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Em Berlim, a nostalgia da extinta República Democrática Alemã inspira os restaurantes

16:11 | 09/03/2012

BERLIM, 9 Mar 2012 (AFP) - Tomados pela nostalgia, mais de 20 anos após a queda do Muro, os frequentadores de restaurantes berlinenses redescobrem pratos com gosto da extinta Alemanha Oriental (República Democrática Alemã, RDA).

Lugar emblemático do que foi a capital alemã-oriental, o restaurante panorâmico "Fernsehturm" (torre de televisão), o mais alto prédio de Berlim (365m), decidiu investir em sua identidade culinária da época comunista. "Pedimos aos nossos cozinheiros que modernizassem os pratos típicos da RDA", explicou a gerente da casa, Christina Aue.

Outros estabelecimentos, como l'Osseria, no bairro periférico de Weissensee, ou o Domklause, restaurante do museu da RDA, no centro da cidade, atraem há longo tempo berlinenses e turistas em busca de uma experiência pitoresca.

Entre as iguarias do menu estão pratos como o 'jagdwurst' - uma espécie de salsicha passada na farinha de rosca com tomate e enfeitada de champignons -, e ainda 'gulash' e 'krusta' - esta última é uma versão alemã-oriental da pizza.

São pratos nascidos das dificuldades de abastecimento da época, disse Uwe Kayser, 'chef' do l'Osseria. "No oeste havia carne de vitela, mas era muito difícil de encontrar no leste. Então, utilizávamos mais as carnes de porco e aves", precisou o cozinheiro, sentado diante de um exemplar da biografia de Erich Honecker, último homem forte da RDA, Estado comunista, sob controle soviético.

O homem, tatuado da nuca aos punhos, já está há oito anos atrás do fogão. E não são apenas os pratos de sua infância dos quais sente saudade.

Nascido no Leste, Uwe Kayser tinha 14 anos quando, em 1989, foi derrubado o Muro erguido em 1961, para impedir os cidadãos do Leste voltarem à Alemanha Ocidental (RFA), democrática e capitalista.

Da RDA, ele se lembra de um Estado "mais social" que a Alemanha de hoje, onde "tínhamos pouco, mas nos bastava".

 

Atmosfera perdida

Entre as paredes cobertas de fotos e aparadores sobre os quais se acumulam um bricabraque de objetos carregados de lembranças, o 'chef' lamenta uma coisa : a música de época. "Não aguento mais", comentou com um sorriso. Atrás dele, o retrato da cantora francesa Mireille Matthieu, 'star' tanto na RDA quanto na RFA, com o olhar um pouco maroto.

No entanto, segundo o diretor do Centro de documentação da vida cotidiana na RDA, Andreas Ludwig, "nenhum chef arriscaria sua fama com a cozinha alemã-oriental, que não é verdadeiramente atraente".

Mas o sucesso destes restaurantes não é proporcionado pelos pratos, mas pelo que representam. Eva Barl¶sius, autora de uma "Sociologia do Comer", acha natural que, após um parênteses de 20 anos, assista-se ao "renascimento" de alguns hábitos alimentares.

"Em todas as culturas, assiste-se a uma invenção das tradições culinárias", explicou, com "a comunidade criando um prato de referência que se torna o símbolo de um modo de vida".

O que atrai os clientes é poder reencontrar por alguns instantes este "modo de vida", esta atmosfera desaparecida que enche a alma.

A decoração pitoresca ao estilo alemão-oriental contribui para o clima de nostalgia. Em nossos pratos, a diferença com a Alemanha Ocidental não é flagrante. "As disparidades da cozinha alemã são, principalmente, regionais; mais do que marcadas pelo Leste/Oeste", admitiu o 'chef' de cozinha do Domklause, Rene Loock.

Uma prova de que o ambiente conta mais do que a comida, Uwe Kayser confessou que faz pouco caso da origem geográfica dos produtos. No bar, por exemplo, os 'schnaps' e vinhos propostos são os mesmos que se bebe no Leste.
Mas satisfazem aos turistas que vêm procurar um pouco de exotismo no bairro. "Gastamos muito com a publicidade", admite Uwe Kayser.

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