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Gregos divulgam listas para 'caçar' sonegadores

14:21 | 13/12/2012
Nem Margarita Papandreou, mãe do ex-primeiro-ministro, escapou: ela e outros milhares de gregos são suspeitos de ter enviado bilhões de euros ilegalmente para contas na Suíça. O ponto de partida das especulações foram relatos dos semanários atenienses To Vima e Proto Thema, afirmando que Margarita Papandreou, de 89 anos, teria depositado, sob um codinome, 500 milhões de dólares em contas bancárias na Suíça. Não existem provas sobre a transferência os dois semanários citam supostas declarações de importantes autoridades fiscais durante uma auditoria. Tais autoridades teriam declarado que um "laranja" de Margarita Papandreou apareceria na chamada "Lista Lagarde" em alusão à diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. O documento contém nomes e dados bancários de correntistas gregos na filial suíça do banco HSBC e, aparentemente, fazia parte de um conjunto de dados que o governo francês comprou de um funcionário do banco. Em 2010, a lista foi entregue ao então ministro das Finanças George Papaconstantinou. A lista desapareceu em circunstâncias misteriosas no labirinto da burocracia grega, até ser descoberta em outubro pelo jornalista ateniense Costas Vaxevanis, que publicou alguns trechos em sua revista de política Hot Doc. Campanha de difamação política? O ex-premiê George Papandreou rejeita todas as acusações e fala de uma campanha de difamação contra ele e sua família. E isso não pode ser descartado de imediato, porque é sabido na Grécia que Papandreou fez diversos inimigos entre os editores gregos durante o seu governo. Além disso, algumas das supostas testemunhas negam ter dado tais declarações. "Eu nunca tomei conhecimento da chamada lista Lagarde", disse, no início de dezembro, o auditor fiscal Nikos Lekkas, que aparece em todas as reportagens jornalísticas como o descobridor do escândalo. Ele acrescentou: "Além disso, eu nunca mencionei nomes concretos ou dei a entender que, de alguma forma, eles estariam relacionados a esse assunto." Milagrosa multiplicação de listas Isso deixa em aberto a intrigante pergunta: Quando é que os gregos poderão finalmente conhecer os nomes exatos de sonegadores famosos, que comprovadamente transferiram bilhões de euros para o exterior? O governo tenta acalmar os ânimos, assegurando que está se esforçando ao máximo para estabelecer um acordo tributário com a Suíça. Mas muitos duvidam do sucesso das negociações. Michel Dérobert, diretor da Associação Suíça de Banqueiros Privados, declarou ao semanário Proto Thema: "Se a moral fiscal no país já é fraca, ela não será reforçada através de um acordo tributário com outros países. Porque, nesse caso, a maioria dos afetados provavelmente iria pensar: 'se eu já não pago imposto no meu próprio país há anos, por que eu deveria fazer isso agora justamente na Suíça?'" A falta de informações oficiais abre espaço para especulação. Atualmente, não circulam só uma ou duas, mas cinco diferentes listas com nomes de suspeitos ligados a diversos escândalos fiscais: segundo relatos da mídia, a notória Lista Lagarde está sendo complementada por outra lista da associação grega de bancos, na qual aparecem os nomes de clientes bancários endinheirados. Além disso, há ainda uma lista de proprietários gregos de imóveis nas principais capitais europeias, como também uma lista de 54.246 correntistas, que, de acordo com o Ministério das Finanças grego, já teriam transferido mais de 22 bilhões de euros para o exterior desde o início da crise de endividamento. A última descoberta: recentemente, um diário ateniense publicou uma lista com 1.747 nomes, suspeitos de "enriquecimento súbito". "Eu paguei propina" Todas essas listas têm algo em comum: elas fornecem evidências circunstanciais e muito assunto para conversa, mas nenhuma prova. Procura-se ali somente um bode expiatório? Na verdade, a apresentação de provas seria uma tarefa das autoridades fiscais responsáveis, que estão relutantes em avançar com seus trabalhos. Em entrevista ao jornal ateniense Kathimerini, o professor de informática e ex-secretário-geral no Ministério das Finanças, Diomidis Spinellis, responsabilizou o sistema: "Alguns dos funcionários no Ministério era bem qualificados, outros eram menos, e muitos praticamente só esperavam pelo fim do expediente." O professor de informática diz já não mais poder confiar nas promessas do Estado e teve uma ideia brilhante para mais justiça fiscal: Spinellis criou uma página de internet, na qual qualquer cidadão pode denunciar casos de corrupção e sonegação fiscal, de forma anônima. O site é mantido por voluntários e já foi copiado por outros ativistas. Uma ativista grega de 22 anos criou seu próprio site com o sugestivo nome de Edosa Fakelaki, que em português significa algo como "eu paguei propina". Em poucas semanas, centenas de usuários registraram-se no site. A maioria das vítimas denuncia propinas pagas em hospitais públicos, em companhias estatais de eletricidade ou até mesmo no exame da carteira de habilitação. Autor: Jannis Papadimitriou (ca) Revisão: Francis França

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