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Conferência no Vaticano sobre pedofilia é marcada por diferenças culturais

Muitos temas, como a violação de deficientes ou o tratamento das vítimas de abuso e de criminosos, foram abordados de maneira direta

14:21 | 09/02/2012
CIDADE DO VATICANO, 9 Fev 2012 (AFP) -Após quatro dias de debates sem tabus, 200 líderes da Igreja católica escutaram nesta quinta-feira, 9, uma palestra sobre as diferenças culturais na Ásia diante do escândalo dos abusos sexuais de menores.

Um centro de formação "on-line" de padres, bispos e freiras para a proteção da infância deve ser lançado hoje.

Esta reunião teve um papel, segundo vários participantes, de seminário de formação de muitos bispos, que precisam trocar experiências, sobre um assunto que ainda é tabu.

Muitos temas, como a violação de deficientes ou o tratamento das vítimas de abuso e de criminosos, foram abordados de maneira direta.

Desde maio do ano passado, bispos do mundo inteiro foram ordenados pela Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé a desenvolver, no período de um ano, dispositivos de luta contra a pedofilia, em conformidade com os requisitos de Roma e de colaborar com a justiça civil.

Este simpósio, organizado pela Universidade Jesuíta, é uma etapa para ajudar as conferências episcopais a cumprir este prazo, fornecendo diretrizes claras e informações.

O arcebispo de Manila, Luis Chito Tagle, reconheceu nesta quinta-feira que as conferências episcopais da Ásia ainda não colocaram em ação as novas disposições, que por vezes são confrontadas com dificuldades e com a não motivação de alguns bispos.

Quando são em pequeno número, por exemplo no Laos e no Camboja, simplesmente não há condições de responder de forma rápida as recomendações do Vaticano, observou.

O jornal da Santa Sé, o Osservatore Romano, ressaltou o papel do simpósio para acabar com a cultura do silêncio.

"A justiça é sinônimo de verdade. O esclarecimento dos fatos, o reconhecimento das responsabilidades e o pedido de perdão são os fundamentos de um caminho de reconciliação que a igreja precisa percorrer com determinação", comentou o jornal.

Um especialista brasileiro e o arcebispo de Manila explicaram que as diretrizes do Vaticano podem ser mal interpretadas pelos padres e fiéis.

Segundo o professor Edenio Valle, psicólogo conselheiro dos bispos brasileiros, eles "não sabem o que devem fazer" contra a pedofilia, "tolerada culturalmente".

"Nenhuma medida eficaz foi prevista pela igreja brasileira (a maior do mundo) em curto, médio ou longo prazo", explicou Valle.

O bispo Tagle observou que na Ásia em geral, uma cultura de "vergonha" impede que as vítimas e suas famílias falem sobre o abuso pedófilo.

Diante da imprensa, Tagle, nomeado no fim de 2011 arcebispo da maior diocese da Ásia explicou que uma vítima dificilmente iria expor o seu caso à justiça e procuraria de preferência a própria igreja.

Outra reação comum é a relutância: "Um pai deve entregar o seu filho?", é uma reação que se ouve entre os bispos, quando se trata de denunciar uma conduta de um padre, disse.

De acordo com Tagle, o celibato imposto aos sacerdotes da igreja católica deveria seria mais bem explicado, implicitamente reconhecendo que é um problema.

"Alguns acreditam que o celibato é apenas uma regra que uma igreja conservadora decidiu manter por causa da tradição", lamentou.

Reinhard Marx, arcebispo de Munique, admitiu que "os últimos dez anos, vários líderes da igreja passaram a considerar prioridade proteger as instituições e esconder a terrível verdade ao invés de reconhecê-la em todo o seu horror".

É precisamente a partir de Munique que deve ser gerado o centro on-line, acessível para o mundo inteiro, que o simpósio deve lançar nesta quinta-feira, incorporando os conhecimentos mais atualizados sobre as múltiplas dimensões do problema da pedofilia.

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