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Somalis veem com ceticismo fim de governo interino

09:43 | 20/08/2012
Termina na Somália o mandato do governo de transição. Os parlamentares deverão eleger um novo governo. Muitos somalis têm dúvidas, no entanto, se a paz e a estabilidade chegarão finalmente ao país em crise desde 1991. Os parlamentares somalis assumiram seus mandatos nesta segunda-feira (20/08), mas a eleição de um novo presidente teve de ser adiada. O pleito faz parte da formação de um novo governo sob a vigilância das Nações Unidas que deverá substituir o governo provisório instalado na Somália desde 2004. Após uma nova Constituição ter sido outorgada em 1° de agosto, os governos tribais nomearam 275 deputados para o novo Parlamento. No entanto, uma lista publicada na última sexta-feira englobava somente 202 parlamentares, já que os demais não preenchiam os pré-requisitos necessários. Nesta segunda-feira, 225 deputados devem assumir seus cargos, mas somente quando o Parlamento estiver completo, o porta-voz parlamentar e o presidente poderão ser eleitos. Espera-se que a eleição se realize ainda nesta semana. O atual presidente, o controverso xeque Sharif Ahmed, é o candidato favorito e deverá continuar no cargo. As Nações Unidas anunciaram no domingo que a Somália está diante de uma oportunidade sem precedentes de mais paz e estabilidade. Desde que a guerra civil eclodiu no país em 1991, não existe um governo em funcionamento no país. Durante oito anos, o país esteve sob o mandato das Nações Unidas. A milícia radical islâmica Al Shabaab ainda controla boa parte do sul e da região central do país. Mais de duas décadas de guerra Antes da guerra, muitos somalis deixaram sua pátria e fugiram para o Quênia, construindo ali sua existência. Muitos deles viajam regularmente entre o país vizinho e a Somália. Apesar da planejada eleição de um novo presidente em Mogadíscio e da formação de um governo "de verdade" pela primeira vez depois de mais de 20 anos de guerra civil, poucos somalis pretendem voltar ao país. Esse é o caso do xeque Abukar Ali. Ele dirige o hotel Bin Ali, que sua família abriu em 1° de julho último em Eastleigh, um bairro de Nairóbi, capital do Quênia. "Temos outro hotel ainda maior em Mogadíscio, que se encontra fechado no momento", explica Ali sentado em sua escrivaninha. "As tropas etíopes o destruíram durante a guerra. Pretendemos reconstruí-lo um dia, mas no momento ainda é muito cedo". Mogadíscio ainda não é seguro o suficiente, acrescenta o empresário. Pátria insegura A família Bin Ali possui propriedades não somente em Nairóbi e Mogadíscio. Eles também fazem negócios em Djibuti, Dubai, Somália, Sudão do Sul e Uganda. Enquanto ganharam muito dinheiro em diversos lugares, eles perderam capital em Mogadíscio: 16 milhões de dólares, disse o xeque Ali. Seu hotel na capital somali foi destruído, e também um edifício de escritórios foi danificado seriamente e saqueado. O hotel se localizava ao oeste da cidade, mas "somente em torno do aeroporto de Mogadíscio é relativamente seguro", disse o empresário. Ali vivem o presidente e os ministros. Em outras áreas, ainda estão diversos membros da milícia islamita Shabaab. "Eles continuam a cometer atentados e, aparentemente, possuem acesso ilimitado a bombas e explosivos", disse o xeque. O hoteleiro não acredita que a situação na Somália deva mudar com a eleição de um novo presidente. "Uma segurança verdadeira só poderá haver em Mogadíscio quando as pessoas tiverem emprego e não mais precisarem ganhar sua vida como milicianos". Porém, isso implica que muitas empresas se instalem na Somália e criem empregos, disse. No momento, segundo as estimativas do empresário, 95% dos somalis estão desempregados. "Não é de admirar que a situação de segurança continue abaixo das expectativas", explica Abukar Ali. Novo governo com os velhos nomes Muitos dos moradores de Eastleigh concordam com a avaliação do xeque Abukar Ali e observam o desenvolvimento na Somália com algum ceticismo. Também Emmanuel Kisangani não espera muito do fim do governo provisório na Somália. Ele trabalha para o Instituto de Estudos de Segurança, instituição africana de pesquisa que também possui escritório em Nairóbi. "Os membros do atual governo de transição tentam se vender com uma nova embalagem, para assim continuar no poder", diz Kisangani. "O resultado mais provável de todo o processo deverá ser, portanto, que as mesmas pessoas do governo interino formem o novo governo." Contra muitos políticos foram levantadas maciças acusações de corrupção. Assim, eles perderam sua reputação diante da opinião pública. O fato de que eles provavelmente deverão continuar no poder deve-se ao apoio financeiro que as ricas elites lhes possibilitaram. O dinheiro desempenhou importante papel no contexto da atual eleição presidencial cargos políticos influentes foram negociados a alto preço. O parecer do xeque Abukar Ali é, portanto, o mais positivo que se pode escutar: "A situação só pode melhorar". No entanto, o empresário explica que o novo governo não será o que as pessoas esperam. "Apesar disso, um governo ruim é melhor do que nenhum governo." Autora: Bettina Rühl / Carlos Albuquerque Revisão: Francis França

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