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Crise: investidores se protegem em dívida alemã mesmo a juros zero

15:52 | 24/05/2012

PARIS, 24 Mai 2012 (AFP) - A Alemanha emitiu pela primeira vez esta semana bônus a dois anos com juros zero. Apesar disso, os investidores continuam comprando seus títulos por considerá-los um valor de refúgio, evidenciando as enormes incertezas que pesam sobre a zona do euro.

Na quarta-feira pela manhã o país emitiu 4,550 bilhões de euros em bônus a dois anos a juros zero. A Alemanha já havia emitido dívida a juros zero ou inclusive a juros negativo, mas só de curto prazo.

Para a emissão a dois anos, que teve alta demanda, o país propôs juros nulo, ou seja, o detentor do título não receberá nenhum juros ao final do período.

Para os investidores, as esperanças de ganhar dinheiro com estes títulos são muito limitadas, podendo inclusive haver perda de dinheiro: as taxas de inflação alemã alcançaram 2,1% em abril, de maneira que os juros reais da operação podem ser negativos.

Segundo especialistas, esse fenômeno é proporcionado pelo desespero dos investidores quanto ao futuro da Eurozona, com uma possível saída da Grécia do euro e com o agravamento da crise na Espanha e na Itália.

"A dívida alemã é o único mercado que possui tamanho suficiente para receber os fluxos de fundos que buscam máxima segurança", explica Axel Botte, especialista em obrigações da Natixis AM.

"Em um momento em que existem tantos temores, a segurança é o único fator de decisão dos investidores", confirma Patrick Jacq da BNP Paribas.

Prova disso é a contínua diminuição da taxa alemã de referência a 10 anos, que está batendo recordes históricos no mercado de obrigações, abaixo dos 1,4%.

Graças ao controle do déficit e a sua dívida moderada, a Alemanha, que é contra a criação de eurobônus, é um dos últimos refúgios econômicos em uma Europa em convulsão.

A dívida alemã, explicam os especialistas, é a mais líquida do continente, ou seja, está muito presente nas carteiras de investimento e se pode comprar e vender facilmente.

Contudo, o nível de resistência da economia alemã foi posto em cheque nesta quinta-feira, com as incógnitas sobre a saúde da economia do país sendo alimentadas pela publicação do índice de confiança dos empresários, que manchou as boas cifras de crescimento no primeiro trimestre e trouxe incertezas quanto a resistência do país em uma zona do euro sob pressão.

As expectativas das empresas alemãs, medidas pelo índice Ifo, caíram em maio pela primeira vez nos últimos sete meses, passando de 109,9 para 106,9 pontos, revelou nesta quinta-feira o Instituto de Economia de Munique.

De acordo com o levantamento, os empresários alemães consideraram tanto a situação atual como as perspectivas para o próximo semestre mais desfavoráveis do que no mês passado, o que, segundo especialistas, foi influenciado pelo aumento da insegurança na zona do euro nos últimos meses.

Apesar de a queda ter sido esperada, o recuo foi maior que o previsto, dizem especialistas.

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