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Vídeo de soldados americanos urinando em mortos suscita condenação unânime

16:25 | 12/01/2012

CABUL, 12 Jan 2012 (AFP) -Um vídeo de supostos soldados americanos urinando nos corpos de talibãs foi fortemente condenado nesta quinta-feira, 12, no Afeganistão, atiçando as tensões no momento em que os rebeldes anunciaram a continuação da Jihad (guerra santa), apesar das perspectivas de negociações de paz com Washington.

Este vídeo amador, filmado depois de uma operação no Afeganistão, mostra quatro homens vestidos com uniformes americanos se divertindo enquanto urinam sobre três corpos ensanguentados, conscientes de que estavam sendo filmados por uma outra pessoa.

Em reação à divulgação do vídeo, a secretária de Estado, Hillary Clinton, manifestou nesta quinta-feira sua "consternação" e considerou que "quem quer que tenha participado ou esteja a par (deste incidente) deverá prestar contas".

O secretário americano de Defensa, Leon Panetta, lamentou o comportamento dos quatro militares apresentados como marines (fuzileiros).

"Vi as imagens e considero o comportamento absolutamente lamentável", afirmou em um comunicado o chefe do Pentágono.

Mesmo sem a autenticidade comprovada, o vídeo provocou a ira do presidente afegão, Hamid Karzai, que se disse "profundamente chateado com esta profanação dos corpos de três afegãos por soldados americanos" e pediu ao governo americano "a punição mais severa para os culpados".

A força da Otan no Afeganistão (Isaf) denunciou um "ato desrespeitoso cometido por um pequeno grupo de indivíduos americanos, que certamente não servem mais no Afeganistão e que desonram os sacrifícios e os valores centrais de cada membro representando as cinquenta nações da coalizão".

Já os talibãs denunciaram um "ato bárbaro e selvagem". "Nos dez últimos anos, houve centenas de atos parecidos que não foram revelados", afirmou à AFP um dos seus porta-vozes, Zabiullah Mujahed.

O corpo de marines dos Estados Unidos anunciou na quarta-feira a abertura de uma investigação sobre essas imagens, que lembram o escândalo de Abu Ghraib em 2004, quando as imagens de prisioneiros iraquianos humilhados por militares americanos rodaram o mundo.

Vários casos semelhantes de supostas profanações por soldados (casos de exemplares do Alcorão jogados em latrinas, por exemplo) e a publicação por jornais ocidentais de caricaturas de Maomé causaram nos últimos anos revolta no Afeganistão, desencadeando manifestações violentas.

"Não acho que este novo problema afete as negociações anunciadas com os Estados Unidos", considerou Zabiullah Mujahed.

Nesta quinta-feira, os talibãs indicaram que "a jihad não vai parar", mas anunciando uma intensificação dos esforços políticos com a comunidade internacional para pôr fim ao conflito que assola o Afeganistão há mais de dez anos.

Os rebeldes afegãos se disseram recentemente dispostos a abrir um escritório de representação no exterior, provavelmente no Qatar, para realizar negociações com os Estados Unidos, uma iniciativa histórica do grupo.

"Estamos apenas em uma fase inicial no Qatar. Neste momento, trata-se sobretudo de uma troca de prisioneiros" com os Estados-Unidos, explicou o porta-voz dos rebeldes, que mantêm um soldado americano em seu poder há mais de dois anos e meio e impuseram como condição às negociações a libertação de seus membros mantidos presos na base americana de Guantánamo.

Essa troca parece estar longe de ser realizada, já que o governo americano exige que, para isso, os talibãs parem com a violência no Afeganistão e reconheçam o governo legítimo de Cabul.

Mas o que vem sendo constatado nos últimos anos é a manutenção de sua campanha de terror, com a intensificação dos atentados. Nesta quinta-feira, um terrorista suicida ao volante de um carro-bomba matou cinco pessoas, entre elas um governador distrital, e ferindo outros dez, sendo nove policiais, próximo a Kandahar (sul), segundo autoridades locais.

Hamid Karzai, visivelmente frustrado de ter sido descartado das negociações entre talibãs e americanos, continuou nos últimos dias a denunciar as violações dos Direitos Humanos cometidas, segundo ele, durante operações militares da Isaf, comandadas pelos americanos e que fazem seu frágil governo perder terreno para os rebeldes.

 


 

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