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Apesar de pouco democrático, Catar combate regimes ditatoriais no mundo árabe

11:19 | 31/03/2012
Aliado dos Estados Unidos, defensor da revolução e apoiador do islamismo o pequeno emirado tornou-se um agente de importância crescente no Oriente Médio. No entanto, muitos duvidam das intenções do pequeno emirado. Para encontrar o Catar no mapa-múndi é preciso procurar com atenção. O pequeno país localizado na Península Arábica tem a metade da área do estado de Sergipe. Política e economicamente, porém, a influência do Catar tem se tornado cada vez maior nos últimos anos. A base para isso está nas imensas reservas de gás natural do país. A receita da exploração do gás financia megaprojetos como a Copa do Mundo de 2022, a participação em grandes empreendimentos europeus e o apoio a movimentos rebeldes no mundo árabe. E ainda sobra o suficiente para os cerca de 1,7 milhão de habitantes, dos quais apenas 300 mil são cidadãos do Catar: o país tem a maior renda per capita do mundo. Apoio revolucionário Nos últimos anos o Catar tem atuado principalmente como mediador em conflitos regionais no Sudão ou no sul do Líbano. Desde o início da Primavera Árabe, entretanto, o país assumiu uma postura mais forte. No conflito líbio o Catar passou rapidamente para o lado dos opositores de Muammar Kadafi. O apoio da Liga Árabe a uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia foi dado principalmente devido à pressão do Catar e da Arábia Saudita. O Catar participou inclusive enviando aviões de combate para supervisionar a região. O pequeno país do Golfo Pérsico também foi o primeiro a reconhecer o Conselho Nacional de Transição, em Bengazi. O emirado também ajudou os rebeldes na comercialização de petróleo. Além disso, os militares catarenses treinaram e forneceram armas aos rebeldes. Uma estratégia com retorno positivo: hoje o Catar faz bons negócios com o novo governo na Líbia. No conflito sírio o país também se posicionou do lado dos opositores do regime. Em novembro de 2011 o Catar promoveu a expulsão da Síria da Liga Árabe. Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro, sheik Hamad bin Jassim bin Jaber, pediu a mobilização de tropas árabes e internacionais para encerrar o derramamento de sangue na Síria. Reequilíbrio de poder na região O aumento na influência do Catar, diz Guido Steinberg, especialista em Oriente Médio do Instituto Alemão de Relações Internacionais e de Segurança (SWP), deve-se principalmente ao enfraquecimento dos tradicionais pesos pesados na política regional. O Egito tem os próprios problemas para resolver e não é mais considerado líder tradicional. A Arábia Saudita sofre diante da falta de visão de sua velha elite. E o Iraque ainda não conseguiu se estabilizar novamente. O Catar tenta, portanto, preencher esse "vácuo de poder", diz Steinberg. A longo prazo, no entanto, falta ao país o peso político e militar para substituir os líderes regionais. Muitos observadores duvidam que o Catar apoie os movimentos revolucionários por amor à democracia. "O Catar não tem credibilidade", diz o especialista em Oriente Médio Hamadi El-Aouni, da Universidade Livre de Berlim. Afinal, o país é tudo menos democrático. O emir Hamad bin Khalifa Al Thani governa desde 1995. Na época ele tirou seu pai do trono por meio de um golpe de Estado (embora sem derramamento de sangue). O país tem apenas um Conselho Consultivo, cujos membros são nomeados pelo emir. Parlamentares ou partidos não há. "O emir não é um democrata", afirma Guido Steinberg, "com sua retórica democrática ele quer apenas ganhar o apoio do Ocidente para sua política na região." Al Thani apoiou os movimentos democráticos na Líbia, no Egito ou na Tunísia. Mas quando os insurgentes foram às ruas no vizinho próximo Barein, o emir aparentemente ficou com medo e apoiou a repressão brutal. Lucros da Primavera Árabe Ao que parece, o Catar procura se beneficiar com a Primavera Árabe. Ao mesmo tempo, o país promove as forças islâmicas da Irmandade Muçulmana. "O Catar e a Arábia Saudita trabalham pela islamização dos países árabes", diz Hamadi El-Aouni. Para Guido Steinberg, o Catar espera que que os novos governos islâmicos "sejam parceiros melhores e com ideologias mais alinhadas" do que os velhos regimes republicanos de Assad ou Mubarak. Mas essa política não gera entusiasmo por todos os lados. Representantes do Conselho de Transição líbio já reclamam que a ajuda do Catar beneficiou especialmente os islâmicos. E muitos opositores do islamismo na Líbia, Tunísia e Egito, diz Steinberg, tornaram-se inimigos do Catar. Vizinhança difícil Com sua política, o Catar também poderia transformar o Irã em inimigo. Afinal, a Síria é o principal aliado do Irã na região. "Caso o Catar venha a fornecer armas para os rebeldes sírios e o Irã precisar se empenhar mais ainda para que o regime possa se manter de pé, os conflitos serão inevitáveis", diz Steinberg. Até agora o governo do Catar tem evitado provocar o forte vizinho. O Catar divide com o Irã o maior depósito de gás natural do planeta. Ambos os países dependem de uma boa cooperação. Proteção o Catar espera da presença militar norte-americana no país. Desde 2003, está instalada na cidad de Udaid a maior base aérea regional dos Estados Unidos. Autor: Nils Naumann (ff) Revisão: Carlos Albuquerque

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