostas para uma negociação direta com os Estados Unidos. Foi a primeira vez que Khamenei se pronunciou a respeito das esperanças de negociação suscitadas em Munique. Para os céticos, as reviravoltas na disposição iraniana para negociar com as potências ocidentais são apenas uma estratégia para ganhar tempo e avançar com o programa nuclear. Teerã insiste no direito de enriquecer urânio para fins civis. Enquanto isso, o lado oposto teme que a meta seja produzir armas atômicas, e que haja um segundo programa nuclear, secreto. Há anos as negociações são repetidamente suspensas, ameaças são pronunciadas e novas tentativas recomeçam. A um passo da bomba atômica? A comunidade ocidental pressiona por uma solução, pois o tempo urge. Quanto mais as negociações se estendem, mais provável é que o Irã venha a confrontar o mundo com fatos consumados. "Há fortes razões para levar a sério os temores israelenses de que o Irã esteja a um passo de uma bomba atômica", opina Brzoska. Ele diz não acreditar que o país realmente tencione construir armas nucleares. Mas caso o governo se decida nesse sentido, "será uma questão de dois, três meses". Por isso, o Ocidente procura aumentar a pressão sobre Teerã através das sanções econômicas, para forçar o país a retornar à mesa de negociações. Ainda no fim de 2012, as medidas punitivas voltaram a ser endurecidas. "As sanções parecem, de fato, sutir efeito", registra o diretor do Instituto de Pesquisa da Paz. A dinâmica econômica piorou, e o país vende cada vez menos petróleo, possivelmente a preços mais baixos. "A entrada de capital no país caiu, e o comércio sofre", diz Brzoska. Pressão de Tel Aviv O Irã exige o relaxamento das sanções como condição para eventuais conversações, acentuou o ministro Salehi em Munique. Até o momento, o lado contrário os cinco membros do Conselho de Segurança da ONU com poder de veto, mais a Alemanha tem descartado afrouxar as medidas antes das negociações, e ainda não está claro se, no meio tempo, houve mudança nesse ponto de vista. Enquanto no início das negociações estava fora de questão qualquer forma de enriquecimento de urânio, hoje é maior a disposição de permitir o enriquecimento voltado para reatores atômicos de água leve sob supervisão internacional. No entanto, Israel rejeita veementemente essa perspectiva. Afinal, também urânio de baixa porcentagem pode ser rapidamente enriquecido e empregado em armas nucleares. "Quando o Irã possuir armas nucleares, não haverá mais retorno", diz Yossi Mekelberg, do think tank britânico Chatham House. Por isso, Tel Aviv exige sanções mais severas. "O governo israelense está convencido de que as negociações são uma tática de procrastinação, em vez de uma tentativa de acordo." O politólogo assegura: Israel não acredita que seja possível uma solução política para a atual situação. "A liderança israelense quer convencer o mundo de que, se não for elevada a pressão sobre o Irã, Israel também investirá com meios militares." Diálogo ou guerra "Um ataque israelense contra as centrais nucleares seria um grande erro", avalia Pierre Goldschmidt, da ONG Carnegie Endowment for International Peace. "Um ataque desses daria aos iranianos motivos contundentes para abandonar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares se é isso que desejam e trabalhar num programa de desenvolvimento de armas atômicas se for este o seu interesse." Até 2005, Goldschmidt foi vice-diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), também encarregada de inspecionar o programa nuclear do Irã. Ele reivindica uma "anistia temporária" para o país, um espaço de tempo durante o qual lhe seja possível divulgar, impune, os detalhes do programa nuclear secreto desvendado em 2003. "Isso criaria a base de confiança necessária", afirma. Ele antecipa um grande avanço nas negociações, antes das eleições presidenciais de junho no país. Por sua vez, Götz Neuneck, do Instituto de Pesquisa da Paz de Hamburgo, considera improvável que a linha de conduta iraniana venha a mudar, mesmo sob um novo presidente. Pois entre a elite política do país são raras as vozes contrárias ao programa, e a própria oposição apoia o curso pró-nuclear. Assim, "o novo presidente não terá uma posição tão sensacionalmente diferente", conclui. É também possível que as vozes mais moderadas fiquem mais fracas, nos próximos meses. "O Irã tem a sensação de estar encurralado", diz Brzoska, referindo-se à guerra civil na Síria. Ao lado do grupo militante Hisbolá no Líbano, o regime sírio de Bashar al-Assad é o principal aliado dos iranianos, que se sentem cercados por Estados inimigos quer se trate de Israel, quer das tropas norte-americanas no Afeganistão ou Arábia Saudita. Caso seu aliado mais próximo caia, a paranoia e o medo poderiam passar a dominar as negociações. Também por esse motivo, a situação é urgente, e especialistas como Neuneck apostam nas conversas diretas entre Washington e Teerã. "Na verdade, ambos os lados estão condenados a dialogar." Caso contrário, o resultado poderá ser, de fato, uma nova guerra no Oriente Médio. Autoria: Naomi Conrad (av) Revisão: Francis França

TAGS