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Manifestantes vão às ruas no Barein contra GP de Fórmula 1

08:52 | 20/04/2012
Corrida é ferramenta de marketing para o regime, que tenta encobrir os protestos por reformas no pequeno Estado do Golfo Pérsico, afirmam os manifestantes. País de maioria xiita é governado por uma família sunita. Em 2011, os protestos contra o governo do Barein levaram ao cancelamento do GP de Fórmula 1 por motivos de segurança. Este ano os pilotos estão de volta ao país e, ao menos se depender da vontade dos organizadores, vão disputar o Grande Prêmio do Barein apesar dos protestos. Também neste ano milhares de manifestantes, a maioria deles xiita, estão nas ruas para protestar contra o espetáculo da Fórmula 1, planejado para este final de semana. A corrida traz um pouco de brilho para a imagem do pequeno Estado do Golfo Pérsico, concordam os manifestantes, mas num momento inadequado. O Grande Prêmio do Barein não combina com a violência praticada pelo governo diariamente, diz o ativista de direitos humanos Nebeel Rajab. Somente nos últimos dias, mais de cem manifestantes foram presos no país. Devido a ações como essa, o regime se isolou internacionalmente, argumenta o ativista, e o governo tenta encobrir a situação por meio da corrida de Fórmula 1. "O Grande Prêmio do Barein serve como uma ferramenta de marketing para o governo", afirma Rajab. "Por isso, os organizadores não deveriam estender a mão aos ditadores", completa. Além disso, em prédios utilizados pelas equipes foram praticadas torturas no ano passado. "Por tudo isso, a corrida de Fórmula 1 não deveria acontecer no Barein." Violência contra os manifestantes As denúncias do ativista são apoiadas por um relatório da Anistia Internacional sobre a situação política no Barein, publicado nesta semana. "A crise de direitos humanos está longe do fim no país", diz Renina Spöttl, coordenadora da organização no Bahrein. "O governo chega a afirmar que tudo está em ordem, que o regime é estável e seguro. Mas a repressão por parte do governo aos opositores, às manifestações pacíficas e aos críticos do poder federal continua. Ainda existe uma violência extrema contra os manifestantes", diz Spöttl. Segundo informações da Anistia Internacional, cinco pessoas morreram em sessões de tortura. Centenas de ativistas são mantidos na prisão. "Eles receberam penas altas no ano passado e tiveram um julgamento completamente injusto por um tribunal militar", comenta. O regime trata de forma especialmente drástica os opositores políticos, como o ativista Abdulhadi al-Khawaja. Ele foi preso no começo do ano passado e posteriormente condenado à prisão perpétua. Desde fevereiro último, Abdulhadi al-Khawaja faz greve de fome. Xiitas exigem os mesmo direitos Casos como esse levam as pessoas para as ruas, diz Rajab. Dezenas de milhares de pessoas protestam atualmente contra o governo, a maioria deles xiitas, apesar de haver também alguns sunitas, diz o ativista. Os xiitas correspondem a 60% da população do Barein, formada por 550 mil habitantes. Mas o governo, assim como outros órgãos nacionais, é comandando por sunitas. A maioria deles pertence à família ou ao círculo de convívio da família Al-Khalifa, originária da Arábia Saudita, e que manda no país há mais de 200 anos. Durante o domínio da dinastia, os xiitas perderam força econômica e política e, dessa maneira, foram empurrados para as margens do poder, explica a especialista em islamismo Katja Niethammer, de Hamburgo. Como os xiitas são raramente admitidos em funções públicas, a taxa de desemprego entre essa etnia no Barein é alta. "E quando se viaja pelo país, é possível dizer se um bairro é xiita ou sunita pelo estado das ruas, das casas, das escolas. São realmente dois mundos", diz Niethammer. Isolamento interno e externo É por isso que o conflito atual é, principalmente, de origem política, diz Rajab. "O governo do Barein joga com a questão religiosa para ganhar mais apoiadores entre os sunitas." Mas os manifestantes estão indo às ruas por exigências políticas, argumenta. "Para eles, trata-se democracia, justiça, igualdade e liberdade. Os manifestantes exigem um parlamento com poder e um governo eleito. O atual primeiro-ministro está no poder há 42 anos." Há poucos indícios de que a situação vá melhorar no curto prazo. Ações generosas por parte do governo, como deixar de cobrar a conta de telefone por um ano, não são suficientes, diz Niethammer. Seria mais sensato equiparar o padrão de vida dos xiitas ao dos sunitas. "Assim uma grande parte dos jovens xiitas não teria mais motivo para protestar", completa. Por enquanto, não parece que o governo esteja disposto a fazer maiores concessões. Ao contrário: o regime se isola cada vez mais, também no plano externo. Observadores não são bem-vindos O trabalho de jornalistas e organizações de direitos humanos se torna cada vez mais difícil. Essa também é a impressão da Anistia Internacional, como diz Regina Spöttl. Quem deseja ver com os próprios olhos o que acontece no Barein terá que enfrentar uma grande burocracia. "Por isso que a última missão da Anistia Internacional foi cancelada em cima da hora." Assim os manifestantes são, em grande parte, deixados à própria sorte uma situação que está associada a riscos consideráveis. Os opositores do regime não dispõem de qualquer proteção, diz Rajab. "Mas temos que encarar essa situação, do contrário não haverá mudanças no Barein. Nós precisamos nos sacrificar", afirma. Autor: Kersten Knipp (np) Revisão: Alexandre Schossler

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