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Conselho de Segurança da ONU aprova missão no Mali

14:58 | 21/12/2012
A Organização das Nações Unidas deu luz verde para uma missão militar no Mali. Mas especialistas não esperam que tropas africanas partam para o norte do país em breve, pois ainda não se sabe quem irá financiar a missão. O ministro do Exterior do Mali, Tieman Coulibaly, classificou como um passo histórico a resolução aprovada nesta quinta-feira (20/12) pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, de uma missão militar no Estado africano do Mali. Desde janeiro de 2012, o país tem sido abalado por conflitos internos no norte. Inicialmente, membros do grupo étnico dos tuaregues lutavam ali por um Estado independente. Em abril, rebeldes islâmicos assumiram a liderança. Eles pretendem instalar no Mali uma teocracia e estão intimamente ligados ao grupo terrorista Al Qaeda. A longo prazo, o norte do Mali poderia se tornar um refúgio para o terrorismo islâmico. Resolução sim, apoio, talvez "O Mali saúda esta resolução", declarou Coulibaly em Nova York. Segundo o ministro malinês, ela mostra o empenho da comunidade internacional em apoiar seu país na luta contra o terrorismo e o crime organizado transnacional. "Pois eles ameaçam perigosamente a estabilidade regional, a paz e a segurança do mundo." Já em outubro, o Conselho de Segurança havia deixado claro, numa primeira resolução, que seria favorável a uma intervenção militar de Estados africanos no Mali. A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Ecowas) já havia concordado em enviar 3 mil soldados para apoiar o Exército malinês na luta contra os rebeldes. No entanto, o poderoso órgão das Nações Unidas considerou o plano militar da Ecowas insuficiente. Depois de meses de idas e vindas em torno dos planos operacionais e melhorias por parte da Ecowas, o Conselho de Segurança aprova agora pela primeira vez uma missão militar africana. Na African-led International Support Mission (Afisma, Missão internacional de apoio liderada pela África no Mali), tropas da Ecowas auxiliarão o Exército malinês na libertação do norte do país. Sem dinheiro, sem missão O Conselho de Segurança, no entanto, não apresentou nenhum cronograma para a missão da Afisma. O que também ainda falta é dinheiro. Uma missão militar custa até 500 milhões de euros. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, deverá organizar uma conferência de países doadores para obter os fundos necessários, diz a resolução. "Além da UE, até agora ninguém concordou em prestar nenhuma contribuição financeira", disso Karl Flittner, que até 2012 era o embaixador alemão em Bamaco. Em conversa com a DW, o diplomata aposentado mostrou-se cético quanto ao sucesso do Exército malinês sem um maciço apoio logístico. "Ele [o Exército] está muito fraco e desmoralizado e muito, muito mal equipado. E acredito que a União Europeia seja o endereço certo para prestar ajuda. Ainda não se tem outros doadores. Eles vão ter que ser procurados." Europa oferece conselheiros militares Mas mesmo que a missão não fracasse pela falta de recursos, "a questão é se a Ecowas conseguirá organizar tropas de verdade", disse Karl Flittner. Os países-membros da União Europeia (UE) e os EUA já declararam que não irão empregar tropas de combate próprias. Por esse motivo, uma missão não deverá ter início antes de setembro do próximo ano, disse Flittner à DW. "Isso corresponde, infelizmente, à realidade." Caso ela tenha início, um grupo de países europeus anunciou que iria apoiá-la, não somente com dinheiro, mas também com conselheiros militares. Entre esses países, estão a França, Polônia, Espanha e Alemanha. Como antiga potência colonial, particularmente a França ainda mantém laços políticos e econômicos estreitos com os Estados da África Ocidental. Como único país ocidental, recentemente a França defendeu uma solução militar da crise do Mali. Paris havia pressionado para que uma resolução fosse adotada ainda este ano, tendo apresentado um projeto de resolução no Conselho de Segurança. Ameaça e negociação "Nosso texto não é uma declaração de guerra", disse o embaixador francês na ONU, Gérard Araud, em Nova York. Segundo o embaixador, através da resolução aprovada o Conselho de Segurança ainda não teria se decidido por uma solução militar da crise do Mali. "Pelo contrário, através dela, expressamos nossa esperança de que um diálogo entre o governo em Bamaco e os rebeldes e terroristas no norte possa levar a uma solução política", disse Araud. De fato, o Conselho de Segurança instou o governo em Bamaco a dar continuidade às conversações de paz. Desde o início de dezembro, o governo malinês está negociando com dois dos quatros grupos rebeldes que controlam o norte do país. Um deles é o grupo islâmico Ansar Dine, os "defensores da fé". O governo negocia ainda com os rebeldes tuaregues do Movimento Nacional de Libertação do Azawad (MNLA). No entanto, islâmicos radicais expulsaram, em grande parte, esses grupos de cidades maiores no norte do país. "Além disso, de qualquer maneira, não é possível negociar com essas pessoas, caso se queira respeitar alguns princípios", explicou o ex-embaixador alemão Karl Flittner, em entrevista à DW. Por um lado, eles rejeitam a estrita separação entre Estado e religião, prevista na Constituição malinesa. Por outro, comprometem a integridade territorial do Mali. "Pois o verdadeiro objetivo dos rebeldes tuaregues é um Estado próprio." Até agora, em suas discussões conjuntas, rebeldes e governo só conseguiram o consenso de que iriam continuar as negociações. Para os que atualmente sofrem sob a ocupação do norte do Mali pelos radicais islâmicos, também nada muda com o cenário ameaçador de uma intervenção da Afisma, explicou Annette Lohmann, da Fundação Friedrich Ebert em Bamaco. "Além disso, existem mais de 400 mil refugiados", disse à Deutsche Welle. "A situação deles também não vai sofrer nenhuma mudança." Autor: Peter Hille (ca) Revisão: Augusto Valente

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