Desemprego é destaque em conferência nos EUA
O público reunido em Pittsburgh, uma pacata cidade da Pensilvânia acostumada a grandes eventos desde que sediou a reunião do G-20, em 2009, fez perguntas e debateu com nomes tão abrangentes quanto os assuntos tratados no evento - de Bill Clinton à cantora britânica Joss Stone, do ex-secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, ao badalado chef britânico Jamie Oliver, além do presidente do Barclays, Antony Jenkins, e do primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron.
O saldo foi uma preocupação recorrente com o aumento do desemprego e a falta de confiança de profissionais com menos de 30 anos nas instituições e nos políticos de seus países. "Não há empregos para os jovens que saem das universidades, procurei durante meses e só consegui um estágio não remunerado", disse a portuguesa Joana Rebelo de Andrade, de 22 anos, formada em Comunicação e Multimídia.
Portugal é um dos países atingidos pela crise de dívida soberana na zona do euro que recebeu ajuda externa de 75 bilhões de euros do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia em maio de 2011.
Na semana passada, o governo português anunciou novas medidas de austeridade, incluindo uma elevação na alíquota do imposto sobre renda para até 43%. Joana apóia as medidas como uma chance de fazer seu país avançar. "É uma fase, e quando isso acabar o país vai ser melhor para a minha geração. É difícil, mas vai passar", acredita.
Corrupção
Em meio aos debates sobre transparência de governos e empresas para reverter a crise de confiança nas instituições, a corrupção desponta como uma preocupação particularmente em países em desenvolvimento. Segundo uma pesquisa com 6.269 jovens de até 30 anos em 12 países - incluindo o Brasil - realizada pelo One Young World em agosto deste ano, corrupção é um impedimento ao acesso à educação para metade dos entrevistados.
Em países como Brasil e Rússia, no entanto, os índices são em mais elevados: 80% no Brasil e 78% na Rússia acreditam que a corrupção limita o acesso à educação. "A corrupção é a principal razão pela qual a Rússia não consegue crescer de acordo com seu potencial", disse o químico Konstantin Semishchenko, que desenvolve projetos para a Unilever em São Petersburgo. "Mesmo tendo sido aprovado e cumprido todos os requisitos, para obter meu diploma de doutorado em química um funcionário me disse que teria de pagar ou refazer os exames", relatou.
Com a crise econômica global desempenhando um papel-chave no aumento do desemprego e na falta de perspectivas profissionais entre os jovens, o sistema financeiro teve um papel de destaque nos debates do OYW. Um vídeo com imagens do movimento Occupy Wall Street , que se espalhou para diversas cidades mundo afora em setembro de 2011, abriu caminho para o mea-culpa do atual presidente do banco britânico Barclays, Antony Jerkins.
"Vou reformar o Barclays após o escândalo da Libor", disse o CEO do banco, que assumiu o cargo em agosto, após a renúncia da diretoria da instituição diante do escândalo de manipulação da taxa Libor pelo Barclays em junho deste ano. "Leis e regulação não podem substituir o comportamento ético que é exigido de grandes organizações", reconheceu.
O britânico Will Hutton, autor de vários livros sobre o papel do Estado e coordenador de uma série de iniciativas adotadas pelo governo britânico para que o Estado pague preços justos no setor público, resumiu o sentimento deixado pela crise financeira: "Permitimos que o sistema financeiro global fosse longe demais".
Segundo Hutton, a quebra de confiança nas grandes corporações teve um impacto de 40% no crescimento do PIB do Reino Unido desde 2008, e nos EUA ele estima que esse impacto foi ainda maior, podendo chegar a 70%. (A jornalista viajou a convite do One Young World)