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Turquia aguarda há 25 anos na fila para integração à UE

08:40 | 14/04/2012
País islâmico na fronteira entre Oriente e Ocidente tem poucos aliados declarados à intenção de tornar-se membro do bloco e mostra-se farto de bater à porta da Europa. Enquanto isso, cresce a autoconfiança nacional. Quem atravessa uma das duas pontes sobre o Rio Bósforo em Istambul, em direção ao leste, depara-se, na outra margem, com um letreiro: "Bem-vindo à Ásia". A mensagem contém toda a problemática de uma filiação da Turquia à União Europeia (UE). Ela gira em torno da seguinte questão: um país muçulmano que, do ponto de vista geográfico, pertence predominantemente à Ásia, pode ser parte da Europa? A pergunta já tem resposta há muito tempo, pelo menos para a Turquia. Em 14 de abril de 1987, o país apresentou seu pedido de ingresso na Comunidade Europeia, a antecessora da UE. Desde então, passaram-se 25 anos sem que se registrassem progressos significativos. Em 1999, o país recebeu o status oficial de candidato, e, desde 2005, estão em curso negociações formais para sua filiação. Essas conversas, contudo, são estabelcidas "sem definição de resultados", de forma que é impossível prever uma data concreta para o ingresso no bloco. Além dos limites da UE Algumas nações da UE, como a Alemanha e a França, continuam tendo reservas contra a adesão da Turquia ao bloco e puxam o freio das negociações, de forma mais ou menos explícita. O deputado alemão Elmar Brok, do Parlamento Europeu, por exemplo, é da opinião de que nem o país nem a UE preenchem os pré-requisitos para que a Turquia se torne um membro de pleno direito. "Creio que a União Europeia, como ela é hoje, não comportaria um país tão grande quanto a Turquia, isso extrapolaria os limites da UE", declara o democrata-cristão, acrescentando que, até hoje, Ancara tampouco cumpriu as exigências para uma filiação. O potencial de conflito é especialmente acentuado no tocante à proteção às minorias, à liberdade religiosa, à equiparação dos direitos das mulheres e à questão do Chipre. Sobretudo os conflitos em torno dessa ilha no Mar Mediterrâneo causaram a estagnação das negociações de ingresso desde 2006. Ancara não reconhece o Estado cipriota, que é membro da UE. Além disso, tropas turcas ocupam o norte do Chipre. Sinal para o Islã Outro entrave é o fato de parte da UE considerar que a Turquia não pertence à Europa, nem geográfica nem culturalmente, e que, no caso de seu ingresso, ela se tornaria um fardo para a comunidade. Os defensores da filiação turca, em contrapartida, destacam a relevância geoestratégica do país. Segundo eles, o peso da economia europeia no mundo diminuiu, e, só com a ampliação, a UE preservará seu poder e influência. Um outro argumento é que a integração da Turquia seria um sinal positivo tanto para os turcos que vivem na UE quanto para outros países islâmicos. Desta forma, a Europa contribuiria para a redução das tensões entre os mundos ocidental e islâmico. O comissário europeu para Ampliação e Política de Vizinhança, tefan Füle, mantém a convicção de que a Turquia é um país importante para a UE no setor energético, por exemplo. Além disso, "as negociações de ingresso são o melhor instrumento de que dispomos para ajudar a Turquia a se modernizar", argumenta. "Amiga estranha da Europa" No momento, as frentes estão endurecidas, e as negociações, estagnadas. O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoan, acusa a UE cada vez mais abertamente de uma "política de protelação". Enquanto isso, Bruxelas reage desconcertada ao tom agressivo de Ancara, insistindo na continuação dos esforços de democratização. "Há frustração de ambos os lados", declarou o comissário Füle ao ser indagado sobre as dissonâncias turco-europeias. O jornal alemão Frankfurter Rundschau intitulou seu artigo sobre as relações entre a Turquia e a UE "A amiga estranha da Europa". Agora, Ancara demonstra estar farta de bater à porta do continente. Erdoan ressalta insistentemente que ao contrário da UE, hoje abalada por uma série de crises seu país experimenta enorme impulso econômico e não depende da Europa. E, assim, o governo Erdoan ganha autoconfiança, enquanto uma adesão à UE perde atratividade. O ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, já tentou várias vezes amainar o debate cada vez mais emocional. Para o político, trata-se de cuidar para que a Turquia se sinta tratada de forma justa e respeitosa e que "saiba que a Europa também se mantém firme no processo sobre o qual acordamos, mesmo que nenhum de nós saiba como será o resultado desse processo", apela o chefe da diplomacia alemã. Clube de cristãos Reinhard Bütikofer, deputado verde alemão no Parlamento Europeu, é da opinião de que as discussões não envolvem apenas critérios políticos ou econômicos. Por trás das ressalvas, ele vê também preconceitos culturais contra a Turquia e falta de tolerância por parte dos europeus. "Que imagem fazemos da identidade da Europa? Se a Europa for um clube de cristãos, os turcos ficam de fora. Se a Europa estiver disposta a levar a sério a história do islamismo no continente, então, temos que considerar seriamente a Turquia como candidata." Porém, partidários declarados de uma filiação plena da Turquia à UE são raros no Parlamento Europeu apesar de todos os comprometimentos oficiais de Bruxelas. Para uma arrancada nas negociações de adesão, faltam vozes de peso. Tanto a chanceler federal alemã, Angela Merkel, quanto outros chefes de governo mostram-se reservados ao se pronunciar sobre a Turquia. O ex-premiê alemão Gerhard Schröder é um dos únicos a se bater pela filiação à UE. "Sem a Turquia, a UE afunda na mediocridade", declarou num artigo ao site Welt Online. O político social-democrata aponta para o vertiginoso crescimento do país e prediz que, em 20 anos, a Turquia será a quarta ou quinta maior economia do continente. E aí não haverá como ignorá-la. Mas no momento, tudo não passa de palavras. E há um bom tempo a voz de Schröder deixou de ter peso entre os poderosos da UE. Autoria: Ralf Bosen (av) Revisão: Luisa Frey

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