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Os palestinos e o sonho do Estado próprio

14:46 | 29/11/2012
Palestinos aguardam com ansiedade a elevação de seu status nas Nações Unidas, ainda que isso pouco mude no dia-a-dia da população. Para muitos, é uma questão de princípio. Nas estreitas vielas do campo para refugiados palestinos Aida, próximo a Belém, a lanchonete de Saleh al Araj é um ponto de encontro muito apreciado. Além de faláfel e hamus, aqui estão as últimas notícias. O palestino de 31 anos aguarda com ansiedade a votação na Organização das Nações Unidas, nesta quinta-feira (29/11). "Acho que é bom. Queremos um Estado. Queremos viver como o resto do mundo. Toda a gente vive num Estado, nós não temos nenhum", queixa-se, enquanto frita os bolinhos de grão-de-bico no óleo quente. "É um passo absolutamente necessário", concorda um transeunte mais idoso, trajando o lenço palestino vermelho e branco. "Já esperamos demais. Há 60 anos esperamos por este dia." Esperança e princípios Esta é a segunda investida do presidente Mahmoud Abbas no sentido da reavaliação do status dos palestinos junto à ONU. No ano passado, o pedido pela aceitação como Estado-membro fracassou devido ao veto dos Estados Unidos no Conselho de Segurança. Nesta segunda tentativa, os palestinos visam apenas o status de Estado observador, o que já representaria um avanço no quadro internacional. Desta vez quem decide é a Assembleia Geral da ONU, e a maioria simples necessária para a aprovação já é tida como certa. O direito de veto dos EUA não vale aqui. Nesse contexto, é antes secundário o que essa decisão representará para o dia-a-dia dos jovens no campo Aida. "É uma questão de princípio. Por que razão não deveríamos ser reconhecidos?", argumenta o vendedor de faláfel Al Araj, com um sorriso. Maior coesão palestina Nem todos estão tão seguros assim. Já houve decepções demais, comenta um rapaz que se encontra na lanchonete com os amigos. "Não, não vamos conseguir um Estado, nem através da ONU, nem de mais ninguém", diz Ahmad Badir. "Nós nascemos sem Estado, e assim será." Apesar disso, ele considera correto o presidente Abbas ir às Nações Unidas: é melhor do que nada. Deste modo, fica pelo menos a impressão de que algo está se movendo. O recente conflito na Faixa de Gaza continua sendo o grande tema, também na Cisjordânia, ocupada pelos israelenses. Mais de 150 palestinos e seis israelenses morreram em oito dias. A ofensiva militar em Gaza aumentou a coesão entre o seu povo, afirma o palestino Mahdi Abdul-Hadi, analista do Instituto Passia, em Jerusalém Oriental. "É a primeira vez que Mahmud Abbas vai até a ONU não só com uma perna, mas com as duas. Também o Hamas apoia sua iniciativa. Pela primeira vez há um consenso entre os palestinos sobre o assunto", avalia o politólogo. Ameaças e incompreensão Entretanto, para Israel, esse avanço dentro das Nações Unidas é difícil de tolerar. Tel Aviv classifica o requerimento como um passo unilateral, o ministro israelense do Exterior, Avigdor Liebermann, chegou a falar de "terrorismo diplomático". Há semanas se discute sobre possíveis sanções contra o governo palestino em Ramallah. "Israel ameaçou anexar a Cisjordânia", dz Abdul-Hadi. "Eles também ameaçaram anexar os assentamentos judaicos, ou sustar as verbas tributárias que cabem aos palestinos. Ou até mesmo se retirar dos Acordos de Paz de Oslo. Na minha opinião, muito disso são ameaças vazias." Também nas ruas de Israel o clima é pouco conciliador, depois do conflito em Gaza. Yehiel Manzura, vendedor de faláfel em Jerusalém Oriental, não tem nada de bom para dizer dos vizinhos. "Para mim, Mahmoud Abbas é um terrorista de terno e gravata. Eles estão sempre fazendo muito barulho por nada. Não querem conversar, não querem negociar. Nós, israelenses, queremos conversar. E eles só querem nos passar para trás", afirma o jovem, que nem tenta disfarçar suas posições antiárabes. Uma outra passante comenta: "Se eles querem um Estado, então têm que se comportar como tal, e parar de bombardear a gente com mísseis de Gaza". Esperança de reconhecimento Os choques na Faixa de Gaza voltaram a endurecer as frentes, acredita o analista e autor israelense Bernard Avishai. Mas o conflito também implica um dilema: "O consenso israelense é que todos são contra. Mas desde a guerra em Gaza, nós vemos um monte de gente, de todas as orientações políticas, dizer: 'Precisamos apoiar o presidente Abbas, agora que o Hamas está ficando cada vez mais forte'". Neste momento, em que a votação é iminente, o governo em Tel Aviv adota um outro tom: haverá uma reação, quando a hora tiver chegado, afirma a edição online do jornal governista Yedioth Ahronoth. Observadores analistas antecipam, sobretudo, sanções políticas, as quais enfraqueceriam ainda mais os territórios da Autonomia Palestina, que já se encontram em dificuldades financeiras. Para os jovens do campo Aida, tanto faz o que seus vizinhos israelenses pensem a respeito. Saleh al Arajexulta: "Eles não conseguiram fazer Gaza se curvar, e nem vão conseguir agora. Vamos conseguir, sim, o nosso Estado. Nós não vamos embora daqui". Nesta quinta-feira, ele acompanha passo a passo os acontecimentos na distante Nova York. No dia seguinte, pouco haverá mudado na situação de vida dele e dos outros palestinos. Mas, por uma questão de princípio, eles já se sentem, assim, mais próximos de um Estado próprio. Autoria: Tania Krämer (av) Revisão: Alexandre Schossler

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