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Terrorismo é tema principal de cúpula sobre segurança nuclear

13:13 | 25/03/2012
Chefes de governo e Estado de mais de 50 países reúnem-se em Seul para tratar de questões ligadas à segurança nuclear, com enfoque na proteção contra ataques terroristas com substâncias atômicas. O presidente norte-americano, Barack Obama, é considerado o mentor dos esforços internacionais em prol de maior segurança nucelar. Obama declarou já no início de seu mandato que o assunto seria uma prioridade de seu governo. "Duas décadas após o fim da Guerra Fria, o risco de uma guerra atômica entre dois países diminuiu, mas o perigo de um ataque nuclear aumentou", disse o presidente aos chefes de governo e Estado presentes na primeira Cúpula para Segurança Nuclear, realizada em Washington em abril de 2010. Nestas segunda e terça-feiras (26 e 27/03), acontece a segunda conferência do gênero, na capital sul-coreana Seul. Maior consciência sobre o perigo Um problema enfrentado é o mero montante de material nuclear no mundo: as reservas de plutônio para fins civis e militares são avaliadas em mais de 200 toneladas. Um volume teoricamente suficiente para construir 10 mil bombas atômicas. Além disso, na indústria nuclear gasta-se aproximadamente quatro toneladas de urânio enriquecido por ano. Em alguns países, parte destas substâncias não são suficientemente vigiadas e mantidas em segurança. Além do fato de que o material encontra-se disseminado em dezenas de países. Consta que organizações terroristas como a Al Qaeda já tentaram diversas vezes obter material atômico. O perigo do terrorismo nuclear foi, durante longo tempo, uma das ameaças mais subestimadas para a segurança global. "Esta cúpula nuclear pode contribuir para acirar mais a consciência sobre o problema", diz Annette Schaper, da Fundação para a Pesquisa sobre Paz e Conflitos, sediada no estado de Hessen, na Alemanha. "Além disso, precisamos desenvolver padrões internacionais de conduta frente a materiais nucleares, que sejam atrelados a determinadas obrigatoriedades jurídicas", completa a especialista. Falta rastreamento global Os países participantes do último encontro em Washington em 2010, aceitaram voluntariamente medidas mais acirradas de controle. Alguns deles começaram recentemente a reprocessar o urânio enriquecido. Outros tomaram medidas visando limitar o perigo de disseminação do mesmo. Nos últimos oito anos, foram transportadas mais de duas toneladas de urânio enriquecido dos reatores de diversos países do mundo de volta para os EUA e para a Rússia. A Ucrânia, por exemplo, devolveu todo seu arsenal restante para a Rússia. No entanto, até para os especialistas é difícil ter uma ideia geral do volume do material em todo o mundo. "Estatísticas globais acessíveis sobre reservas de urânio enriquecido, bem como sobre a redução das mesmas, continuam sendo uma raridade", diz Oliver Thränert, especialista em armamentos do Instituto Alemão de Política Internacional e de Segurança. Irã e Coreia do Norte: motivo de preocupação Isso tem também a ver com os "países problemáticos" Coreia do Norte e Irã, que não participaram da primeira cúpula sobre a segurança nuclear em Washington, nem estão presentes nesta de Seul. A Coreia do Norte deixou oficialmente o Tratado de Não Disseminação Nuclear e encerrou sua participação como membro da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Há anos, a comunidade internacional tenta, em vão, fazer com que o país retorne ao regime internacional de controle. Pyongyang vê a atual cúpula em sua vizinhança imediata como uma ameaça. Em fins de fevereiro último, o jornal estatal Roding Sinmun praguejou que o encontro seria apenas uma forma "de legitimar a guerra atômica contra a Coreia do Norte". Alheio a isso, o governo norte-coreano anunciou uma moratória provisória no enriquecimento de urânio, convidando neste ínterim os inspetors da AIEA para retomarem o controle nas usinas do país. No caso do Irã, a situação é diferente. A AIEA delineou uma linha aleatória de divisão entre urânio alta e fracamente enriquecido, fixada nos 20% de enriquecimento. "Tudo indica que o Irã está pouco abaixo desta linha", diz Oliver Thränert. Segundo ele, consta que o país enriquece o urânio até o nível dos 19,75%. Uma diferença mínima, que gera preocupação dos países ocidentais com relação ao programa nuclear iraniano. Tráfico de substâncias nucleares: problema continua A mais conhecida e por longo tempo mais perigosa rede de proliferação de material nuclear desenvolveu-se em torno de Abdul Q. Khan, considerado o pai da bomba atômica paquistanesa. A rede forneceu know how e material para o enriquecimento de urânio, nos anos 1990, a países como o Irã, a Líbia e a Coreia do Norte, bem como possivelmente também a instituições ou organizações não estatais. "Nem os especialistas sabem até hoje ao certo se esta rede, com muitas ramificações, encerrou de fato suas atividades", afirma Thränert à DW. Além disso, o Paquistão produz material nuclear em grande estilo para seu programa de armas atômicas, tendo encomendado mais reatores da China necessários também na fabricação de plutônio próprio para armas nucleares. "O Paquistão coopera, contudo, com a AIEA no que diz respeito à segurança em usinas nucleares para fins civis", sublinha Thränert a respeito das preocupações com o país. Rússia e EUA à frente A Rússia encerrou em abril de 2010 as atividades de seu último reator usado na produção de plutônio. Mas mesmo assim restam dúvidas se, em meio às turbulências durante a derrocada da União Soviética, não teria sido desviado algum material nuclear. É possível que cientistas nucleares aposentados dos tempos soviéticos tenham vendido informações a outros países ou a organismos não estatais. Nessas alturas, Rússia e EUA selaram um acordo para a destruição de respectivamente 34 toneladas de plutônio próprio para armas nucleares. O acordo deve entrar em vigor no ano de 2018. Tratados deste tipo são até hoje raros no cenário internacional. "A conferência só pode aprovar planos de ação, mas a implementação dos mesmos é um ato soberano de cada país", explica o especialista Thränert. O ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, participa da cúpula de Seul em nome do governo alemão. Berlim empenha-se em prol de uma política de prevenção, de uma rejeição decisiva das ameaças de terrorismo nuclear e da repressão do tráfico de substância atômicas. Seul não será certamente a última conferência sobre segurança nuclear, pois apesar das várias convenções para proteção contra material atômico, não há, até hoje, nenhum acordo internacional de vigência global para o setor. Autor: Daniel Scheschkewitz (sv)

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