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FAO quer que EUA suspendam uso do milho como biocombustível

12:47 | 11/08/2012
País enfrenta pior seca dos últimos 50 anos. Segundo a Organização, uso do milho como bioetanol favorece encarecimento de alimentos. Commerzbank anuncia fim de especulação sobre gêneros básicos "por razões morais". Devido à seca inclemente nos Estados Unidos, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) instou Washington nesta sexta-feira (10/08) a suspender imediatamente a produção de biocombustível a partir de milho. Falando ao Financial Times britânico, o secretário-geral da FAO, José Graziano da Silva, classificou como um "prejuízo gigantesco" o processamento de cerca de 40% da safra nacional em forma de bioetanol. Diante da alta dos preços dos alimentos, a suspensão da produção de biocombustível nos EUA reduziria a pressão sobre o mercado, permitindo a utilização de mais milho como alimento e ração animal, propôs. Graziano acrescentou que situação do abastecimento de gêneros alimentícios já é "delicada", podendo transformar-se rapidamente numa crise. Alguns países do grupo G20, entre eles a França, Índia e China, já haviam expressado anteriormente preocupação quanto à política do bioetanol. Há anos essa fonte renovável de energia é criticada por ambientalistas. Eles argumentam que a utilização de terras aráveis para a produção de combustível reduz as áreas utilizáveis para a alimentação, impulsionando a alta de preços. Além disso, o cultivo para fins energéticos seria também responsável pela destruição das florestas naturais em amplas regiões do planeta. Perigo global A atual seca nos EUA é a pior das últimas cinco décadas. O famoso "Corn Belt" (cinturão do milho), no centro-oeste do país, onde se cultiva a maior parte do cereal, encontra-se no epicentro da seca. Desde junho passado as temperaturas estão elevadas e em julho alcançaram as maiores marcas desde 1895. Segundo a Secretaria norte-americana de Agricultura, apenas 23% dos pés de milho ainda estão em estado bom ou excelente. Desde o princípio de junho, o preço do produto já subiu 40%. O órgão governamental calcula que a safra deste ano será 13% inferior à de 2011, com o volume mais baixo dos últimos seis anos. A colheita de soja, por sua vez, deverá reduzir-se em 12%. No total, este ano as colheitas de cereais do país cairão 13%, alcançando seu recorde negativo em 17 anos, estima a secretaria norte-americana. Tais expectativas fomentam os temores de um encarecimento global dos alimentos. Primeiros sinais Em 2007 e 2008, a escalada acentuada dos preços do milho e trigo, entre outros, foram causa de fome e distúrbios sociais nos países pobres. Tendo em vista esses dados, a organização humanitária Oxfam adverte que a atual tendência poderá trazer consequências devastadoras para os mais carentes. Dados divulgados pela FAO na quinta-feira, em Paris, confirmam que uma espiral de preços já está em ação. Após três meses de recuo, em julho os preços dos alimentos subiram, em média, 6%, estando os cereais e o açúcar entre os mais afetados. Há várias semanas, os preços de cereais e sementes oleaginosas sobem na Bolsa de Chicago, maior mercado para títulos financeiros sobre matérias primas. A tendência é atribuída, sobretudo, às condições meteorológicas: a onda de seca e calor nos EUA teria causado a valorização do milho em 23% em julho, enquanto os prognósticos de uma má safra na Rússia fizeram o trigo subir 19%. Em contrapartida, os preços da carne desceram, pelo terceiro mês consecutivo. Fim da especulação Segunda maior instituição de crédito da Alemanha, o Commerzbank confirmou na quinta-feira que não mais participará da especulação sobre preços de alimentos básicos no mercado financeiro internacional. Assim, todos os produtos agrícolas foram retirados de sua oferta. O banco atribuiu a medida a "razões morais", em resposta a uma série de estudos internacionais. Estes demonstraram que o papel dos títulos financeiros sobre produtos agrícolas é significativo na elevação artificial dos preços dos alimentos, contribuindo, assim, para disseminar a fome em várias regiões do planeta. O diretor da ONG Foodwatch Germany, Thilo Bode, saudou a decisão. "Se um banco não pode ter certeza de quanto dano esse tipo de especulação é capaz de causar, ele deve deixar de oferecer tais fundos, para estar em campo seguro". AV/afp,dapd,kna,dpa,rtr Revisão: Mariana Santos

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