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Temas econômicos e segurança marcam eleição presidencial no Egito

07:27 | 23/05/2012
Especialistas dizem que os eleitores deixaram de lado os temas religiosos e estão mais preocupados com a recuperação econômica do país e a segurança. Esse cenário favorece os candidatos seculares. Mais de 50 milhões de egípcios são convocados a votar na primeira eleição presidencial desde a queda do ditador Hosni Mubarak, mais de um ano atrás. O pleito se realiza nesta quarta e quinta-feira (23 e 24/05) em mais de 13 mil locais de votação. Treze candidatos disputam o primeiro turno. Caso nenhum deles consiga a maioria absoluta, o que é provável, um segundo turno será realizado em 16 e 17 de junho. Entre os favoritos está o ex-ministro do Exterior e antigo presidente da Liga Árabe, Amr Mussa, bem como o último chefe de governo do regime Mubarak, Ahmed Shafik. O político islamita independente Abdel Moneim Abul Futuh e o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Morsi, também têm boas chances. O vencedor será anunciado em 21 de junho próximo. Posteriormente, o Conselho Militar que governa o país desde a saída de Mubarak, em fevereiro de 2011, pretende deixar o poder. Desilusão com os candidatos religiosos Nas eleições parlamentares de 2012, os partidos islâmicos saíram vencedores. No entanto, segundo Dali Ziada, diretora do Centro de Estudos de Desenvolvimento Ibn Khaldoun do Cairo, desta vez muitos eleitores deverão repensar sua intenção de votar em candidatos conservadores religiosos. Os egípcios, diz Ziada, votaram em candidatos islamitas na eleição parlamentar principalmente por considerá-los moralmente idôneos. Eles acreditavam que candidatos religiosos, ao contrário dos demais, não seriam corruptos, não contariam mentiras e não seriam dissimulados. Mas a campanha para a eleição presidencial evidenciou que os candidatos religiosos não se comportam de forma diferente dos seculares. "Isso mostrou aos eleitores que, ao contrário do que acreditavam, os religiosos não são de forma alguma a melhor escolha. Eles não são menos corruptos que os outros políticos", afirma Ziada. Essa constatação segundo pesquisas de opinião realizadas pelo Centro Ibn Khaldoun fez o clima eleitoral se voltar claramente a favor de candidatos seculares. Questões econômicas têm prioridade De fato, a eleição presidencial transcorre numa atmosfera muito diferente das eleições parlamentares de novembro último. Segundo o professor de ciências políticas Thomas Demmelhuber, da Fundação Universidade Hildesheim, enquanto naquela ocasião predominavam as questões religiosas e ideológicas fazendo com que a Irmandade Muçulmana e os salafistas entrassem no Parlamento como o grupo mais forte desta vez são principalmente os temas econômicos que interessam aos eleitores egípcios. Demmelhuber lembra que o país está lutando contra enormes problemas econômicos. Embora números recentes sugiram que a economia egípcia venha se consolidando progressivamente, ela não consegue acompanhar o crescimento demográfico do país. Por isso os eleitores estão de olho principalmente nas propostas políticas e econômicas dos candidatos. "Para os eleitores, o que vale agora é principalmente o ganho socioeconomico da revolução. Eles querem uma situação melhor do que durante o regime autocrático de Mubarak. Por isso as negociações com os doadores internacionais e regionais são tão importantes, porque sem eles o Egito estaria na iminência de falir", afirma o professor. Uma questão de importância quase igual é a segurança pública. Após a revolução, diz Demmelhuber, muitos policiais se demitiram, de forma que surgiu um vácuo de segurança, preenchido apenas rudimentarmente pelos militares. Assim são grandes as expectativas. "A maioria dos egípcios está de novo ansiosa por mais estabilidade e segurança, justamente porque essa é a base para uma atividade econômica e uma vida pública normais." Candidatos predominantemente seculares A maioria dos candidatos representa posições seculares. A ala religiosa é representada por Abdullah al-Ashaal, candidato do salafista Partido da Autenticidade, além de Abdel Moneim Abul Futuh, que é independente, e Mohammed Morsi, da Irmandade Muçulmana. Entre os principais candidatos seculares estão os favoritos Amr Mussa e Ahmed Shafik, como também Hamdin Sabahi, um dos líderes da oposição egípcia antes da revolução. Mas quem quer que saia vencedor dessa eleição poderá contar com amplos poderes, diz Demmelhuber. Embora os trabalhos para uma nova Constituição ainda não tenham sido concluídos, até agora as tentativas de diminuir o poder presidencial em favor do Parlamento têm sido muito moderadas. "Acredito que o presidente, também no contexto da nova Constituição, terá à sua disposição um amplo leque de poderes", diz Demmelhuber Autores: Kersten Knipp / Carlos Albuquerque Revisão: Alexandre Schossler

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