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"Censura prévia a jornalistas brasileiros é herança do coronelismo"

17:27 | 19/12/2012
Para especialista da ONG Repórteres sem Fronteiras, possibilidade de políticos calarem jornalistas com ordem judicial prejudica liberdade de imprensa. Cencentração midiática impede ampla participação da sociedade. A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) apresentou, em seu recente relatório, um preocupante panorama da liberdade de imprensa no Brasil. O país consta entre as cinco nações mais perigosas do mundo para se exercer a profissão de jornalista. Somente em 2012, cinco profissionais foram assassinados dois deles, ao que tudo indica, foram mortos por investigar casos de narcotráfico. Em entrevista para a DW Brasil, Benoît Hervieu, diretor do escritório para as Américas da RSF, disse que a impunidade é um dos principais fatores para a onda de violência contra os profissionais do jornalismo no país, mas não o único. Outro problema citado é a censura prévia por parte da Justiça, o que seria uma "herança do coronelismo brasileiro". "Isso porque há uma ligação muito forte entre o poder judiciário estadual e os governadores, senadores, etc.", frisou. DW Brasil: Qual o balanço do relatório deste ano sobre a liberdade de imprensa no Brasil? Benoît Hervieu: O número de mortos deste ano faz com que o Brasil seja considerado o segundo país mais perigoso do continente para o trabalho do jornalista, depois do México. Foram onze jornalistas assassinados no Brasil, sendo que cinco dos casos têm relação direta com a profissão. Dois desses jornalistas investigavam o narcotráfico na fronteira com o Paraguai, então estavam claramente expostos ao perigo. A cobertura das recentes operações contra o crime organizado às vésperas da Copa do Mundo e das Olimpíadas também expõe os jornalistas. Outra causa de mortes são as vinganças políticas. Muitos jornalistas no Brasil fazem militância política, e é difícil saber onde está o limite entre a atividade de jornalista e de político. Quais são as regiões mais críticas? Tradicionalmente são os Estados localizados no Norte e no Nordeste do Brasil, onde os jornalistas são expostos à insegurança, à presença do narcotráfico e a uma pressão política muito forte. Tudo isso faz com que seja difícil realizar o trabalho de forma independente e com as mínimas condições de segurança fora dos círculos tradicionais da imprensa, que é bastante poderosa, mas também bastante controlada. A impunidade pode ser considerada um problema? É um dos fatores, mas não o principal. A situação da impunidade no Brasil talvez seja menos grave do que em outros países onde os crimes não são investigados, como México, Honduras e Colômbia, por exemplo. O problema no Brasil é que, muitas vezes, os executores dos crimes são presos, porém, prender os autores intelectuais [mandantes] é muito mais difícil. Além do mais, a impunidade depende da região brasileira. O governo tem feito progressos quanto à liberdade de imprensa no país? Houve avanços durante os dois mandatos do ex-presidente Lula. E também a lei do acesso à informação, que é um fator muito importante. Eu diria que a principal questão no Brasil não é o problema da liberdade de imprensa ou de informação, mas os obstáculos da imprensa para informar. A concentração midiática é muito grande, e alguns veículos de imprensa da sociedade civil têm pouco espaço para se expressar. Existe censura no país? Sim. Uma questão muito frequente no Brasil é a censura prévia, isto é, quando um veículo de comunicação ou um blogueiro não podem publicar uma notícia contra um político, porque um juiz proibiu. Isso devido a uma ligação muito forte entre o poder judiciário estadual e governadores, senadores etc. Esta é uma herança do coronelismo brasileiro. Muitos jornalistas me contaram que no Maranhão, por exemplo, falar mal da família Sarney é quase impossível. Se isso ocorrer, você terá que fechar o seu jornal ou vai sofrer censura dos juízes. Essa concentração local de poderes faz com que seja muito difícil existir um contrapoder por parte dos veículos de informação. Autor: Fernando Caulyt Revisão: Francis França

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