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Alemanha debate acolhida de cristãos sírios

08:11 | 14/11/2012
Defensores da ideia dizem que tradição cristã da Alemanha obriga o país a receber os cristãos sírios. Críticos afirmam que não se deve diferenciar por confissão religiosa na hora de oferecer ajuda a refugiados. O deputado Volker Kauder, líder da bancada dos partidos União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU) no Bundestag, afirmou ao jornal Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung que acolher cristãos sírios na Alemanha é um ato de humanidade. Em declaração ao mesmo jornal, o ministro alemão do Interior, Hans-Peter Friedrich, da CSU, também afirmou ser favorável à acolhida aos cristãos sírios, pois, segundo ele, eles são a minoria mais perseguida na Síria. Cristãos sob pressão Há mais de 2.000 anos os cristãos habitam o território da atual Síria, ou seja, desde o surgimento do cristianismo. A Igreja Ortodoxa Síria é uma das mais antigas do mundo. Muitos de seus fiéis ainda falam o aramaico, a língua de Jesus. Também na atual República Árabe Síria, os cristãos continuaram desempenhando um papel importante. O ex-primeiro-ministro Faris al-Khoury, que ocupou o cargo nos anos 1940, era cristão. Entre 8% e 10% dos habitantes da Síria são cristãos, sendo que mais de 65% destes pertencem à Igreja Ortodoxa Síria. Os outros são ligados à Igreja Católica ou são cristãos assírios. Sob o regime de Bashar al-Assad, eles puderam viver sem grandes incômodos. Em comparação à situação dos cristãos em outros países do mundo árabe, os cristãos desfrutavam de muitas liberdades na Síria. Desde o início da revolta popular no país, contudo, o regime tenta fazer crer que a resistência está atrelada à confissão religiosa, puxando os cristãos para seu lado. Isso faz com que os cristãos sejam vistos como suspeitos por alguns dos opositores do governo. Para o cientista político Ralph Ghadban, essa impressão é compreensível, pois, há cerca de um ano e meio, a maioria dos representantes oficiais das igrejas cristãs estava do lado de Assad. No entanto, completou o especialista em Oriente Médio em entrevista à Deutsche Welle, a postura de muitos cristãos mudou desde então. O cristão George Sabra, por exemplo, recém-eleito presidente do Conselho Nacional Sírio, defendeu publicamente o apoio aos rebeldes no combate ao governo. País das minorias O bispo Friedrich Weber, presidente da Comunidade de Igrejas Cristãs (ACK, na sigla original), declarou à Deutsche Welle seu apoio à ideia de a Alemanha abrigar cristãos sírios. "A Alemanha é um país marcado pelo cristianismo. Estes sírios são nossos irmãos de fé. Eles nos são próximos e por isso temos uma obrigação especial de dar claramente nomes às coisas e não deixar tudo como está com uma postura comedida", completou o bispo. Esta é uma posição rejeitada com veemência pelo cientista político Ralph Ghadban. Segundo ele, "privilegiar um grupo só pode ser considerado quando está claro que ele está sendo perseguido. E não se tem nenhum indício, seja por parte dos cristãos na própria Síria, seja por parte de Roma, de que esteja ocorrendo uma perseguição", afirmou. Ghadban, que nasceu no Líbano, mas vive e trabalha há 40 anos na Alemanha, defende um tratamento igualitário para os cristãos e os outros refugiados. Ele acentua o fato de a Síria sempre ter sido um país de minorias, com uma população de curdos, drusos, cristãos, alevitas, yezidis e muitos outros grupos religiosos e étnicos, que há séculos convivem pacificamente no país. Apoio na própria Síria Além disso, a situação dos cristãos na Síria não é tão clara: alguns apoiam as tropas de Assad e outros se aliaram aos rebeldes. Os observadores dizem que o governo combate os cristãos, que são ainda expostos a represálias nos campos de refugiados por parte dos islâmicos. Mesmo assim, analisou Ghadban, a migração de cristãos sírios para a Alemanha ou para outros países europeus deveria ser a última opção. Durante seus 17 anos de trabalho com refugiados, ele disse ter aprendido que o melhor é mantê-los perto de seus países de origem (neste caso, na Jordânia, na Turquia ou no Líbano), oferecendo a eles apoio. "Primeiro, isso gera menos custos do que financiar essas pessoas na Alemanha. Em segundo lugar, é um bom investimento, porque eles poderão voltar para casa quando a guerra acabar. E também porque é melhor para a Síria se eles não deixarem simplesmente o país", concluiu. Segundo Weber, muitos cristãos sírios veem a situação exatamente da mesma maneira. "Ouvimos isso também deles. Por isso muitos optam por ficar nos acampamentos, apesar dos sequestros e das perseguições. O primeiro impulso de ajuda tem que ir para lá", afirmou o religioso. Além disso, lembrou Weber, a maioria dos cristãos sírios têm uma boa formação escolar e é, por isso, especialmente importante para a reconstrução do país. Autor: Martin Koch (sv) Revisão: Alexandre Schossler

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