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Ofensiva terrestre em Gaza seria desafio político e militar para Israel

16:11 | 19/11/2012
Inevitáveis na superpovoada Faixa de Gaza, mortes de civis palestinos poderiam gerar maior isolamento internacional e impor consequências eleitorais para o governo Netanyahu. Quando, em 30 de julho de 2006, seu Exército bombardeou por engano um prédio residencial num vilarejo do sul do Líbano, Israel viu o destino da guerra contra o Hisbolá mudar. As imagens dos 28 civis mortos 16 deles crianças rodaram o mundo e jogaram a opinião pública e grande parte da comunidade internacional contra uma operação que até então encontrava relativo apoio no Ocidente. A história agora pode se repetir, só que na Faixa de Gaza. Nos últimos dois dias, cresceram os relatos de mortes de civis em Gaza. No domingo, segundo os palestinos, um único foguete matou 11 pessoas no mesmo prédio, cinco delas mulheres e quatro crianças. E cada vítima civil do lado palestino seriam mais de 30 do total de 100 mortos em seis dias torna mais complicado para Israel transformar a ofensiva contra o Hamas, hoje limitada a ataques aéreos, numa campanha terrestre. No delicado equilíbrio de forças do Oriente Médio, entrar em Gaza, um dos territórios mais densamente povoados do mundo, seria hoje mais que um desafio militar. Para o governo Benjamin Netanyahu, mais mortes entre civis palestinos poderiam acarretar um isolamento internacional e a perda de apoio precioso entre os israelenses, que irão às urnas dentro de dois meses para renovar o Parlamento. "No momento, parece que o governo israelense permitiu uma escalada do conflito com fins eleitorais. Mas uma ofensiva terrestre em Gaza teria um efeito contrário ao esperado", opina o cientista político Jochen Hippler, da Universidade de Duisburg-Essen. Baixo apoio entre israelenses Uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira (19/11) pelo jornal israelense Haaretz mostra que 84% da população em Israel apoiam a atual operação contra o Hamas, mas que apenas 30% seriam favoráveis a uma eventual invasão terrestre. E questões de segurança, como destaca Hippler, costumam ser importantes para o eleitor no país, que não raro defende uma política externa severa. Prova disso é que, segundo a mesma sondagem do Haaretz, a aprovação popular a Netanyahu está em 55%, nível alcançado pela última vez cerca de um ano atrás, quando o soldado Gilad Shalit foi libertado. Curiosamente, nesses dois momentos, foram questões relacionadas ao Hamas e à Faixa de Gaza que impulsionaram a popularidade do primeiro-ministro. O governo israelense diz que prefere uma saída diplomática, mas não esconde que estaria pronto para uma eventual invasão de Gaza. Morte entre civis, no entanto, seriam inevitáveis. Os arsenais e os combatentes do Hamas estão escondidos em áreas densamente habitadas, quase sempre em túneis, mas às vezes também em meio aos moradores, como destaca Guido Steinberg, especialista em Oriente Médio do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e Segurança (SWP). E para o grupo radical islâmico, cenas de mulheres e crianças mortas podem acabar ajudando a atrair a opinião pública a seu favor e contra Israel. Para Hippler, uma ofensiva terrestre falharia de qualquer forma. Há quatro anos, quando invadiu pela última vez a Faixa de Gaza, Israel deixou cerca de 1.300 palestinos mortos, mas o Hamas continuou de pé. "Quando as tropas israelenses deixarem Gaza, a sociedade palestina não terá mudado no sentido favorável a Israel", afirma o especialista da Universidade Duisburg-Essen. "Uma ofensiva terrestre faria pouco sentido para a política de segurança, prejudicaria a relação com o Egito e isolaria Israel novamente na comunidade internacional, sem que o país tivesse alcançado seu objetivo em Gaza." Hamas impõe condições para trégua Uma solução diplomática para o conflito, no entanto, continua complicada. Apoiado por potências regionais como Egito e Turquia, o Hamas parece não ter pressa. Mantém o lançamento de foguetes contra Israel já foram mais de 530 em seis dias e continua a impor condições para um cessar-fogo. Entre elas, o fim do embargo israelense à Faixa de Gaza, que já dura cinco anos, e o compromisso do governo Netanyahu de que não voltaria a atacar o território palestino. "Quem começou a guerra tem que terminá-la, e a trégua tem que chegar dentro das nossas condições", disse Khaled Meshaal, líder do Hamas no exílio, em referência a Israel. "Ele [Netanyahu] pode até fazer isso, mas sabe que não seria um piquenique e que poderia representar sua morte política e custar as eleições." O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chegou nesta segunda-feira ao Cairo para discutir a crise em Gaza com os líderes locais. O primeiro-ministro egípcio, Hisham Qandil, admitiu que a "a natureza das negociações" torna "muito difícil" prever quando um cessar-fogo será alcançado. Reunidos em Bruxelas, os 27 ministros do Exterior da União Europeia pediram, em comunicado conjunto, o fim da violência. Autores: Rafael Roldão / Christina Ruta Revisão: Alexandre Schossler

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