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Ex-combatentes argentinos querem identificar os túmulos nas Malvinas

15:18 | 27/03/2012

Darwin, ILHAS MALVINAS, 27 Mar 2012 (AFP) - Dos 238 túmulos de soldados argentinos no cemitério de Darwin, nas Malvinas, ainda há 123 sem nome, depois de quase 30 anos do conflito entre a Argentina e o Reino Unido, e os companheiros de armas lutam, agora, por sua identificação.

"A perda de identidade é o pior que poderia acontecer a uma pessoa", afirmou à AFP Ernesto Alonso, da Comissão de Ex-Combatentes das Ilhas Malvinas em La Plata, Argentina.

Alonso retornou três vezes às ilhas, depois da guerra, e disse que ver tantas sepulturas com a placa "Soldado Argentino Só Conhecido por Deus", em Darwin, levou-o, em 2011, junto com seus companheiros, a iniciar ações judiciais.

"Isto faz parte de um processo que deu continuidade à posição da ditadura militar (1976-1983, até 30.000 desaparecidos, segundo organizações de direitos humanos). Nunca os militares quiseram fazer investigações para identificar muitos de nossos companheiros", explicou.

O cemitério de Darwin, a 80 km a oeste de Puerto Argentino contrasta com o britânico, muito menor, com apenas 14 túmulos e situado a alguns quilômetros mais ao norte, em San Carlos, onde todos os falecidos estão identificados.

Graham Didlick, um guia de turismo de Darwin, explicou que "o conflito nas Malvinas foi o primeiro em que o governo britânico permitiu aos familiares retirar os corpos se assim o desejassem". No total, morreram 255 britânicos na guerra.

"Entre as lápides de pedra destaca-se a do paraquedista M. Holman-Smith, morto aos 19 anos, numa guerra de 74 dias", disse.

No cemitério argentino, as cruzes de madeira brancas são pintadas uma vez por ano, tarefa da qual se incumbe o cabo Sebastián Socodo, 32 anos, residente nas Malvinas desde 2001, quando fugiu da crise financeira e foi viver em Puerto Argentino, com a ajuda de uma cunhada que morava ali.

"O pior é lidar com o clima porque é uma área muito exposta. Saio de Puerto Argentino com sol e chego a Darwin onde sempre está chovendo", disse ele à AFP.
As sepulturas são adornadas com rosários, crucifixos, cartas deixadas pelos familiares e flores, sempre fustigadas pelo vento gélido que varre a colina com vista para uma cadeia montanhosa denominada "Wickham Heights".

Entre os túmulos há uma carta enviada por Susana a seu irmão Alberto Chávez no começo de março, onde diz "que não passa um dia sem pensar nele".

Mas Susana pôde, ao menos, pedir a alguém que deixe essa carta no túmulo de seu irmão. Dezenas de familiares não podem fazê-lo e ninguém sabe, atualmente, quem está nessas 123 sepulturas, de que província argentina provém, como foi sua infância ou quanto sofreu.

Tudo piora, segundo Alonso, porque nem se pode estar seguro sobre os identificados.

"Ali há uma cruz com o nome de Dante Pereira, mas ninguém o viu morrer e ninguém se lembra de tê-lo enterrado".

A 'Comisión de Familiares de Caídos en Malvinas', que emprega Socodo construiu o monumento atrás das cruzes, onde estão os nomes dos 649 argentinos mortos na guerra das Malvinas, e apoia a demanda judicial, mas com reservas.

César Trejo, integrante da Comissão, disse em Buenos Aires que antes de qualquer medida é preciso "consultar todos os familiares, porque há famílias que não querem a identificação porque sabem que seus seres queridos estão sepultados em Darwin".

Trejo pediu que não se transforme tudo num "festival de ossos", não descartando a possibilidade de ser uma "tentativa dos britânicos para remover os restos dos soldados mortos para trasladá-los ao continente".

Reconheceu que alguns familiares temem que os corpos sejam exumados e depois repatriados, embora "não tenham que ser trasladados, porque estão na própria pátria".

Socodo preferiu não falar sobre o assunto: "é uma pergunta para os pais dos falecidos, não cabe a mim opinar porque não tenho familiares enterrados nas Malvinas".

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