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Árabes decepcionados com Obama, mas longe de confiar em Romney

A principal crítica feita ao presidente democrata é não ter traduzido em atos seu famoso discurso de 2009 no Cairo, no qual prometia colocar fim à "desconfiança e à discórdia" entre Washington e os árabes

09:54 | 05/11/2012
AFP
AFP

CAIRO, 5 Nov 2012 (AFP) - Se for reeleito, o presidente Barack Obama ainda terá muito a fazer para melhorar, como prometeu, a imagem dos Estados Unidos no mundo árabe, onde, no entanto, não se espera nada melhor do republicano Mitt Romney, visto muitas vezes como o herdeiro do controverso George W. Bush.

"As pessoas não estão impressionadas com Obama, mas também não estão com Romney", afirma no Cairo o analista Issandr al-Amrani, escritor do blog The Arabist.

A principal crítica feita ao presidente democrata é não ter traduzido em atos seu famoso discurso de 2009 no Cairo, no qual prometia colocar fim à "desconfiança e à discórdia" entre Washington e os árabes, e fazer avançar uma solução no conflito israelense-palestino.

Um estudo do instituto americano Pew publicado em junho mostrou uma queda da popularidade de Obama em cinco países muçulmanos, entre eles o Egito, o mais populoso dos estados árabes, onde seu índice de popularidade caiu 13 pontos em um ano.

"Conheci Obama em 2010 na Casa Branca e isso me deixou otimista", afirma Gamal Eid, um advogado egípcio que dirige a Rede Árabe de Informação sobre Direitos Humanos.
Atualmente, a decepção pesa mais. "Poderia ter defendido os direitos humanos nos países do Golfo, ou apoiado os palestinos, ou detido o apoio americano aos tiranos, mas nada disso aconteceu", lamenta.

O sentimento de desconfiança em relação aos Estados Unidos continua sendo forte e violentas manifestações antiamericanas incendiaram a região em setembro, após a divulgação de um filme que ridicularizava o profeta Maomé, produzido nos Estados Unidos por um cristão copta.

Os círculos liberais também criticam Barack Obama por não se interessar verdadeiramente por eles após as revoltas pró-democráticas que conduziram os islamitas ao poder na Tunísia e no Egito, depois da queda dos regimes autocráticos.

"Obama parece estar convencido pela ideia de que possam existir islamitas moderados no poder", constata Miftah Buxeid, um jornalista liberal de Benghazi, na Líbia, cujas declarações refletem a ideia que prevalece na região de que Washington estaria mais interessado em regimes islamitas estáveis que em democracias laicas turbulentas.

Said Farjani, membro do burô político do Ennahda, o partido islamita no poder na Tunísia, se inclina a favor de Obama: "desde a eleição de Obama, o governo americano deu grandes passos para melhorar sua imagem, especialmente no mundo árabe".

"Obama é um bom orador, mas não fez nada de concreto", considera, por sua vez, Mahmud Ghozlan, um funcionário de alto escalão da Irmandade Muçulmana egípcia, da qual procede o presidente Mohamed Mursi.

No entanto, prefere que permaneça na Casa Branca. "Mitt Romney é como George W. Bush", afirma.

São muitos os que veem Romney "como feito do mesmo molde que Bush", cuja imagem está permanentemente manchada pela lembrança da invasão do Iraque em 2003 e por sua declarada hostilidade em relação ao ex-dirigente palestino Yasser Arafat, ressalta Issandr al-Amrani.

A ausência de progresso na solução do caso israelense-palestino pesa na imagem de um presidente Obama incapaz de fazer Israel mudar e nas possibilidades do pró-israelense Romney agir melhor nesta questão.

"Obama não seguiu seu discurso do Cairo e não há pressão ou crítica por parte dos árabes, enquanto ele se mantém à frente de uma política americana alinhada desde o início com Israel", lamenta Muhamd Abdel Hamid, um escritor e analista político palestino.

"Se Romney vencer, agirá como fizeram os presidentes Bush, pai e filho, quanto às relações com Israel", afirma Abdul Majid Sweilen, outro analista palestino.
No Iraque, onde Obama ordenou a retirada das tropas enviadas por George W. Bush, o porta-voz do primeiro-ministro Nuri al-Maliki nega-se a apoiar um ou outro candidato.

Embora ocorra uma mudança do partido no poder, a mudança de política (em relação ao Iraque) será muito leve, já que nossas relações estão baseadas nos interesses dos dois países", considera Ali Mussaui.á

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