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Apoio irrestrito de Asma al-Assad ao marido frustra expectativas na Síria

13:34 | 17/03/2012
Nascida e criada na Inglaterra, Asma al-Assad chegou a ser chamada de "Princesa Diana da Síria" por seu carisma e envolvimento em projetos sociais. Apoio incondicional ao marido, porém, frustrou expectativas no país. Desde que o governo sírio iniciou a violenta repressão contra os manifestantes, que há um ano protestam contra o regime de Bashar al-Assad, a primeira-dama do país, tem se mantido fora dos holofotes. A britânica Asma Akhras al-Assad foi vista, durante este tempo, em apenas duas ocasiões dando apoio ao marido. A primeira foi em janeiro, quando passou quase despercebida com uma boina na cabeça, agarrada a dois de seus filhos pequenos, simulando um sorriso para as câmeras enquanto Assad discursava em um comício. No fim de fevereiro, a primeira-dama síria foi vista sorrindo e cumprimentando apoiadores ao lado de Assad, enquanto a população votava no referendo sobre uma reforma constitucional. A votação foi considerada uma farsa pela oposição e rejeitada pelos países ocidentais. Ao mesmo tempo, a cidade de Homs epicentro do movimento contrário ao regime sírio, era bombardeada. Segundo estimativas da ONU, mais de 9,1 mil sírios foram mortos no país desde o início dos conflitos. No início de fevereiro, Asma enviou um e-mail ao jornal Times afirmando que "o presidente é o presidente da Síria, e não uma facção de sírios, e a primeira-dama o apoia neste papel". Na última quinta-feira, o jornal britânico Guardian publicou outro e-mail privado do casal, vazado pela oposição, com o retrato de uma mulher que gastara dezenas de milhares de dólares nos últimos oito meses com castiçais, lustres e outros artigos de luxo, enquanto seu país estava sitiado e a população enfrentava escassez de alimentos. Garota inglesa do bem? Publicamente, Asma aparece sempre como uma primeira-dama leal ao marido, o que leva muitos britânicos a pensarem: "como uma garota inglesa do bem pode ser casada com um homem cujos capangas massacram seu próprio povo?" Eles também se perguntam como ela poderia ter pedido um jogo de fondue no site Amazon ao mesmo tempo em que sangue é derramado em seu quintal. Asma Akhras al-Assad nasceu em Londres. Sua mãe é uma diplomata síria aposentada e o pai ainda um cardiologista que trocou Homs pelo Reino Unido na década de 70 para continuar seus estudos médicos. Os pais de Asma ainda moram na modesta casa onde ela cresceu, no bairro de Acton, oeste de Londres, que concentra vários imigrantes de classe média. Malik al-Abdeh, editor-chefe da Barada TV canal que transmite as atrocidades cometidas na Síria costumava brincar na infância com o irmão menor de Asma e questiona: "Por que esperar que uma garota, só por ter sido criada no Reino Unido, haja de forma diferente das mulheres que viveram a vida toda no mundo árabe?". "No fundo, ela é uma garota síria, criada ouvindo que é preciso acompanhar seu marido em todas as situações. Que isso é o que se deve fazer, independentemente de qualquer apreensão que ela possa ter". Condenar atos dos maridos Há, porém, quem acredite que Asma tenha o dever de condenar os atos do marido, especialmente por ela ter crescido sob um regime político democrático. "O que estamos vendo do regime de Assad não reflete o que Asma defendeu há 10 anos", diz Halla Diyab, produtora de documentários síria que conheceu Asma quando filmou o projeto Shabad, da ONG da primeira-dama, que financia projetos para pequenos negócios. Para a produtora, Asma deveria ter aparecido no início dos conflitos da Primavera Árabe, há um ano, pregando contra o massacre de jovens manifestantes que grafitaram palavras de ordem pró-democracia nos muros na cidade de Deraa, e assim teria conquistado o apoio de milhões de sírios. Diyab acredita que a primeira-dama teria sido um modelo para jovens e mulheres em particular. "Asma foi a primeira mulher de presidente a ir a público na Síria. Havia nela uma vitalidade, uma energia e paixão que me inspiraram quando eu menor. Eu sentia que ela tinha várias ideias criativas", conta. Casal moderno A senhora Assad era investidora dos bancos Deutsche Bank e JP Morgan em Londres, Nova York e Paris, até se casar com Bashar, em 2000, meses depois de ele assumir a prediência da Síria após a morte do pai. Hafez al-Assad ficou três décadas no poder e é lembrado como um dos ditadores mais repressivos no mundo árabe. Bashar não era o herdeiro direto. Em 1994, quando ele buscava continuar os estudos como cirurgião oftalmologista em Londres, seu irmão mais velho, Basil, morreu em um acidente de carro. Bashar então voltou a Damasco para se preparar para suceder o pai. O jovem e moderno casal era tido como próximo do ocidente e muitos os enxergavam como um símbolo de esperança para o já tão sofrido país. Asma foi apelidada como "Princesa Diana da Síria", por sua juventude, glamour e por seu envolvimento com projetos que vão desde centros para crianças a missões que tratam do patrimônio cultural. Gaio Servadio, escritora ítalo-britânica que se tornou amiga da primeira-dama ao trabalhar em um festival de arte síria, acredita que as aparições e declarações públicas de Asma são organizadas por terceiros. "Eu realmente suspeito que a ela é dito o que fazer, que a segurança dos filhos está ameaçada." Como Asma lida com o conflito entre os princípios democráticos do regime político que ela viveu quando criança e o que está acontecendo no país governado pelo marido, no entanto, continuará sendo motivo de especulação. Autora: Diana Fong, de Londres (msb) Revisão: Francis França

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