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AFP - Ratko Mladic começa a ser julgado por genocídio na Bósnia

Ratko Mladic, que alega inocência e pode ser condenado à prisão perpétua, deverá responder em particular pelo massacre de Srebrenica, em julho de 1995

10:24 | 16/05/2012

Haia, 16 Mai 2012 (AFP) - O aguardado julgamento contra o ex-chefe militar dos sérvios da Bósnia, Ratko Mladic, acusado fundamentalmente pelo massacre de Srebrenica em 1995, começou nesta quarta-feira no Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia (TPII) de Haia.


"Mladic assumiu a autoria da limpeza étnica da Bósnia", declarou Dermot Groome, representante da promotoria, na abertura do processo contra o ex-militar de 70 anos.


"A acusação apresentará elementos de prova que demonstrarão, além de qualquer dúvida razoável, a mão do general Mladic em cada um de seus crimes", afirmou Groome.


Detido em 26 de maio de 2011 na Sérvia depois de ter sido um foragido internacional durante 16 anos, Ratko Mladic é acusado de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes cometidos por suas tropas durante a guerra da Bósnia, que deixou 100.000 mortos e 2,2 milhões de deslocados durante 1992 e 1995.


Sentado atrás de seu advogado, à direita dos juízes, o acusado, vestido com terno cinza, aplaudiu brevemente quando os juízes entraram na sala de audiência e não fez uso da palavra.


A apresentação da promotoria prosseguirá até quinta-feira. O julgamento continuará em 29 de maio com o interrogatório da primeira testemunha de acusação. A promotoria acredita que o processo pode demorar três anos.


O ex-general recebeu as mesmas acusações que seu alter ego político, Radovan Karadzic, de 66 anos, julgado em Haia desde outubro de 2009.


Segundo a acusação, os dois homens foram os personagens centrais de uma "empresa criminal conjunta" que tinha como objetivo expulsar para sempre os muçulmanos e croatas da Bósnia do território reivindicado pelos sérvios na Bósnia-Herzegovina.


Dermot Groome descreveu como a situação ficara mais instável pouco tempo antes do início da guerra da Bósnia e como os temores da população foram reavivados pela retórica de políticos como Radovan Karadzic.


"Mladic decidiu limpar etnicamente o território, deslocar os muçulmanos e todos os não sérvios de suas casas e de suas terras", declarou Groome.


Com a ajuda de vários mapas da Bósnia-Herzegovina de antes e depois da guerra, Groome descreveu como várias cidades de maioria muçulmana se tornaram localidades sérvias depois da 'depuração'.


Ratko Mladic, que alega inocência e pode ser condenado à prisão perpétua, deverá responder em particular pelo massacre de Srebrenica, em julho de 1995, no qual as forças sérvias da Bósnia mataram 8.000 muçulmanos.


Vinte mães e viúvas das vítimas de Srebrenica viajaram a Haia e se reuniram diante da sede do TPII pouco antes do início da audiência. Elas chamaram Mladic de "açougueiro".


Algumas delas entraram na galeria reservada ao público para assistir à audiência.
Ratko Mladic, que tentou evitar até o fim o comparecimento ao TPII, também é julgado por seu papel no cerco de Sarajevo, durante o qual morreram 10.000 civis, e pela tomada como reféns de 200 soldados e observadores da ONU em 1995.


"Sarajevo era um modelo de diversidade, uma cidade cosmopolita. Tentaram destruir tudo, dividir a cidade em duas", disse Groome.


O ex-militar, que foi vítima de três derrames, em 1996, 2008 e fevereiro de 2011, tem o lado direito do corpo paralisado, segundo o advogado. Durante a preparação do julgamento, ele reclamou com frequência de problemas de saúde.

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