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AFP - Julgamento do assassino que traumatizou a Noruega começará na segunda-feira

09:42 | 15/04/2012
OSLO, 15 Abr 2012 (AFP) - Anders Behring Breivik comparecerá diante da justiça da Noruega a partir da próxima segunda-feira para responder por atos de terrorismo, após nove meses do assassinato de 77 pessoas, um massacre que traumatizou a tranquila nação escandinava.

Não resta dúvidas quanto a sua culpa, a questão principal gira em torno de sua saúde mental e, portanto, do seu destino: hospital psiquiátrico ou prisão.

Em 22 de julho de 2011, Breivik matou inicialmente oito pessoas ao detonar uma bomba na entrada do edifício que abriga a sede do primeiro-ministro, ausente naquele momento.

Em seguida, disfarçado de policial, metralhou friamente por mais de uma hora jovens militantes social-democratas que estavam reunidos em um acampamento de verão na ilha de Utoeya, próxima de Oslo. O tiroteio fez outras 69 vítimas, a maioria adolescentes que ficaram encurralados em um lago gelado.

Nunca um tiroteio perpetrado por um homem havia provocado tantas mortes, segundo Jack Levin e James Alan Fox, autores de vários livros sobre assassinos em massa.

"Houve outros massacres mais graves e com outros tipos de armas, mas não com uma arma de fogo", explicou à AFP Jack Levin, professor de criminologia da Universidade Northeastern, em Boston.

"Os terroristas geralmente visam um número máximo de vítimas e, desta forma, utilizam explosivos", escreveu em um e-mail.

Breivik alegou na época ser um soldado na guerra contra a "invasão muçulmana" e o multiculturalismo na Europa. Agora, aos 33 anos, descreveu suas ações como "terríveis, mas necessárias", e justificou-se com "um ataque preventivo contra os traidores da pátria".

Em uma inversão incomum de papéis, a defesa do acusado procurará assegurar que seu cliente seja responsabilizado criminalmente, enquanto o Ministério Público afirma estar pronto para reconhecer seu desequilíbrio mental com base em um relatório psiquiátrico que o declara psicótico.

Caso os advogados obtenham sucesso, provavelmente Breivik será levado a uma detenção de segurança, que mantém uma pessoa atrás das grades enquanto esta for considerada perigosa.

O extremista acredita que um hospital psiquiátrico seria "pior que a morte" e quer ser reconhecido mentalmente são para não invalidar o manifesto ideológico distribuído por ele no dia dos ataques e que tinham a intenção de chamar a atenção para a islamofobia.

Para a defesa, não há dúvida: o acusado voltará a ser um homem livre algum dia. "A pena perpétua não existe na Noruega. Em um dado momento, ele estará de volta na sociedade, não em um futuro próximo, mas daqui muitos anos", explicou um de seus advogados, Geir Lippestad.

Se, no entanto, a irresponsabilidade penal for mantida, Breivik deverá ser submetido a um tratamento psiquiátrico em um hospital fechado, provavelmente pelo resto da vida.

No ano passado, dois experientes psiquiatras concluíram que o acusado sofria de "esquizofrenia paranóide" e, portanto, não poderia ser condenado à prisão.

Diante da comoção provocada por esta conclusão, o Tribunal de Oslo ordenou uma nova perícia, cujos resultados foram divulgados em 10 de abril passado.

O segundo painel de psiquiatras concluiu que o autor dos ataques não sofre de psicose e, por isso, é penalmente responsável.

"Nós concluímos que o acusado não era psicótico no momento dos fatos", declarou o psiquiatra Agnar Aspaas durante uma coletiva de imprensa realizada após a entrega do relatório ao Tribunal.

Caberá aos juízes a decisão sobre a responsabilidade criminal e seu veredicto, esperado para julho.

Seja em uma prisão ou em uma instituição psiquiátrica, a promotoria espera que o assassino nunca recupere a liberdade.

"Seria difícil vê-lo caminhar livre pelas ruas daqui a poucos anos", disse à AFP Svein Holden, um dos promotores designados para o caso.

O massacre chocou profundamente a Noruega. Provocou comoventes cenas de unidade nacional e desencadeou um amplo debate sobre o delicado equilíbrio entre o liberalismo e a segurança.

Perante o horror, o primeiro-ministro social-democrata Jens Stoltenberg prometeu "mais democracia, mais abertura e mais humanidade, mas sem ingenuidade".

Pressionado por uma opinião pública chocada, as autoridades sentiram-se obrigadas a pedir desculpas pela lentidão da prisão.

Nas próximas semanas, centenas de jornalistas de 210 redações irão acompanhar o julgamento em Oslo.

"Tanto pela gravidade dos fatos quanto pela logística, é o julgamento mais importante que já tivemos de organizar", disse o presidente do Tribunal de Oslo, Geir Engebretsen.

Quanto aos parentes das vítimas, só uma coisa é esperada: que a justiça seja feita.

"Queremos um julgamento limpo, sério e digno para que o culpado seja condenado e que seja esclarecido o que aconteceu em 22 de julho", afirmou à AFP Trond Blattmann, presidente do grupo de apoio às famílias, que perdeu uma filha na ilha de Utoeya.

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