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Angola vai às urnas em eleições marcadas por denúncias de fraude

09:55 | 31/08/2012
Partido governista é favorito para vencer as eleições em Angola, e o presidente José Eduardo dos Santos deve se manter no cargo. Oposição e ONGs acusam governo de abuso de poder, fraudes e corrupção. Apesar dos protestos da oposição e pedidos de adiamento do pleito, Angola deve ir às urnas, como planejado, ao longo desta sexta-feira (31/08), na terceira eleição desde a independência do país, em 1975, e a segunda desde o final da guerra civil, em 2002. Cerca de 9 milhões de eleitores estão aptos a eleger um novo Parlamento e o presidente do país. Muito provavelmente o atual mandatário, José Eduardo dos Santos, será confirmado no cargo, que ocupa desde 1979. A campanha eleitoral em Angola foi uma disputa desigual: a batalha entre um Golias e oito Davis. O Golias se chama Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que se mantém no poder desde a independência, apesar da hostilidade dos partidos de oposição. Foi com essa autoconfiança que o presidente Dos Santos fez suas aparições públicas. Nesta terça-feira, dia do seu aniversário de 70 anos, ele inaugurou a "nova marginal", calçadão renovado da orla, existente desde a era colonial. No encerramento da campanha, em discurso no 11 de Novembro, um estádio de futebol com ares futuristas, o presidente ressaltou que a reconstrução de Angola está em pleno andamento e que isso se deve ao seu governo, acusando a oposição de se limitar a críticas e ameaças. Presidente impopular Mas a autoconfiança deste que, depois de Teodoro Obiang, da Guiné Equatorial, é o presidente africano há mais tempo no poder, parece infundada. Um estudo realizado ano passado pelo instituto de pesquisas norte-americano Gallup indica que Dos Santos é um dos líderes mais impopulares da África. Ele tem aprovação de apenas 16% dos angolanos. O segundo lugar em impopularidade, Robert Mugabe, do Zimbábue, tem 30% de aprovação, quase o dobro do político angolano. Tal impopularidade se deve não só às muitas acusações de corrupção. A maioria da população angolana também considera a distribuição da riqueza muito injusta, embora o país seja o segundo maior produtor de petróleo do continente. Mesmo assim, nada indica que o domínio do MPLA esteja no fim. Observadores esperam uma larga vitória do movimento outrora marxista liderado por Dos Santos, convertido ao capitalismo em 2002, após o fim da guerra civil. Oposição fraca, forte aparato repressivo Os partidos de oposição, em sua maioria, lutam principalmente para se manterem vivos. O antigo movimento rebelde Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola) recebeu oficialmente na última eleição, em 2008, pouco mais de 10% dos votos. Seu presidente e atual candidato, Isaias Samakuva, é uma figura pálida, em comparação com o carismático líder histórico Jonas Savimbi. Novos movimentos, como o partido Casa-CE, do dissidente da Unita Abel Chivukuvuku, também têm poucas chances de sucesso. O mesmo vale para o movimento histórico Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), que se encontra há muitos anos num processo de autodissolução. Já o Partido Renovador Social (PRS) tem uma importância meramente regional, com algum apoio entre a população nas províncias diamantíferas de Lunda Norte e Lunda Sul. O jornalista angolano, blogueiro e ativista de direitos humanos Rafael Marques atribui a fraqueza da oposição ao uso da mídia estatal pelo partido governista, que também emprega fundos públicos de forma maciça em sua própria campanha e reprime movimentos da oposição. Ele considera um ponto particularmente negativo o fato de a opinião pública não ter tido acesso aos registros de eleitores e observa que muitos dos eleitores não sabem sequer onde deverão depositar seus votos. "Nenhum angolano com sanidade mental razoável acredita que essas eleições serão livres e justas", acusa Marques em entrevista à Deutsche Welle. Oposição pede adiamento A Human Rights Watch também criticou a repressão aos movimentos de reforma e de oposição. A especialista em Angola da organização de direitos humanos, Lisa Rimli, acusa o governo de detenções arbitrárias, julgamentos injustos e obstrução dos observadores eleitorais. "Há um clima de intimidação. A liberdade de reunião e a cobertura da mídia são limitadas", afirmou em entrevista à Deutsche Welle. A Unita, o maior dos oito partidos de oposição, convocou recentemente para uma manifestação em massa para reivindicar eleições justas. Samakuva acusa a Comissão Nacional Eleitoral, dominada pelo MPLA, de cometer erros grosseiros e desrespeitar a lei. Por isso o principal partido de oposição defende o adiamento das eleições. Autor: António Cascais (md) Revisão: Alexandre Schossler

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