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Blogueiro oposicionista é o novo alvo da Justiça da Rússia

09:00 | 01/08/2012
Alexey Navalny, um duro crítico do presidente Vladimir Putin, é indiciado por desvio de recursos públicos. Entidades de direitos humanos e analistas dizem que é mais uma tentativa de intimidar oposicionistas. Na popular plataforma de blogs russa LiveJournal, o blogueiro Alexey Navalny postou 2.672 textos em seis anos, recebendo 1,5 milhão de comentários. No serviço de mensagens curtas Twitter, ele tem cerca de 270 mil seguidores, o que o torna um homem cuja voz é ouvida por muitos. Nesta terça-feira (31/07), investigadores russos acusaram Navalny de abuso de confiança e desvio de bens. Se condenado, ele pode pegar té dez anos de cadeia. Quando era consultor do governo da província de Kirov, em 2009, ele teria organizado um esquema para furtar madeira da empresa Kirovles, causando um grande prejuízo ao grupo estatal madeireiro, conforme a acusação. As perdas totalizariam 16 milhões de rublos, o equivalente a cerca de 1 milhão de euros. De blogueiro a líder da oposição O processo foi iniciado em 2010, suspenso duas vezes e reiniciado em maio de 2012, mas com alterações nas acusações originais, de modo que Navalny está ameaçado de pegar uma pena de prisão maior, de até dez anos. O blogueiro, que está proibido de deixar Moscou, nega as acusações. "Não há motivo para me prender." Ele diz que o processo tem motivações políticas. Em entrevista a um jornal, classificou como atos de "vingança" as medidas das autoridades russas contra ele e outros críticos do Kremlin. Em pouco tempo, Navalny se tornou um dos oposicionistas mais famosos do país, embora não seja filiado a nenhum partido político. "Ele conseguiu ganhar grande popularidade a partir do blog", diz o especialista Hans-Henning Schröder, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP, na sigla em alemão). Se até o primeiro semestre de 2011 o nome Navalny era conhecido por apenas 6% dos russos, hoje essa cota está em 34%, de acordo com o instituto de pesquisas de opinião Levada. Premiado pela Deutsche Welle Nawalny começou a construir sua fama como combatente da corrupção. Em seu projeto online RosPil, ele denuncia as empresas estatais que, em sua opinião, desviam dinheiro público. Tanto o projeto como o blogueiro foram homenageados pelo concurso internacional de blogs da Deutsche Welle em 2011, com o prêmio The BOBs. Politicamente, Navalny ganhou espaço rapidamente naquele ano. Foi o primeiro blogueiro a apelidar o partido governista Rússia Unida de "partido de bandidos e ladrões". A expressão pegou, e Navalny parece ser odiado por ela. Um deputado do partido anunciou recentemente a criação de uma página na internet para aqueles que querem processar Navalny. Durante os protestos contra fraudes nas recentes eleições parlamentares e presidenciais russas, Navalny estava sempre na linha de frente. Ele falou em comícios e atacou verbalmente o atual presidente, Vladimir Putin, de forma cada vez mais dura. Ao ponto de alguns analistas em Moscou o considerarem como um possível nome para enfrentar Putin na próxima eleição. "Nawalny é certamente uma das figuras mais conhecidas do movimento de protesto russo", diz Jens Siegert, chefe do escritório de Moscou da Fundação alemã Heinrich Böll. Ele lembra que Navalny representa uma nova geração de oposicionistas, que se tornaram conhecidos apenas recentemente. "Isso o distingue de forma favorável de muitos outros oposicionistas ativos na política deste a década de 90 e que não desfrutam da confiança do povo russo", ressalta Siegert. Intimidação política A acusação contra Navalny provocou críticas tanto na Rússia como no exterior. "Eles o querem tirar de circulação como oposicionista", acusa a ativista de direitos humanos Lyudmila Alekseeva, diretora do Grupo Helsinque, de Moscou, em entrevista à Deutsche Welle. A especialista em política Maria Lipman, do Centro Carnegie, em Moscou, considera as acusações uma tentativa de "ficar no encalço de Navalny " para "poder prendê-lo a qualquer momento". Isso, segundo ela, é um aviso para o blogueiro e para os demais oposicionistas. A especialista lembra dos acontecimentos recentes na Rússia, como leis que restringem a liberdade de reunião. "Temos que ver as acusações contra Navalny nesse contexto", alerta. Schröder chega a uma conclusão similar. "Eu só posso interpretar isso como intimidação política", diz, acrescentando que o momento escolhido para tal é "especialmente oportuno", já que uma onda de protestos se amainou enquanto a próxima é esperada para meados deste segundo semestre do ano. "A coisa toda tem, obviamente, um caráter político", avalia Siegert, da Fundação Heinrich Böll. Ele lembra também o polêmico julgamento da banda punk feminina Pussy Riot, ameaçada de pegar sete anos de prisão devido a um show contra Putin realizado numa catedral de Moscou. Siegert suspeita que Navalny possa receber uma pena semelhante. Políticos alemães também criticam os recentes acontecimentos na Rússia. "Não é um caso isolado, e, infelizmente, temo que esse tipo de medida seja usado sistematicamente contra organizações não governamentais e contra críticos do governo", afirma Andreas Schockenhoff, coordenador do governo alemão para a cooperação das sociedades civis russa e alemã. "A acusação contra Navalny é um ataque aos cidadãos russos ativos, para que eles sejam desencorajados de exercer críticas", avalia o político democrata-cristão. Autores: Olga Kapustina / Roman Goncharenko (md) Revisão: Alexandre Schossler

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