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Continuísmo marca destinos da Rússia sob presidência de Putin

10:13 | 22/05/2012
Ao apresentar seu novo gabinete, o primeiro-ministro russo, Dimitri Medvedev, disse que havia muitos nomes novos. Contudo críticos apontam que os principais ministros mantiveram seus postos. Para Hans-Henning Schröder, do Instituto Alemão de Relações Internacionais e de Segurança (SWP), uma nova era não se instaurou na Rússia. "Não é possível detectarum perfil de reformas", disse o especialista berlinense sobre o atual governo, apresentado oficialmente ao novo presidente, Vladimir Putin, nesta segunda-feira (21/05). O novo primeiro-ministro, Dimitri Medvedev, que somente há duas semanas trocou de cargo com Vladimir Putin, vê a situação de forma diferente. Segundo ele, três quartos de seu novo gabinete seriam compostos de novos nomes. De fato, no novo governo, há muitos nomes pouco conhecidos. Mas os postos-chave continuam a ser ocupados por ministros do governo anterior, liderado por Putin. Os ministros do Exterior, Defesa, Justiça e Finanças são os mesmos. Dos siloviks como são chamados os poderosos no governo que têm como tarefa garantir o monopólio de poder das elites na Rússia somente o ministro do Interior foi substituído. Poucas surpresas "Os postos-chave no novo governo estão ou em mãos das mesmas pessoas ou de pessoas que darão continuidade à atual política", declarou à Deutsche Welle o ex-premiê russo Mikhail Kasyanov, hoje político da oposição. "As opiniões de Medvedev continuam a desempenhar um papel menor, quando se trata de decisões sobre questões importantes", disse Kasyanov. O político de oposição afirmou que Putin continua a ser o governante único da Rússia. Eberhard Schneider, do Centro União Europeia-Rússia, em Bruxelas, só vê uma surpresa positiva no novo gabinete: A nomeação do economista Arkady Dvorkovich como vice-primeiro-ministro. "Dvorkovich é um jovem político, um economista brilhante que pensa de forma muito liberal e progressista", disse Schneider. Não há lugar para oposição O que falta totalmente no novo governo são os representantes da oposição. Antes da eleição presidencial em março de 2012 e no contexto das manifestações por mais democracia, houve muita especulação sobre se Putin iria convidar um ou outro membro da oposição para o governo, após a vitória. Poucos meses atrás, ele próprio não descartava que representantes de partidos da oposição, como o partido Yabloko ou o Causa Justa, pudessem se tornar funcionários do governo. O politólogo moscovita Stanislav Radkevitch estima que esse não foi o caso. "Parece-me que tal governo teria êxito se lá houvesse ao menos representantes da oposição moderada", disse, explicando que isso seria ainda mais importante diante de uma possível nova crise econômica. Putin deu a entender indiretamente que o novo governo estaria esperando uma nova crise, e que teria de impulsionar o desenvolvimento da Rússia numa situação global de incerteza econômica. Transparência através de um novo cargo? Os peritos avaliam a nomeação de Mikhail Abysov como uma tentativa de informar melhor sobre o trabalho do governo, convencendo também dessa forma talvez a opinião pública crítica na Rússia. Ele vai dirigir um recém-criado "Ministério de Contatos para um Governo Aberto", que deve tornar o trabalho do governo "mais transparente" para o público. "Eu acho que é uma decisão sensata", disse o especialista em política de Moscou Dimitri Orlov: "Acredito que nas relações entre governo e sociedade será criado agora um mecanismo de feedback". Somente um governo temporário? Mesmo antes da apresentação do novo governo, houve muita especulação em Moscou sobre quanto tempo este poderá se manter no poder. Agora, os céticos receberam ainda mais apoio. O ex-assessor do Kremlin Gleb Pavlovsky falou em entrevista à agência de notícias Interfax sobre um gabinete "muito temporário" sob a liderança de Medvedev. Este "não é um governo de mudança", mas sim um governo que está aí apenas para preservar o status quo, disse o politólogo. Também Eberhard Schneider, do Centro UE-Rússia em Bruxelas, vê a situação da mesma forma. "Desconfio que o atual governo não vá durar muito, e Medvedev também não deverá permanecer como chefe de governo." Ele estima que o novo primeiro-ministro e sua equipe poderão renunciar já no início de 2013. Talvez Medvedev vá substituir o presidente do Tribunal Constitucional russo, que até então deverá ter se aposentado. O ex-professor universitário Medvedev sugerira anteriormente que ainda considera muito atraente uma carreira como jurista. Autores: Roman Goncharenko / Nikita Jolkver (ca) Revisão: Augusto Valente

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