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AFP - Dois jornalistas ocidentais são mortos em Homs

10:59 | 22/02/2012

DAMASCO, 22 Fev 2012 (AFP) - Dois jornalistas, um francês e uma americana, foram mortos nesta quarta-feira junto com mais 13 civis sírios, em um violento ataque realizado pelo exército na cidade rebelde de Homs, para onde a comunidade internacional tenta enviar uma ajuda humanitária emergencial.

Os jornalistas mortos em Homs (centro) são a americana Mary Colvin, de cerca de 50 anos que trabalhava para o jornal britânico Sunday Times, e o francês Rémi Ochlik (28 anos), fotógrafo da agência IP3 Press, segundo as autoridades francesas.

Eles morreram durante um bombardeio ao bairro de Baba Amr, que atingiu um apartamento que funcionava como "centro de imprensa" para jornalistas clandestinos na cidade, informaram militantes sírios anti-regime, no 19º dia de bombardeios incessantes em Homs pelas forças do regime.

"Três ou quatro outros jornalistas estrangeiros também ficaram feridos", declarou o militante Omar Chaker em Baba Amr, principal alvo das tropas do regime, contactado por Skype.

O jornal francês Le Figaro informou que a francesa Edith Bouvier fazia parte dos jornalistas feridos.

Para o presidente francês Nicolas Sarkozy, a morte de dois jornalistas "mostra que já basta, o regime deve partir".

Os Estados Unidos afirmaram que a morte dos jornalistas demonstra a "brutalidade" do regime.

Desde o início da revolta popular contra o regime de Bashar al-Assad, no dia 15 de março de 2011, três jornalistas ocidentais morreram.

O francês Gilles Jacquier foi, no dia 11 de janeiro, o primeiro jornalista ocidental morto na Síria. Ele também perdeu a vida depois de ser atingido por um obus em Homs, epicentro da contestação, durante uma visita autorizada pelas autoridades.

O regime Assad, que se recusa a reconhecer o levante popular e atribui a violência a grupos terroristas apoiados por países estrangeiros, restringe a movimentação de jornalistas no país, mas vários repórteres entraram de forma clandestina na Síria.

Pelo menos 13 civis sírios taambém morreram nesta manhã em Baba Amr, informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Já são 7.600 mortos, a grande maioria civis, em 11 meses de violência.
Homs, nomeada "capital da revolução", tornou-se símbolo da repressão das forças de segurança que procuram acabar com os rebeldes bombardeando desde o dia 4 de fevereiro os vários bairros da cidade.
A situação humanitária é dramática e os pedidos de ajuda são cada vez mais urgentes. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR) pede tréguas diárias de duas horas.
"Em Homs e em outras áreas afetadas, famílias inteiras estão presas em suas casas sem poder sair para comprar pão, outros alimentos e água ou procurar cuidados médicos", disse o presidente do CICR, Jakob Kellenberger.

Até a Rússia, que não quer abandonar sua aliada síria, pronunciou-se à favor do pedido do CICR.

A França também pediu à Síria um acesso seguro para socorrer as vítimas dos bombardeios em Homs, e convocou a embaixadora da Síria em Paris.

O Exército Livre Sírio (ASL), que reúne militares dissidentes, também acolheram favoravelmente, mas o regime ainda não reagiu publicamente.

Segundo os militantes, o ALS tenta assegurar comida e refúgio aos habitantes de Baba Amr.

Mas de acordo com um deles, Omar Chaker, a missão é complicada porque "as forças do regime atiram em tudo o que se move. Não temos eletricidade e nem combustível. A situação é pior do que se pode imaginar".

Segundo o militante Hadi Abdallah, 90 mil pessoas ainda estão em Baba Amr. "Nós temos estoques de comida nos imóveis, mas muitas pessoas foram mortas ao tentar buscar comida. É quase suicida. No hospital de campanha, existem três médicos e 20 enfermeiras e pouquíssimos equipamentos médicos".

A situação pode piorar. Um novo comboio de 56 tanques e veículos de transporte de tropas se dirigia para Homs, o que pode indicar um ataque final, informou o OSDH.

Human Rights Watch (HRW), por sua vez, afirmou que as forças governamentais utilizam morteiros russos de 240 mm contra Homs, uma "arma muito poderosa".

Diante da escalada da violência, o Conselho Nacional Sírio (CNS), principal instância de oposição, pediu que a comunidade internacional crie "áreas de proteção" e pede que a Rússia convença Damasco de autorizar a passagem de comboios humanitários.

Também foi pedido aos participantes da conferência internacional sobre a Síria, prevista para acontecer na sexta-feira em Tunis, "de não impedir os países (que querem) ajudar a oposição enviando conselheiros militares, treinando (os rebeldes), fornecendo armas para se defender" se o regime não parar com a violência contra os civis.

A revolta atingiu nos últimos dias, em uma menor medida, a cidade de Alep (norte) e a capital síria, onde as tropas foram enviadas para prevenir o avanço da contestação.

 

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