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Dilma e Hollande mostram tom afinado a favor de investimento contra a crise

17:54 | 11/12/2012
Em sua primeira visita oficial à França, presidente busca estreitar relações com Hollande para fazer frente à política de austeridade europeia. Dilma também comentou denúncias de corrupção envolvendo ex-presidente Lula. Em sua primeira visita à França como presidente do Brasil, Dilma Rousseff foi recebida com todas as honrarias a que um chefe de Estado tem direito. A cerimônia oficial de chegada a Paris foi celebrada na manhã fria desta terça-feira (11/12) no Museu do Exército Francês (Hôtel des Invalides), seguida de um desfile em carro escoltado por cavalaria pela Explanada dos Inválidos e pela Avenida de Champs Elysées, onde bandeiras do Brasil e da França estão hasteadas. Dilma busca estreitar as relação com o presidente francês François Hollande para fazer frente à política de austeridade imposta pelos governos europeus para combater a crise. "Projetos que visam somente a austeridade levarão esses países a fracassar", destacou. A governante reiterou as críticas ao modelo europeu de ajuste à crise internacional e afirmou que os aumentos de impostos e cortes de benefícios e salários na zona do Euro podem causar uma séria recessão. Durante seu discurso no Fórum pelo Progresso Social, organizado pelo Instituto Lula e pela Fundação Jean-Jaurès, a presidente apresentou a experiência brasileira de incentivo ao crescimento para combater as dificuldades econômicas, dizendo que a solução para a crise seria o investimento público e estímulos ao crescimento. Ela também defendeu a união bancária na zona do euro e a possibilidade de o Banco Central Europeu emitir títulos das dívidas de países do bloco. "A responsabilidade fiscal é tão necessária quanto são imprescindíveis as medidas de estímulo ao crescimento", disse Dilma.  O presidente francês sustentou que a saída para superar a crise está apoiada em quatro pontos principais: crescimento econômico, geração de empregos para os jovens, transição energética e luta contra a desigualdade. "Se construímos a Europa, é para que todos os países tenham as mesmas condições", afirmou. O discurso afinado de Dilma e Hollande em relação à política econômica revela as ambições comuns dos dois países e se segue a um histórico de boas parcerias. De acordo com dados do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, o intercâmbio comercial entre Brasil e França cresceu 40% nos últimos cinco anos, chegando a 9,78 bilhões de dólares em 2011. Entre 2001 e 2011, o estoque de investimentos franceses no Brasil cresceu cerca de 19 bilhões de dólares. Em 2011, a França foi o quinto maior investidor no País. Os caças franceses Durante todo o dia, as atenções estiveram voltadas para uma possível novidade em relação à licitação de 36 caças da Força Aérea Brasileira (FAB), em que concorrem a empresa francesa Dassault, com o modelo Rafale, a norte-americana Boeing, com o F/A-18 Super Hornet, e a sueca Saab, com o Gripen NG. As três candidatas disputam o contrato de cerca de cinco bilhões de dólares para a renovação da frota de aeronaves do Brasil. A princípio, a decisão era esperada para 2011, mas foi adiada pelo governo brasileiro devido a problemas de orçamento e pela desaceleração da economia com a crise financeira mundial. "Isso nos leva a ter cautela com nossos gastos. [A decisão] pode levar algum tempo, depende de quando vamos nos estabilizar", disse Dilma durante a coletiva no Palácio do Eliseu na noite desta terça-feira. Hollande afirmou que o Brasil tem todos os elementos para escolher entre os três concorrentes e deve ter liberdade para tomar a decisão. "Eu sei da qualidade excepcional dos Rafale, mas cabe ao Brasil escolher", afirmou. Escândalos de corrupção Dilma comentou também as acusações levantadas pelo jornal O Estado de S. Paulo de que o empresário Marcos Valério teria pago despesas pessoais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, no chamado esquema do mensalão. A presidente disse que tem grande admiração, respeito e amizade pelo ex-presidente, e afirmou considerar lamentáveis as tentativas de desgastar a imagem de Lula e de destituir a "imensa carga de respeito que o povo brasileiro lhe tem". Hollande afirmou que, para os franceses, Lula tem a imagem de um homem que defendeu princípios de justiça e solidariedade, e é visto como referência. Lula e o diretor do Instituto Lula, Paulo Okamoto, foco das últimas denúncias do mensalão, também estavam presentes durante o Fórum pelo Progresso Social em Paris, cujo tema foi o crescimento como saída para a crise. Atos assinados A visita teve como objetivo também o aprofundamento da parceria estratégica entre os dois países, o que abrange iniciativas de cooperação em defesa, energia, comércio, desenvolvimento sustentável e ciência, tecnologia e inovação, bem como nas áreas espacial, transfronteiriça, educacional e cultural. Entre os atos assinados, estão a ampliação do programa Ciências sem Fronteiras, que deve receber mais 10 mil estudantes brasileiros até 2015. Hoje, a França é o segundo país que mais recebe estudantes do Brasil e o principal país na recepção de bolsistas brasileiros desde 2009. Segundo dia Esta é a segunda viagem de Dilma à Europa em quinze dias, após a participação na 22ª Cúpula Ibero-Americana de Cádiz, na Espanha, no dia 17 de novembro. Nesta quarta-feira, a presidente participa de um seminário de parcerias estratégicas no Medef, maior entidade empresarial francesa. Ela tem reuniões com o prefeito de Paris, Bertrand Delanoé, e com o presidente do Senado, Jean Pierre-Bel. Dilma foi à França acompanhada dos ministros das Relações Exteriores, Antonio Patriota, da Defesa, Celso Amorim, da Fazenda, Guido Mantega, da Indústria e Comércio, Fernando Pimentel e da Educação, Aloizio Mercadante. Integram também a delegação brasileira o assessor para Relações Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster e o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, entre outras autoridades. Autora: Julia Assef, de Paris Revisão: Francis França

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